Cristian Müller –
O cheiro sutil dos cabelos de Laura me envolvia enquanto eu afagava seus fios, mantendo-a nos meus braços.
Eu precisava desse toque, dessa proximidade. Ela era o meu ponto de equilíbrio, a única coisa que me impedia de sucumbir à exaustão que ainda pesava sobre meu corpo.
O barulho da porta se abrindo me tirou do momento. Levantei o olhar e vi Dominic entrar, acompanhado pelo médico.
O doutor se aproximou, me analisando com olhos clínicos antes de perguntar:
— Como está se sentindo, senhor Müller?
Me endireitei levemente na cama, respirando fundo antes de responder:
— Estou bem. Posso ir embora?
O médico soltou um suspiro, balançando a cabeça em negação.
— Sem chances. Você perdeu muito sangue e seu abdômen foi costurado. São no mínimo, quinze dias de repouso conosco.
Meus olhos se estreitaram, minha paciência começando a se esgotar. Antes que eu pudesse rebater, outra voz se fez presente no quarto:
— Não se preocupe, doutor. Ele vai respeitar os dias de descanso.
Minha mandíbula travou ao ver Mark se aproximar, com seu olhar divertido e, ao mesmo tempo, firme.
— Você não está ajudando — resmunguei, cruzando os braços.
Ele apenas soltou um riso curto.
— Sou seu sócio, lembra? Você me deu autoridade para tomar decisões na sua ausência. Pois bem, aqui estou eu.
O médico observou a troca de olhares entre nós e, em seguida, riu baixo.
— Vou pedir para repetirem alguns exames mais tarde. Só passei para conferir se estava tudo certo.
Ele fez um breve aceno e saiu, nos deixando ali.
Respirei fundo, voltando minha atenção para Mark.
— E aí? — perguntei, indo direto ao ponto.
Antes de responder, Mark desviou o olhar para Laura. Eu entendi o recado imediatamente. Ele não queria falar na frente dela.
Minha atenção foi para Dominic, que, como se lesse meus pensamentos, riu e pousou as mãos nos ombros de Laura.
— Que tal termos aquele encontro agora? Vamos descer e tomar um café enquanto eles conversam.
Laura hesitou por um momento, mas, antes de se afastar, veio até mim. Suas mãos delicadas tocaram meu rosto antes que ela pressionasse um beijo suave contra meus lábios.
Quando ela se afastou, segurei sua mão, fixando meu olhar no dela.
— Desculpa, amor, mas dessa vez você vai mesmo ficar de fora.
Seus olhos brilharam com algo que não consegui decifrar de imediato. Mas, ao invés de insistir, ela apenas sorriu de leve e sussurrou:
— Não se preocupe. Eu te prometi e vou cumprir.
E então, sem mais perguntas, saiu do quarto ao lado de Dominic.
Assim que a porta se fechou, encarei Mark.
— Agora fala.
Mark se aproximou e estendeu o tablet para mim. Seu olhar carregava um misto de seriedade e satisfação.
— Aqui está. Encontramos o desgraçado.
Meus dentes cerraram no mesmo instante. Peguei o tablet de suas mãos, sentindo o peso daquela informação antes mesmo de ver o que era.
— Eles planejavam te derrubar e te tirar daqui. Mas Andressa… — Mark fez uma pausa, como se pesasse as palavras antes de dizê-las. — Ela disse que queria você. E por isso ia ajudar no plano.
Minha respiração ficou pesada.
— Ela, Arthur e Linda. – Completou Mark.
Pisquei devagar, processando tudo. O ar ao meu redor parecia denso, carregado demais.
Mas então, algo ainda me incomodava.
Levantei o olhar e o fixei em Mark.
— E o babaca do Henri?
Ele me olhou de volta e cruzou os braços.
— Se vingar de Laura. Ele perdeu a chance de trabalhar na sua empresa e acha que Laura, ou no caso, Ivy o brecou.
O silêncio que se seguiu foi sufocante.
A fúria que corria em minhas veias se intensificou, queimando, consumindo.
Mark me encarou e fez a pergunta que eu mais esperava.
—O que fazemos com ele, Christian? – Assim que o ouvi, soltei um riso.
—Como agem na sua terra, quando essas coisas acontecem? – Mark soltou um riso, levando as mãos aos bolsos.
—Você sabe bem como gostamos de resolver problemas. Um carro explodindo, um cabo de freio solto, despencar de um desfiladeiro e se nada funcionar e ele tiver sete vidas, um tiro na cabeça acaba com todas elas.
Soltei um riso o estendendo o tablet.
—Você disse que está no controle, senhor Matanza, faça como quiser!

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