O Acordo Perfeito(Completo) romance Capítulo 7

― O que você… ? ― Não consigo reorganizar meus pensamentos, só me certifico de olhar onde estou e se estou vestida. Ok. Tudo nos esquemas, Pam. Eu acho que não fui atacada e ainda estou naquele apartamento estranho.

― Eu que deveria te fazer esse tipo de pergunta! ― Ralha Hamzaf. ― O que diabos você está fazendo??? ― Ele parece furioso. Franzo o cenho. Não entendo porquê.

― Estava dormindo se você não tivesse me acordado. ― E eu também não estava lá com o melhor dos meus humores. Não gostava de acordar de um bom sono, ainda que eu não lembre exatamente que horas que foi que apaguei.

― Você! ― Ele apontou um dedo para mim. ― Isso. ― E então ele apontou para o apartamento fazendo com que eu finalmente entendesse do que ele falava. Sorri amarelo.

Talvez, assim, só talvez mesmo, suponhamos, que eu, sem querer, tenha feito um mini furacão no apartamento em algumas horas ali. Era visível meus pares de meia, um casaco no chão, balde de pipoca, mais de três copos utilizados para bebidas diferentes, um pano de prato, algumas espátulas, uma coberta que sabe-se lá de onde surgiu, talvez Grace tenha me coberto, não sei, posso ser sonâmbula em Dubai sem saber ainda. Enfim, mas era só uma pequena bagunça. Que foi? Quem que é super perfeccionista com arrumação que vire santo, porque é raro.

― Ah… Desculpa. ― Disse enquanto me levantava do sofá e passava a recolher minha sujeira. Pronto, a gente poderia ter terminado por ali, sem sequelas, na paz, mas Hamzaf devia realmente estar muito fulo da vida, porque ele não deu a conversa por finalizada, vindo atrás de mim a reclamar:

― Como podes ser tão desorganizada assim? Por acaso és mesmo mulher? Porque não colocar as coisas no lugar? Deus, sua mãe não te ensinou a deixar as coisas organizadas? ― Respirei fundo enquanto seguia com a louça até a pia. Hamzaf tinha a arte de me fazer contar até dez e não vir a matá-lo. Por que a vontade era grande e o pavio curto.

― Ela até tentou. Como pode ver, poderia ser pior. ― Ele fez um barulho que parecia um estalo com a língua.

― Pior? Só se estivermos numa guerra! Mas onde eu estava com a cabeça quando…

― Quando decidiu me escolher? Também não sei não, Ham. Deve ter enlouquecido. ― Sorri, mas pelo visto Hamzaf não gostou do apelido, porque ele me fuzilou ainda mais com o olhar. Agora sim, devo ter um terceiro olho na testa.

― Você ainda ousa responder.

― Eu ouso sim, Ham. E você deveria se acostumar se planeja ter uma ocidental como esposa. Eu não vou me rebaixar para você. ― Me virei imediatamente para o espaço onde Hamzaf estava, fazendo questão de deixar o queixo bem erguido, para que minhas palavras tivessem poder.

A troca de olhares que eu e Hamzaf tivemos não foi a mais tranquila, mas eu me recusava a baixar o olhar, ainda que aquele homem muito me intimidasse. Mas eu não ia abaixar minha cabeça! Ele não precisava vir atrás de mim para dar sermão! Não é meu pai. E outra, eu já estava arrumando a porcaria do apartamento. Não precisava continuar me esculachando.

― Você realmente é insolente.

― Se eu sou um cavalo-marinho, você é um...um… uma… esponja! Não consegue sair do lugar e fica metendo o bedelho nos outros. O povo usa você como casa e esconderijo e sua única função é aceitar que não pode fazer nada a respeito, porque o cavalo marinho é livre para fazer o que quiser e não vai ser uma arcaica esponja imóvel que vai ser responsável por impedir o cavalo marinho de brilhar. Ouviu bem?? ― Disse para o vento. Se ele havia ouvido, não esboçou nenhum som nem nada que indicasse que ouvira. Respirei fundo. Hamzaf estava cansando minha beleza.

Agora, o que eu queria dizer com cavalo marinho brilhar era algo que nem mesmo eu sabia dizer o que queria dizer com isso, porque não fazia sentido algum. Cavalo marinho brilhar??? Humpf. Eu devo ter fumado a mesma droga que Hamzaf fumou para começar a falar do fundo do mar como o louco varrido. Só pode.

Marcho em passos fortes até o quarto e só me dou conta da besteira que fiz quando estremeço com a porta batendo com força. Olho para o lado e Grace continua em seu sono pesado. Deve ser o remédio de insônia que ela mencionou para mim, que ela precisa para dormir. Pelo visto, não só dormir, mas hibernar. Porque depois dos gritos e da porta batendo com força, não ver ela mexer uma palha e continuar roncando é realmente um indício de que esse remédio aí é bem forte sim.

Deito-me e olho para o teto. Estou sem sono agora, que alegria! Se tivesse coragem, ia bater na porta de Hamzaf e dizer umas poucas e boas para ver se ele aprendia com quantos paus se faz uma canoa! Mas eu não era tão corajosa como gostaria que ele imaginasse que fosse. E mais, estava com medo de sair do programa e prejudicar papai.

Balancei a cabeça negativamente. Mas isso não podia me impedir de continuar sendo eu mesma. Não. Eu não mudaria minha essência. A necessidade de ser eu mesma era mais importante. Eu não mentiria para Hamzaf sobre quem eu era, mas, acima de tudo, eu não mentiria para mim mesma sobre quem eu era. A promessa mais importante para mim, a promessa que eu fazia a mim mesma.

Sorri.

Era assim que eu ia levar os meus próximos dias.