Camila Coelho
Estamos mais uma vez no restaurante que eu amo. Dessa vez ele me trouxe aqui apenas para curtirmos um almoço calmo, já que mais tarde teremos jogos e compartilhamento. Eu amo esses jogos!
Estou ansiosa para jogar com as meninas. Vai ser o meu primeiro jogo com elas. É a primeira vez que os meninos ficam com meninas, que eu me identifico.
Não que eu faça muita questão disso... Nunca fiz, mas eu tenho que ser realista, quando há cumplicidade tudo fica mais gostoso.
Eu nunca me senti pertencendo a lugar ou grupo nenhum.
Talvez eu tenha consciência que todos que se aproximem de mim, se aproximam com segundas intenções.
Madame só me tirou da rua porque viu uma oportunidade de lucrar com meus dotes femininos, pelo menos primeiramente foi esse o motivo. Ela investiu para depois lucrar, não que ela não tenha feito uma boa ação em me tirar das ruas... Fez e e sou grata a ela. Talvez tenha até desenvolvido sentimentos por mim depois…
As pessoas agem assim sem nem ao menos se darem conta. Somos egoístas por natureza, enquanto o outro tem algo a nos oferecer, nos esforçamos para estar por perto, quando a vantagem desaparece, nos afastamos.
E tudo bem! Quanto mais tempo levamos para aceitar isso, mais tempo sofremos com sentimentos que não nos cabem.
Não me apego a ninguém mais do que preciso. E é fácil viver assim. Quando chega a hora de cada um seguir seu caminho, seguimos, sem dramas emocionais.
Bom... Até seis meses atrás, era assim…
Quando eu me perdi em meus objetivos? Eu não sei... Eu só sei que descobri que é muito bom estar envolvido com pessoas de verdade.
Conversar, rir, fofocar... Tem sido uma experiência e tanta. Até "tocar no outro" tem sido um grande evento... Logo eu. Que nunca gostei de ser tocada.
Eu não estou conseguindo me manter distante, principalmente com Bernardo.
Olho para ele, sentado ao meu lado comendo uma lasanha. Ele está lindo hoje, de calça social bege e blusa de botões branca. Sem paletó, porque o dia hoje está quente, com os cabelos despenteados pelos dedos e completamente alheio aos meus pensamentos.
Eu me apaixonei por ele. E como não poderia? Ele era o dominador que toda submissa gostaria de ter. Atencioso, atento às minhas necessidades, mandão, prático. Cuidava de mim como ninguém e eu tentava retribuir sempre a altura. Eu sempre achei que eu era pouco para ele, porém enquanto eu estivesse ao seu lado eu daria o meu melhor. Esse era o objetivo.
A única coisa que me irritava era a sua teimosia e possessividade. As vezes ele passava dos limites. Mais quer saber? Até isso combinava com ele.
Eu viveria essa relação até o fim, porque a tempos eu não me sentia tão completa, porém eu tinha consciência de que um dia isso acabaria. Pelo que eu pude perceber Bernardo não era de ter submissas a longo prazo. E estávamos começando mais um contrato de seis meses. Quer dizer, quanto tempo ainda ele ficaria comigo?
Eu não conseguiria salvar meu coração desta vez, mas eu viveria até o último segundo com ele. Isso eu não tinha dúvidas. Saio dos meus pensamentos, quando ouço alguém me chamar.
-Boa tarde Camila. Como está?
Vejo Dominique na minha frente, com uma menina que conheço bem ao seu lado. Ela já era submissa dele na época em que fui. Minha irmã de coleira mais antiga. Não lembrava que ela tinha esse olhar afiado quando me olhava. A gente até que se dava bem.
Não falei que as pessoas agem de acordo com seus interesses? Está aí a prova…
Faz tempo que não o vejo, na verdade a última vez foi no tribunal, para ele me pagar o que devia. Continua o mesmo cara de sempre… alto, elegante, forte, negro de olhos cor de mel. Acabo respondendo no automático.
-Boa tarde Senhor, bem.
Depois que faço é que vejo o tamanho do erro que fiz. Uma submissa não deve falar com ninguém, sem antes pedir permissão ao seu dominador.
Eu esqueci completamente do Bernardo sentado ao meu lado.
Olho para ele e o mesmo está olhando para o prato e limpando a boca. Com uma cara que eu odeio ver nele. Seus olhos estão glaciais, e eu sinto esse frio na minha espinha.
Merda!
Olho para frente e Dominique continua no mesmo lugar, com um sorrisinho sarcástico na cara.
Filho da puta!!
-Tem coisas que não mudam com o tempo, não é mesmo?!?- ele fala e sai.
Na mesma hora vejo Bernardo por o guardanapo em cima da mesa e começa a se levantar. Pego no seu braço para parar ele.
-Não me toque. -fala com aquele tom de ordem que usa quando estamos jogando.
Eu tiro a mão na hora, mas não perco tempo. Preciso evitar uma tragédia.
-Não faça isso mestre. É isso que ele quer, que o senhor perca a cabeça e cause um escândalo para que nos processe. A culpa foi minha, eu me distraí ... Por favor, pense no hospital.
Ele me olha frio. E se senta novamente fazendo sinal para que o garçom venha até a nossa mesa.
-A conta…
O garçom parece aturdido. Afinal acabamos de receber os pratos. Eu nem cheguei a tocar no meu.
-Algo o desagrada Senhor? Podemos refazer seus pratos.
Ele suspira tentando se acalmar
-Não, apenas apareceu uma emergência. Preciso da conta.
-Sim Senhor!
Logo depois ele vem com a conta, Bernardo paga e se levanta dizendo:
-Vamos embora Camila, tem contas para acertar comigo.
É eu tenho…
E dessa vez vai ser punk!!!
Ele está muito puto, e eu não tiro a razão dele... Nem um pouco…
Acabou a festinha pra mim hoje...
*************
Chegamos no apartamento e até agora ele não disse uma palavra sequer.
Ele sobe as escadas e eu fico parada no meio da sala. Pego minha bolsa, ponho em cima do sofá e vou para a cozinha pegar um pouco de água e uma maçã pra comer. Era para eu estar morta de fome, mas não estou. O que aconteceu, acabou com o meu dia.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Redenção do Ogro
A história desse livro é muito massa e uma Pena que está postado a história toda...