“Rita”
Olha onde eu vim parar! A vida inteira eu fiz de tudo para me dar bem e agora olha só pra mim, trancada numa celinha imunda, usando uma roupinha laranja horrorosa e chinelos de borracha, que horror! Eu odeio chinelos de borracha! A raiz do meu cabelo já está aparecendo uns três dedos, e eu que gosto tanto do meu cabelo vermelho. E a minha unha que era tão linda, tão bem cuidada, já quebrou todinha. Ai, que triste!
- Presa, vira de costas e coloca as mãos para trás aqui na grade. – Uma mulherzinha grosseira, vestida com aquele uniforme horroroso de guarda, apareceu na porta da cela. Eu não sei quem inventou que roupa preta emagrece, aquela mulher parecia um colchão enrolado vestida de preto.
- Por quê? Tem alguém pra me ver? – Perguntei sem abaixar a minha cabeça, eu não abaixava a cabeça pra ninguém.
Na verdade eu estava esperando o Juliano aparecer, já tinha semanas que aquele filho ingrato pegou as procurações comigo e sumiu, não veio me falar se tinha vendido a casa ou não. Aquele advogado mequetrefe veio com aquela historinha de que meu filho vendeu minha casa e meu carro e foi embora, mas eu não acreditava nisso, não acreditava mesmo! O Juliano não faria isso comigo.
- Isso aqui não é a sua casa não, madame! Hoje não é dia de visita, você só vai ser transferida para o convívio. – A guarda falou com um sorriso de puro deboche.
- Que convívio? O que significa isso? – Esse povo tinha um dialeto que eu não entendia a metade do que eles falavam.
- A madame vai dividir o barraco com mais três presas. Anda, faz o que eu mandei depressa.
- Que barraco? Meu deus só fica pior! Não basta ter ficado nessa celinha imunda, agora vocês vão me colocar num barraco? E com mais três estranhas? Ah, não, mas eu não vou mesmo!
Aquela guarda grosseirona deu uma boa gargalhada, me deixando ainda mais irritada.
- Ô, madame, o barraco é a cela! É assim que chamam aqui.
- Meu deus, mas que linguajar horroroso que vocês têm aqui.
- Pois é bom a madame ir se acostumando, aqui tudo tem um nome diferente, a linguagem aqui é outra mesmo. Agora anda, já te dei moral demais. Vira logo.
- Por quê que... – A guarda nem me deixou acabar de falar.
- VIRA LOGO, CARALHO! EU NÃO SOU SUA EMPREGADA! – Aquela grosseirona berrou comigo e eu achei melhor ficar quieta, eu ainda não sabia nada por aqui, cheguei nesse presídio ontem à noite e me deixaram nessa celinha imunda. Era melhor observar as coisas e descobrir como eu conseguiria as coisas que eu queria.
Aquela guarda me tirou da cela e saiu me empurrando pelo corredor. Logo atrás dela vieram mais dois guardas, que me olharam de cima a baixo e logo já começaram com as gracinhas.
- Essa aí é metida a madame, já deu pra ver pela cara de nojo que está olhando tudo. – Um dos guardas falou.
- Espera só até ela olhar com essa cara de nojo para a Açougueira, vai ficar com a cara retalhada! – O outro respondeu e eles caíram na gargalhada. Mas quem diabos era essa açougueira?
Depois de caminhar pelos corredores e entrar em outro bloco, logo vi os corredores de celas. A guarda que me trouxe me passou para outra guarda que me colocou dentro de um quartinho e mandou tirar a roupa.
- Mas que palhaçada é essa? – Protestei imediatamente, eu não ia ficar nua aqui nesse quartinho com ela.
- Não torra o meu saco, madame. Tira logo o uniforme que eu tenho que fazer a revista. – Ela respondeu carrancuda enquanto calçava uma luva de borracha.
Eu tirei a roupa relutante e passei pela maior humilhação da minha vida. Aquilo foi pior que um exame ginecológico. Depois aquela mulher me mandou vestir aquele uniforme de novo e abriu a porta do quartinho, me empurrando pra fora.
- Pode levar. Cela doze. – Ela falou com outras duas que esperavam do lado de fora.
Elas me levaram para a cela no final de um corredor com celas dos dois lados e me empurraram para dentro, fecharam a grade e só aí tiraram as algemas de mim.
- Como assim, retalhando? – Eu começava a achar que não estava em tão boas condições assim ficando perto da Gisele.
- Tretou, relou comigo, Rita, eu deixo o rostinho das bonecas aqui igual a uma colcha de retalhos, entendeu? – A Gisele se aproximou de forma ameaçadora e me encarou. – Mas deixa eu te apresentar minhas amigas, essa aqui é a Chocolate, ela matou o marido com veneno no achocolatado, foi o sexto, e essa aqui é a Ranca Tripa, preciso te dizer por que?
Eu olhei para a tal Ranca Tripa que tinha os olhos ejetados como se fosse um cachorro louco e um sorriso desdentado com uns poucos dentes entre o amarelado e o preto.
- É Ranca Tripa porque eu gosto de abrir a barriga ‘das inimiga’ e ‘arrancá os intestino’ pra fora... ‘foru’ nove ‘inquanto’ eu tava na rua... rá rá rá.... – Aquela coisa medonha gargalhou e eu descobri que além das tripas, ela também arrancava letras das palavras, assassinando o idioma a cada vez que abria a boca.
- Aí, Chocolate, mostra a mansão pra Madame. – Gisele mandou e eu percebi que ela era a líder daquele trio estranho. A tal Chocolate era uma mulher grande, alta e muito acima do peso, com seios tão fartos que deveria sentir uma dor horrível nas costas, em contra partida os quadris eram tão estreitos que parecia até um pirulito, o corpo enorme e rechonchudo espetado em dois palitinhos que eram as pernas.
- Ó, Madame, aqui é o seu aposento, com essa vista linda para o barraco da frente. – Ela apontou para a cama embaixo. – O de cima é da Açougueira. Do outro lado o de cima é meu e o de baixo é da Ranca Tripa. Aqui, ó, Madame, é o SPA, chuveiro com três temperaturas, fria, gelada e banho a seco. – Ela apontou para o cano na parede.
- Banho a seco? – Perguntei e ela riu.
- Quando não tem água, Madame! E aqui é o boi. – Ela apontou para o buraco no chão.
- Boi? Que boi, minha filha? Não estou vendo boi nenhum e nem nada que se pareça com um boi, é só um buraco no chão. Aliás pra que serve isso? E me fala onde é o banheiro, porque eu preciso muito fazer xixi, lá na cela que eu estava não tinha banheiro e na cela da delegacia o policial vinha e me levava até o banheiro quando eu precisava.
- Pois então, Madame, fica à vontade. Tá vendo o boi? – Olhei pra ela sem entender e ela riu e balançou a cabeça. – Esse buraco aí no chão. Aí é o nosso lindo assento sanitário, não é bem um assento, porque tem que fazer as necessidades agachada, Madame, mas é aí. Fica à vontade.
Aquela mulher se afastou e eu fiquei paralisada olhando para o buraco no chão e pensando como é que eu ia fazer as minhas necessidades ali. Aliás, como é que eu ia sobreviver nesse lugar medonho?

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Chefe irresistível: sucumbindo ao seu toque
Que lindo esse livro. Estou aqui chorando novamente. Muito emocionante...
Amei saber que terá o livro 2. 😍...
Que livro lindo e perfeito. Estou amando e totalmente viciada nesse livro. Eu choro, dou risadas, grito. Parabéns autora, é perfeito esse livro 😍...
Está sempre a dar erro. Não desbloqueia os capitulos e ainda retira as moedas.😤...
Infelizmente são mais as vezes que dá erro, que outra coisa......