Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 70

— O que faz aqui?

— Bem. — Comecei — Me desculpa. — Eu estava toda sem jeito. — Estou fazendo um teste para trabalhar aqui.

— Trabalhar aqui? — Perguntou sério.

— Sim, na faxina e na copa, hoje é o meu primeiro dia, sinto muito por isso.

— Você e um pouco desastrada não é?

Quando ia responder, Rafaela apareceu.

— Bom dia doutor Tácio, essa é a Aurora, ela está treinando para trabalhar conosco.

Eu não podia acreditar, o doutor era o mesmo homem que esbarrei há alguns dias, e que me comprou o celular.

— Aurora — Pensou antes de falar. — Por que ia saindo tão depressa?

— O rapaz que acabou de fazer a entrega do café, deixou a carteira cair, ia tentar alcançá-lo.

— Olha aqui. — entrou na copa, e mostrou um caderno. — Sabe o que é isso? — Insinuou para o que estava em sua mão. — Isso é uma agenda, contém o número de telefone dele, não precisa correr por aqui, isso é uma clínica, há pacientes com problemas de visão, imagina esbarrar em um deles. — falou nervoso.

— Me desculpa, não era a minha intenção. — Me senti muito constrangida, ainda mais, por saber quem era o médico, e por ser apresentada desse jeito.

— Que seja, não quero que esse erro se repita outra vez, Rafaela, traga meu café no meu escritório.

— Sim senhor.

O homem saiu a passos largos e batendo a porta, me desesperei, pois sabia que iria perder o emprego.

— Foi um acidente, Rafaela.

— Eu sei, não se preocupa, eu vou conversar com ele, o doutor anda um pouco estressado por esses dias, a raiva dele não foi para você.

— Obrigada.

Rafaela colocou o café do médico na bandeja e saiu, e eu fiquei ali, muito sentida e preocupada, logo peguei meu celular e liguei para o número do rapaz da agenda e o avisei sobre a carteira, ele todo agradecido voltou e buscou.

O resto do dia, fiquei repondo as garrafas, que se esvaziavam rápido, pelos pacientes que passavam por ali, quando deu meu horário, eu saí, logo passei na mesa de Rafaela.

— Oi Aurora, eu já ia atrás de você.

— O que houve, não é para eu vir amanhã?

— Pode sim, eu conversei com o doutor, ele disse que pode vir, como falei antes, ele anda um pouco estressado, mas a culpa não é sua, pode vir amanhã no seu horário normal, eu não estarei aqui, mas você já sabe o que fazer.

— Obrigada Rafaela.

Após sair do consultório, voltei para a pousada, o resto da tarde, fiquei no quarto tentando assimilar o que fazer da vida, eu era uma garota de 18 anos, que não tinha o apoio da mãe e nenhuma família, e havia deixado para trás as únicas pessoas que se importavam comigo e de quem estava morrendo de saudades.

A noite, desci para o pequeno bar, pedi que me servissem um petisco, peguei meu celular, eu sabia o número de Oliver decorado, eu só precisava fazer uma única chamada para saber como ele estava, disquei seu número, e antes de apertar o botão verde, fui interrompida.

— Boa noite.

— Ah, boa noite.

Respondi sem jeito, era o doutor Tácio.

— Seu nome é Aurora, não é mesmo?

— Sim.

— Posso me sentar?

Em outra ocasião, eu diria não, de modo algum, mas seria até meio sem jeito dizer isso, ainda mais, porque dependia de um emprego, em que ele seria o empregador.

— Sim.

O homem se sentou e começou a olhar o cardápio, uma garçonete veio logo em seguida.

— Boa noite, doutor Tácio, vai querer o de sempre?

— Boa noite Fernanda, sim, por favor.

Então pelo que vi, o tal doutor era acostumado a vir a esse lugar, deve ser pela Rafaela, já que ela é secretária dele e a família dela era dona desse estabelecimento.

— Então, você é amiga da família da Rafa?

— Não exatamente, eu estou hospedada aqui, e conheci a irmã dela.

— Hospedada. Você não mora por aqui não?

- Não, eu vim de outro estado, na verdade, eu morava perto da capital, na fazenda São Caetano para ser exata.

— Fazenda São Caetano? — Parecia pensar. — Está bem longe de casa em?

— O senhor conhece a fazenda?

— Claro, quem não conhece? Já fui a várias festas por lá, o proprietário é o Oliver Caetano certo? Um homem muito educado por sinal. — Ouvir o homem falar de Oliver, chegou a fazer meu coração ficar quentinho, eu estava com tanta saudade dele, era bom alguém falar seu nome. — Fazia muitas festas, as melhores para se dizer, minha família sempre gostou do lugar, íamos sempre que podíamos, mas parece que as festas deram um tempo, já que não ouvi falar mais, nem recebi convites.

— Bem, elas pararam por um tempo, mas há uns dias, houve a feira agropecuária, foi muito bom. — Me lembrei da festa, e de quando voltei para casa e encontrei Oliver no meu quarto me esperando, morto de raiva.

— Você morava na vila certo?

— Não, na fazenda mesmo, eu era babá do filho do Oliver. — Ao falar isso, meu coração, parou algumas batidas.

— Ele tem um filho? Que interessante, eu cheguei a ver a noiva dele, algumas vezes, uma mulher muito bonita por sinal, diziam que ele fazia as festas para agradá-la, e devia ser verdade mesmo, uma mulher daquelas é de se fazer todas as suas vontades mesmo.

Uma pitada de ódio me subiu na cabeça, e ciúmes também, não negaria, Liana era bonita? Claro que sim! Mas o que tinha de linda, tinha de maldade e podridão, na verdade, ela era uma cara bonita, desperdiçada numa pessoa de interior feio.

— Beleza não é tudo senhor.

— Isso é verdade. — Parou para me observar — Mas me fala. Porque saiu de um lugar tão longe e veio parar aqui, tem algum familiar que mora nesta cidade? — Perguntou curioso.

“Porque a mulher que você acha linda armou uma cilada para o homem que eu amo, e a única forma de salvá-lo foi abrindo mão da minha felicidade”

Pensei responder isso e cortar logo essa conversa, mas apenas respondi.

— Não, na verdade, não conheço ninguém por aqui, esse lugar me veio de uma forma aleatória, vim por motivos pessoais. — Respondi e logo fiz silêncio.

— Tudo bem, olha. Hoje pela manhã, sinto muito se fui rude com você, eu não estava num bom dia, me perdoe.

— Tudo bem, deixe essas coisas no passado.

— Eu não sou uma pessoa ignorante, e não trato as pessoas mal, você vai descobrir isso com o tempo.

— Como assim com o tempo? Ainda estou em teste, não é certeza se irei ficar.

— Não Aurora, eu gostei de seu trabalho, Rafaela me falou que você é uma pessoa pontual, então saiba, que já está contratada, e quer saber de uma coisa? Algo me diz, que nos daremos muito bem.

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