O Acordo Perfeito(Completo) romance Capítulo 32

Nos sentamos enquanto comíamos o nosso hambúrguer. O clima entre nós estava agradável e eu me sentia uma idiota por pensar em estragá-lo naquele momento, mas não conseguia enxergar qual seria o momento ideal de fazer o pedido que minha mãe fazia questão de me lembrar constantemente, muito embora nos últimos dias ela não tivesse feito. Para falar a verdade, isso me dava ainda mais medo, porque eu nunca sabia dizer o que minha mãe estava aprontando, ainda mais quando ela sumia assim, magicamente, e parava de me encher por dias seguidos. Na certa, estava com algum plano em mente.

― Vai fazer uma ruga permanente se continuar pensando tanto assim. ― Disse Hamzaf me fazendo acordar do meu estado de torpor momentâneo enquanto eu sorria.

― Só estava pensando… ― Murmuro.

― No que?

Demoro a respondê-lo. Sei que esse é o momento ideal, mas não sei como fazê-lo o pedido sem que eu pareça uma oportunista. Minha mente me acusa que eu já sou uma oportunista só de ter aceitado participar dessa loucura. Acabo concordando.

― Na minha família. ― Consigo dizer. Hamzaf concorda.

― Fale-me um pouco sobre ela.

― Só se você falar sobre a sua também. ― Retruco.

― Feito. ― Ele concorda.

― Tenho uma mãe, um pai e um irmão. ― Respondo suspirando.

― Tenho uma mãe, um pai e dois irmãos. O mais novo, Rashid, você já conhece, mas tenho também Kaled como outro irmão. ― Concordo. O silêncio reina novamente. Não sei como contar mais sobre a minha família. Hamzaf acaba fazendo o assunto prolongar falando mais sobre a família dele. ― Kaled é engenheiro, trabalha para uma empresa americana que é responsável por fazer boa parte dos prédios de sucesso daqui de Dubai. ― Ele adiciona. ― Já meu pai é aposentado, trabalhou muito tempo como militar e agora sua principal tarefa é pescar. ― Concordo enquanto absorvo as ideias.

― E sua mãe? ― Pergunto e Hamzaf franze o cenho sem entender minha pergunta.

― Minha mãe é dona de casa, Pam.

― Ela nunca teve vontade de ser outra coisa?

― Para falar a verdade, não faço ideia. Sempre vi minha mãe em casa, então acho que não. Aqui não é comum mulheres trabalharem, Pam. ― Ele diz e eu concordo.

― É uma pena. Porque acho que deve ter muitas mulheres que embora tenham o sonho de serem mães, também tem o sonho de serem alguma coisa mais. ― Hamzaf dá de ombros.

― Sim. Acho que tudo é questão de abrir o jogo e conversar. Infelizmente, não há muitas pessoas aqui que aceitam mulheres no trabalho, mas há serviços que pedem meio período que poderiam auxiliar uma mãe a cuidar dos filhos e também ter sua realização profissional. ― Ele aponta. Fico feliz em ver que Hamzaf é mais mente aberta, ainda que eu saiba que, mesmo que ele seja mente aberta muitos homens, ali, não o são. O que é triste, porque ainda há muitas sociedades com óticas machistas no mundo. A Arábia Saudita talvez seja uma das que mais são. Dubai seria uma exceção no país inteiro.

― E a sua família, o que faz? ―Hamzaf tenta mudar de assunto. Novamente, o assunto da minha família volta e eu me vejo remexendo os dedos debaixo da mesa enquanto tento abordar o assunto.

― Minha mãe… Ganha uma pensão do meu falecido avô que foi militar também. ― Hamzaf assente. ― Meu irmão está desempregado. ― Decido por omitir a parte que diz que ele está desempregado porque quer, porque não procura trabalho, porque está muito cômodo ganhando uma mesada da minha mãe e bebendo o quanto pode o mês todo com os amigos beberrões dele. Acho que abordar isso seria demais para falar com Hamzaf, fora que machucaria a mim mesma admitir isso mais uma vez em voz alta. ― E meu pai… ― Minha voz quase falha e por isso decido não encarar Hamzaf enquanto falo sobre isso. ― Meu pai desenvolveu uma doença rara que o impede de trabalhar. Os tratamentos são caríssimos e eu trabalhava para tentar ajudar mamãe no custeamento desses tratamentos, já que nem todos a saúde pública do meu país conseguia abarcar. Infelizmente, os custos são muito caros… e… ― Respirei fundo. Como não encarava mais Hamzaf enquanto falava, decidi que falaria mesmo que ele me visse como uma oportunista. Estava falando do meu pai e eu o amava demais para parecer o que quer que fosse para Hamzaf: ― E eu não sei como te pedir isso, mas realmente queria saber se não haveria como você me fazer um empréstimo, Hamzaf. Minha família já está afundada em dívidas, eu prometo que te pagarei em algum momento, nem que trabalhe o resto da minha vida para você, no seu restaurante, eu… Eu só quero salvar o meu pai. ― Não ousei o olhar. Não somente pela vergonha de fazer um pedido assim, mas porque algumas lágrimas já ousavam cair do meu rosto e eu precisei esconder a minha face numa cortina de cabelo para que não parecesse tão patética chorando numa praça de alimentação de um shopping.

Ouvi quando uma cadeira foi arrastada e pela minha visão periférica observei Hamzaf se aproximar e afastar a cortina de cabelo colocando-a atrás da orelha novamente. Não queria que ele me visse chorando, porque não gostava que ninguém me visse tão fraca, mas não conseguia ter forças para afastá-lo, não depois do desabafo que havia feito.

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