Em um lugar desconhecido
O quarto era frio, iluminado apenas por uma lâmpada pendurada lançando sombras nas paredes de concreto. Elizabeth permanecia sentada na cadeira, os pulsos marcados pelas cordas que a prendiam. Tentava manter a calma, mas a dor e o cansaço já começavam a cobrar o preço.
Um dos homens entrou, o rosto coberto por uma máscara preta. Seus passos pesados ecoaram pelo chão de cimento. Sem dizer palavra, inclinou-se e começou a desamarrá-la.
Elizabeth o observava, atenta, o coração acelerado. O simples fato de sentir as cordas se soltando a fez respirar um pouco mais fundo, mas não ousou se mover. Sabia que qualquer reação precipitada poderia ser usada contra ela.
Antes que pudesse perguntar algo, a voz conhecida soou, ecoando pelo ambiente.
— Minha querida Elizabeth… — disse David, surgindo das sombras com aquele tom de falsa delicadeza que lhe causava repulsa. Ele trajava um terno escuro impecável, contrastando com a sujeira do lugar. Ao se aproximar era possível vê-lo mancando — Como você está se sentindo?
Elizabeth ergueu o queixo, apesar do cansaço.
— Você sabe que quando John o encontrar, ele pode acabar com você
David riu baixinho, andando em círculos ao redor dela, como um predador analisando sua presa.
— Sempre tão valente… até mesmo agora. Isso me diverte. — Ele se aproximou, inclinando o rosto próximo ao dela. — Você não tem ideia do quanto planejei esse momento. O quanto sonhei em ver John ajoelhado, sem saída, sentindo a mesma impotência que um dia eu senti.
Elizabeth manteve o olhar firme, sem desviar.
— Você nunca vai vencer. John vai me encontrar e você vai ser preso.
— Oh, eu conto com isso. — David se afastou, sorrindo friamente. — Mas até lá… quero que entenda que você não está aqui por acaso. Cada detalhe, cada peça, foi cuidadosamente colocada. Inclusive… a próxima companhia que terá agora.
Ele estalou os dedos, e a porta de metal se abriu com um rangido.
Elizabeth virou o rosto na direção do som e, por um instante, seu coração quase parou. Lily entrou no cômodo, com expressão séria. Pela mão, trazia Mary, que parecia confusa, mas não assustada.
— Mamãe!
Mary souto a mão de Lily e correu até Elizabeth
Elizabeth se ajoelhou instintivamente, abraçando a filha com força, sentindo o calorzinho do corpo dela contra o seu. As lágrimas finalmente escaparam de seus olhos, caindo sobre os cabelos de Mary.
— Minha princesa… — sussurrou, apertando-a contra o peito. — Eles a pegaram, meu Deus não.
Mary a olhou, inocente, sem entender a gravidade da situação.
— Mamãe. Esse moço disse que era uma brincadeira…
As palavras da filha cortaram Elizabeth por dentro. Ela ergueu o olhar, e seus olhos marejados encontraram os de Lily. A incredulidade estampada em seu rosto superava até mesmo o medo.
— Lily… como pôde? — sua voz era um fio, quase um soluço. — A Mary te ama, confiou em você… nós confiamos…
Ao fundo, David aplaudiu lentamente, com um sorriso satisfeito.
— Agora sim. Que cena comovente… do jeito que eu queria.
Elizabeth manteve Mary apertada contra o peito, o corpo inteiro trêmulo, enquanto seus olhos fixavam-se em Lily. A incredulidade estampada em seu rosto era maior que o próprio medo.
— Lily… — sua voz quebrou. — Eu te recebi na minha casa, confiei em você, deixei que convivesse com meus filhos… Como pôde me trair desse jeito? A Mary é só uma criança.
As palavras atingiram Lily como facadas invisíveis. Por um instante, seus olhos vacilaram, refletindo uma sombra de arrependimento. A imagem da pequena Mary aninhada nos braços da mãe trouxe lembranças de quando ela própria buscava carinho e segurança. O peito apertou, quase como se quisesse correr e desfazer tudo.
Mas então, a voz fria de David ressoou atrás dela, como uma corrente invisível que a prendia:
— Não se deixe enganar, Elizabeth. Lily só se aproximou de vocês por causa de dinheiro
Elizabeth apertou Mary ainda mais, como se quisesse protegê-la do veneno que impregnava aquelas palavras. Seus olhos não desgrudaram de Lily, cheios de dor.
— Essa não é você… — disse, quase num sussurro. — Eu vejo nos seus olhos. Ainda existe algo bom aí dentro, mas está se deixando destruir e acabar com o que ainda tem de bom em você.
Lily desviou o olhar, incapaz de sustentar aquela acusação. Suas mãos tremiam levemente, mas ela as fechou em punho para disfarçar. David, percebendo a hesitação, pousou uma mão em seu ombro.
— Não dê ouvidos a ela. — sua voz era baixa, quase sedutora. — Você sabe o que está em jogo, Lily.
Ela respirou fundo, tentando se recompor. Quando voltou a encarar Elizabeth, sua expressão estava novamente endurecida, fria, como se tivesse erguido uma barreira.
— Eu tenho minhas razões. Você nunca entenderia.
Elizabeth sentiu as lágrimas queimarem nos olhos. Então segurou Mary pelos ombros, fazendo-a olhar diretamente para Lily.
— Então diga a ela, Lily. Diga para essa menina, que te via como uma amiga… que tudo não passou de uma mentira.
Mary piscou, confusa, o olhar indo da mãe para Lily.
— Tia Lily?…
O coração de Lily despedaçou. Por um instante, quis correr, abraçar as duas e pedir perdão. Mas a mão de David em seu ombro parecia de ferro.
— Basta, Elizabeth! — sua voz explodiu, mais alta do que pretendia, quase um grito nervoso. — Cuide da sua filha. É tudo que lhe resta agora.
David sorriu, satisfeito, e fez um gesto com a cabeça.
— Já chega. Vamos.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...