― Você só pode estar brincando. ― As reações de Agnes eram sempre as mais naturais possíveis e eu gostava muito disso na minha amiga. Ri.
― Não. Eu… Eu ainda não sei como ele desconfiou, mas… Eu quase ia te matar… Mas ele só tinha jogado comigo. ― Ri e Agnes riu atrás.
― Ele é bem esperto. Mas também… Se ele te tocou na ilha, ele deve te conhecer o suficiente para ver que tem alguma coisa estranha acontecendo com o seu corpo. Seus seios, por exemplo, parecem um pouco maiores. ― Observou Agnes e eu senti minhas bochechas tingirem-se de vermelho por pensar nisso. Talvez Agnes estivesse certa.
De qualquer forma, era muita coisa com a qual lidar e eu ainda não sabia como seria dali para frente. Agnes ligou a televisão num canal oficial do governo e sentou ao meu lado com uma cestinha com tâmaras.
― Quer uma?
― Por favor. ― Estava tremendo tanto que queria afugentar a hipótese de ser por hipoglicemia. Precisava ajudar que meu nenê continuasse crescendo firme e forte.
Havia vários flashes direcionados para a cara de Karim quando a declaração começou. Suspirei enquanto o via com uma Thobe branca e um keffiyer na cabeça quadriculado vermelho com branco. Não estava muito formal, mas bem respeitoso com suas crenças. Ele deu aquele seu sorriso de parar o trânsito e começou a falar:
― Tenho uma revelação para fazer. Não a descobri faz muito tempo, mas preciso falar antes que meu peito exploda de tanta alegria. ― Um silêncio gutural se fez por alguns segundos. ― Eu vou ser pai.
As perguntas que se seguiram foram das mais variadas impossíveis. Perguntaram de quem, perguntaram como, perguntaram se ele não tinha pouca vergonha de anunciar isso sendo ele muçulmano e não casado. Nada foi o suficiente para tirar aquele sorriso bobo dos lábios de Karim que respondeu calmamente cada uma.
Ele contou que eu e ele fizemos votos a Alá enquanto estávamos na ilha e achamos que realmente íamos morrer. Por isso, eu havia me entregado a ele.
No entanto, quando eles finalmente conseguiram sobreviver, eu tinha ficado com medo de ser um motivo para um governo fraco para ele e por isso tinha decidido me isolar e não ser a esposa definitiva, mas que para Alá isso não foi abençoado, pelo contrário, se o motivo fosse esse, Alá interrompera completamente dando a oportunidade de que eu ficasse grávida para cumprir com a promessa que tínhamos feito na ilha e que Alá havia abençoado.
A forma como Karim falava era poética e de muito convencimento. Sorri enquanto o ouvia dizer que agora eu seria a esposa dele e que contava com a compreensão dos clãs e todo o auxílio possível para que eu me adaptasse bem, pois já estava no terceiro mês de gravidez. Quando a entrevista parecia finalmente chegar ao fim, um repórter inquiriu Karim:
― Sua Majestade então não mais se casará com Alisha?
― Não. ― Disse Karim curto e grosso.
― Sua Majestade apresentará Karen para seu pai? ― Mais um silêncio.
Como se ele soubesse que eu estava vendo aquela declaração, Karim voltou suas bilhas esverdeadas para a câmera e sorriu ainda mais, se é que isso fosse possível. Então, lentamente, como se quisesse manter as palavras o máximo de tempo possível no ar, Karim falou:
― Levarei Karen para conhecer o meu pai ainda hoje. ― E eu senti o meu coração martelar no peito com aquelas palavras.
― Uau. Como um filho pode mudar uma pessoa. Para quem queria você como segunda, ser tão categórico e passar por cima de tudo para tê-la como primeira… ― Disse Agnes mastigando mais uma tâmara. Assenti.
Karim continuou falando mais alguma coisa, mas eu e Agnes gritamos assustada quando uma pedra voou para dentro da sala. Parecia ter sido mandada por um estilingue. O vozerio que começamos a ouvir parecia ainda longe demais.
― Os guardas… Cadê os guardas? ― Gritou Agnes correndo tontamente de um lado para o outro.
― Estão lá do lado de fora, Senhora Abdul. ― Respondeu Hila.
― Al. Al está lá naquela bagunça impedindo que eles atravessem os portões?
― Sim. ― Hila franziu o cenho. Agnes ficou ainda mais desesperada.
― Ah, A Fer vai me matar! Vou virar picadinho de Agnes por conta disso… ― Os parafusos da minha amiga pareciam só funcionar conforme ela andava de um lado para o outro do salão, como se uma manivela invisível passasse a funcionar e os pensamentos viessem: ― Seth! Preciso falar com o Seth! Vamos precisar de mais guardas! Estão até jogando pedras para cá! ― E então Agnes saiu andando atrás de sabe-se lá onde ela tinha deixado o celular dela e eu aproveitei para ir em direção a pedra que tinha parado próximo de um tapete atrás do sofá.
Me abaixei franzindo o cenho quando percebi que amarrada à pedra havia alguma coisa, parecia um papel. Peguei-o na minha mão desembrulhando o papel amassado. Seria uma mensagem para Agnes? Abri curiosa.
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