Capítulo 378 – Alexander Sterling.
Enzo
"Buscar sua carta de alforria."
As palavras do Alex ficaram rodando na minha cabeça desde a porta da mansão até o salão onde o desgraçado se instalou. Eu tinha rido de leve quando ele disse, mas a verdade é que aquilo sempre esteve aqui, preso no peito. Eu nunca quis coroa, nunca quis trono, nunca quis ser Don. Quis paz. Quis minha família viva. Quis a liberdade de não carregar o nome de um homem que, no fim, nem era o homem que jurou ser.
Mesmo assim, quando dei de cara com ele, o estômago virou. Parte de mim ainda viu "mio nonno". O jeito de cruzar as pernas, o dedo batendo no braço da poltrona, o sorriso que parecia afeição e era veneno. O resto de mim viu Frederick Anderson, o impostor, o homem que usou minha família, que cresceu como praga por baixo do nosso teto. Foi como olhar para um retrato antigo e perceber que a moldura sempre esteve torta.
Tentei fixar os olhos no que importava: Giovanni, amarrado, respirando rasgado, mas vivo. Um Mancini de verdade. Eu só precisava de uma brecha para tirá-lo dali.
Então Frederick abriu a boca e mirou no Brady. Falou de dinheiro sujo, arma, sequestro, exploração como se fossem medalhas. A sala gelou. Eu vi o brilho quebrar nos olhos do Sterling mais impulsivo. Vi o Jack inflar. Vi a raiva se enganchar. E jurei: se ele encostar em um dos meus, eu mesmo arranco a língua daquele velho. Eu mostro que, mesmo ele não acreditando, eu aprendi direitinho a ser cretino como ele.
A brecha apareceu no caos. Jack avançou, tiro para todo lado, chão vibrando, eco de metal nos ouvidos. Tommaseo puxou a arma e Ben estourou a mão dele. Peppe segurou dois como quem segura porta de celeiro na ventania. Giovanni mexeu as mãos, eu dei um passo para ele, mais um, quase... quase. Foi quando a mão fria do impostor deslizou para o metal e a boca gelada da arma encostou na minha têmpora.
— NINGUÉM SE MEXE! — ele rugiu. — Um passo em falso e eu juro que vou estourar os miolos do meu caro nipote, e garanto a vocês que vai ser a coisa mais prazerosa que já fiz.
Meu corpo travou. Não por medo da morte. Por ódio de precisar parar. Os olhos do Alex, cravados nos meus, diziam o resto: "respira, eu te tiro dessa".
Alex apontou a arma para mio falso nonno.
— Vou te dar uma chance, solta ele. Agora. — ele disse.
Ouvi o cretino sorrir.
— Ah, Alexander Sterling, sangue do meu sangue. Acha mesmo que tenho medo de você?
— Seu filho também dizia não ter, e olha onde ele está agora. — Alex respondeu.
— Meu filho foi um estúpido. Mas garanto a você, meu neto, que eu não sou.
O barulho da arma engatilhando ecoou nos meus ouvidos, e ele falou a frase que vai assombrar a gente por anos:
— Bem-vindos ao meu jogo, meninos.
— NÃO!! — Peppe gritou.
E então... o estampido.
Eu não senti fogo. Não houve impacto no meu crânio. Em vez disso, o peso no ombro do desgraçado recuou e ele cambaleou. Um segundo virou cinco. O braço dele afrouxou em mim. Eu girei de lado a tempo de ver a origem do tiro:
Pedro. Ao lado dele, Leonardo, Gaetano e Pietro, armas erguidas, já avançando pelo corredor como sombras que a casa não esperava.
— Avanti! — Gaetano berrou.
Foi a fresta de ar que eu precisava. Girei o pulso, empurrei a arma de Frederick para o alto, desviei o corpo, escorregando sob o braço dele, soltei a respiração que eu não lembrava que prendia e corri os dois passos até Giovanni. Ele tinha os pés acorrentados, e nas mãos amarras grossas, mas os meus dedos aprenderam a trabalhar no escuro. Rasguei uma, puxei outra, quase soltei a terceira quando o mundo explodiu de novo.
Frederick, ainda de pé mesmo com o ombro sangrando, descarregou tiros em tudo. Tiro seco, tiro longo. Senti a pancada primeiro, o calor depois. Minha perna cedeu como se o chão tivesse sumido. Caí num joelho, uma pontada subindo pela coxa.
— DON! — ouvi Peppe, e logo depois ele estava no meu lado, me puxando por debaixo do braço, botando o corpo dele como escudo.
— Perna. — consegui dizer entre os dentes. — Foi minha perna esquerda.
— Já vi. — ele respondeu sem floreio, duro, firme, mio amico que não desaba nem que o teto caia. — Respira, Don, vou tirar você daqui.
Outro estampido, e um grito do lado oposto. Tom recuou com a mão no braço, sangue escorrendo pelos dedos. Ainda assim, levantou a arma com a outra mão e abafou dois que vinham pela lateral. O cara aguenta chumbo como quem recebe notícia ruim no café da manhã.
Podíamos ouvir os sons que vinham lá de fora, a elite do Sterling trabalhava como nós. Acabando com as baratas. Essas baratas, malditas baratas que se procriam, se escondem nas sombras e quando aparecem é em enxame só para nos dar trabalho.
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