O medo é uma reação natural diante de novos desafios. Muita das vezes ele paralisa, em outros faz com que tenhamos reações exageradas. E foi diante de uma reação exagerada de medo de tomar o poder em mãos que, como príncipe regente, Karim instaurou três meses de luto em homenagem ao pai.
Isso significava que ninguém poderia ser conclamado Rei até que o luto acabasse e que Karim tivesse tempo o suficiente para que pudesse se preparar para esse novo desafio que lhe impunha. Também dava tempo o suficiente para que ele pudesse sentir toda a dor que aquilo representava para ele. Afinal, isso significava que tudo aquilo que um dia ele poderia chamar de família estava literalmente morto para ele. E isso lhe doía demais.
Karen tentou cuidar do marido nesse meio tempo, auxiliá-lo de forma que passasse da melhor maneira possível pelo luto. Sabia que a dor com o tempo diminuiria, ainda que alguns gatilhos sempre ajudassem que algumas memórias doessem ainda mais. Todavia, ela sabia dos processos de luto, porque havia passado por algo mais ou menos parecido quando tivera a sua mãe morta.
E entendia principalmente a questão de não ter ninguém.
Antes de conhecer Agnes e ter uma amiga, decerto Zilena foi uma figura presente que acalentou o coração da menina órfã sem mãe e sem pai. Mas, como Karim, Karen sabia qual era a sensação de se sentir sem ninguém, um vazio existencial preenchendo o peito ao se dar conta que estava sem família. E talvez por isso compreendesse bem os momentos de depressão que Karim perpassou, escondendo-se no quarto escuro, evitando reuniões como se estivesse fugindo do maligno, dentre outras coisas.
Suspirou enquanto fazia carinho no cabelo de Karim. Ele estava dormindo, para variar. A maneira que ele tinha encontrado de fugir da dor era dormindo e tudo bem, Karen compreendia. Sentia pena do marido em estado tão frágil. Queria poder ajudá-lo de alguma outra forma, fazer o que quer que fosse para que seus olhos voltassem a brilhar novamente, mas não era como se conhecesse um Djinn que pudesse realizar os seus desejos. E isso nem sequer existia.
O que pode fazer, nesse tempo, foi amparar o marido enquanto o tempo passava lentamente. Uma semana, duas semanas, três semanas, um mês. Foi o tempo que os clãs aguentaram vendo o príncipe definhar sem tomar nenhuma providência pelo Reino. No fim, Karen teve que ajudar Karim a se arrumar e quase que o expulsou do quarto para que ele voltasse a se reunir com os clãs. Ele foi a contragosto.
Tinha que fazer alguma coisa, mas o que fazer?
Foi Omar se mexer na barriga que ela compreendeu que poderia fazer algo. Afinal, embora Karim tivesse perdido o pai e isso fosse dolorido, ela bem sabia que era, outra pessoa estava chegando na família. E, afinal, ele, ela e Omar eram uma família. E isso poderia bastar para acalentar o coração deles, não podia?
Pediu para que Gaya fosse buscar alguns tecidos e a máquina dela no ateliê e decidiu que sabia exatamente o que fazer para deixar Karim um pouco melhor.
Quando suas coisas chegaram, passou ainda mais um dia trabalhando em cima de um projeto seu e foi com muito esmero e sorrindo bastante que percebeu que seu trabalho estava concluído.
Quando Karim voltou, cansado como sempre e triste como todos os dias, Karen o puxou para a cama, o que ele nem sequer pestanejou. Ultimamente, só queria ficar o máximo de tempo possível deitado enquanto o tempo passava.
― Tenho algo para te mostrar. ― Karim concordou apaticamente.
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