“Melissa”
Eu estava no pátio da delegacia com o Bonfim, esperando o Flávio voltar, enquanto me divertia com as histórias do Bonfim aterrorizando o namoradinho da filha mais velha.
- Veja bem, chefona, a menina nem saiu das fraldas e já está namorando! – O Bonfim reclamava como o pai bem ciumento que era.
- Bonfim, não seja falso, você sabe que namorar é muito bom. Ela já é uma moça, está na hora de descobrir os garotos. – Ele me olhou com desgosto, me fazendo rir da sua expressão de sofrimento.
- Descobrir os garotos? Ela precisa descobrir o que quer fazer da vida, primeiro. – Ele bufou.
- Ela já descobriu que quer namorar. – Eu ri, mas um carro que estacionou ali no pátio chamou a minha atenção, não pelo carro, mas pela pessoa que saiu dele. Logo em seguida as viaturas do Flávio entraram ali também. – Bonfim, está vendo o advogado?
- Ele não é o que veio aqui como advogado da filhinha de papai que agrediu a Anabel? – O Bonfim ajeitou os óculos e olhou bem para o tipo.
- Ele mesmo. O que será que ele quer aqui justo hoje? – Aquilo era muita coincidência. Eu mandei uma mensagem para o Flávio na hora, era melhor que ele se preparasse.
- Vamos lá descobrir, chefona! – O Bonfim chamou e nós caminhamos em direção à recepção. – Boa tarde, doutor, em que posso ser útil? – O Bonfim cercou o advogado e eu fiquei um pouco mais atrás só escutando.
- Boa tarde, policial, eu vim porque soube que um cliente foi trazido pra cá. – O advogado informou.
- E qual seria o nome do seu cliente? – O Bonfim perguntou por perguntar, aquilo era uma raposa velha e sabia bem o que aquele advogado queria ali. Até eu sabia!
- Vladimir de Lima. Creio que acabou de chegar. Posso falar com ele? – Ele pediu polidamente.
O Advogado parecia muito sério, devia ter uns cinquenta e poucos anos, usava uns óculos sem armação que combinavam bem com seu rosto largo. Mas era óbvio que pintava os cabelos e não sabia escolher o tom correto da coloração, pois o cabelo estava mais para acobreado do que para preto e também ele tinha duas entradas enormes, que anunciavam uma não tão longínqua calvície.
- Vou verificar... doutor? – O Bonfim perguntou. Mas era um artista, fingindo que não se lembrava do advogado.
- Isidoro Duarte! Aqui o meu cartão. – O Advogado tirou um cartão do bolso do terno e o entregou ao Bonfim. – Dr. Isidoro, pode me emprestar a sua identificação também? Sabe como é, nos dias de hoje precisamos verificar tudo, com tantos falsários à solta, milhares se fingindo de advogados, médicos e até delegados, não é mesmo?! – O Bonfim abriu um sorriso grande, se fazendo de gentil, estava era atrasando o homem, dando tempo ao Flávio. Boba era eu, minha gente!
- Claro... policial? – O advogado resolveu entrar no jogo.
- Ah, claro, permita me apresentar. Eu sou o Delegado Bonfim, ao seu inteiro dispor! – O Bonfim tirou a carteira funcional do bolso e apresentou ao advogado.
- Ah, me desculpe delegado, é que eu estive aqui outro dia e não o vi. – Os dois estavam ali no balcão no maior “chá e simpatia” e eu sabia que o Flávio já estava correndo com o nerdzinho.
- É mesmo? Então já conhece o nosso humilde estabelecimento. Algum caso interessante? – Gente, eu estava impressionada com a cara de pau do Bonfim.
- Ah, nada demais, apenas uma briga entre irmãs que acabou indo longe demais. Mas o seu colega, o delegado Moreno, levou tudo muito à sério, talvez falte ao jovem a sua expertise, delegado, a experiência dos anos. – Aquele homem ia mesmo tentar sacanear o Flávio?
- Ah, sim. Essa nova geração de delegados não tem ainda a expertise, doutor, mas tem uma qualidade interessante, eles seguem a lei. E como nós aprendemos, a lei é dura, mas é a lei! – O Bonfim deu um sorriso tão grande que quem não soubesse o que acontecia ali, pensaria que ele estava encantado em trocar amenidades com o advogado.
- É, mas no caso, não precisava indiciar a jovem por tentativa de homicídio. – O advogado lamentou.
- Ah, meu caro, sei que caso foi esse, mas tenho certeza que o senhor terá habilidade suficiente para manejar as coisas junto ao tribunal. – O Bonfim estava massageando o ego do doutorzinho que já tinha se esquecido o que foi fazer ali.
- Otávio Lascuran! – Eu respondi e os olhos do advogado brilharam. Eu podia ver os cifrões girando nos olhos dele e a caixa registradora dentro da cabeça.
- Colega, me aguarda só um instantinho, eu preciso falar com você antes que um de nós fale com o Vladimir. – O Dr. Isidoro falou com o outro advogado que respondeu com um aceno de cabeça. – Então, senhorita. Você trabalha com o Sr. Martinez, filha do Sr. Lascuran, sua fama a precede, Srta. Melissa, certo?
- Ai, isso mesmo! Já ouviu falar de mim? – Eu fui caminhando em direção a porta e o advogado não teve escolha, a não ser me acompanhar.
- Todos no meio empresarial sabem que você é a mão direita do Sr. Martinez! Você teria um cartão? – Ele pediu e eu tive uma idéia. Todo mundo sabe como é bolsa de mulher, se bobear a gente tira um coelho vivo de lá de dentro.
- Claro! – Eu abri a minha bolsa e comecei a revirar. Eu sabia exatamente onde estava a minha carteira de cartões, mas eu ia ganhar tempo. – Ai, cadê? Me ajuda, doutor? – Eu fiz o homem segurar a minha bolsa para que eu pudesse revirá-la. Então eu percebi que o Bonfim encaminhou o outro advogado para dentro da delegacia e minha busca acabou. – Ah, doutor, eu não trouxe os meus cartões. – Lamentei falsamente, mas eu é que não ia dar o meu número para esse advogado. – Mas me passa o seu, eu vou passar o seu número para o meu pai e ele te liga.
- Claro! – Ele sorriu e tirou um cartão do bolso e me entregou. – Será um prazer falar com seu pai e, quem sabe, trabalhar com ele.
- Ele ficará encantado! – Eu sorri, mas estava pensando que esse ficaria sonhando. Mas talvez essa historinha pudesse ser útil enquanto nós investigávamos sobre o testamento da Antônia Lancaster.
Eu me despedi do advogado e ele voltou para a recepção da delegacia. Eu precisava sair dali, mas também queria ver a reação dele ao não encontrar mais o colega.
- Mas o doutor...? – Ele olhou confuso para o Bonfim.
- Ah, caríssimo, me desculpe, mas o Sr. Vladimir pediu que apenas o seu colega o acompanhe, assim como a mãe dele, eu lamento! – O Bonfim merecia um mimo! Era um artista!
Eu saí dali satisfeita em ter impedido que aquele advogado falasse com o nerdzinho, eu tinha certeza que iria incentivá-lo a proteger aquela cobra da Ilana. Eu ia voltar para o escritório e depois falaria com o Flávio.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Chefe irresistível: sucumbindo ao seu toque
Que lindo esse livro. Estou aqui chorando novamente. Muito emocionante...
Amei saber que terá o livro 2. 😍...
Que livro lindo e perfeito. Estou amando e totalmente viciada nesse livro. Eu choro, dou risadas, grito. Parabéns autora, é perfeito esse livro 😍...
Está sempre a dar erro. Não desbloqueia os capitulos e ainda retira as moedas.😤...
Infelizmente são mais as vezes que dá erro, que outra coisa......