As palavras cortaram fundo. Laura sentiu uma fisgada no peito. Tentou desviar o olhar, mas Patrícia não lhe deu trégua.
— Isso quer dizer algo, Laura. Você está mexendo com ele. E, sinceramente, isso me assusta. Você não faz ideia do quanto o Heitor pode amar... e do quanto pode destruir quem o ama de volta se essa pessoa não souber como lidar com ele.
Laura passou as mãos nos cabelos, pressionando as têmporas. O coração acelerado, os pensamentos embaralhados. Queria gritar, fugir, abraçar Heitor, pedir que tudo aquilo acabasse... mas não podia. Não havia escapatória.
Patrícia se aproximou devagar, como uma serpente prestes a dar o bote final.
— Ele vai apodrecer na cadeia, Laura. Vai ser julgado por assassinato. Por matar uma mulher grávida. Ele nunca mais vai sair de lá. A única coisa que pode salvá-lo está comigo.
— Ela ergueu o celular.
— E você tem a chance de livra -lo de um destino tão cruel ... ou desperdiçá-la por egoísmo.
Laura sentiu as lágrimas queimarem nos olhos. As palavras de Heitor ecoavam em sua mente:
"Eu sou inocente, Laura..."
Ela o amava. Amava mais do que havia imaginado ser possível. Amava o jeito frio que só amolecia com ela, o toque que a fazia se sentir viva, o olhar que enxergava quem ela era de verdade... E agora, ele estava numa cela por um crime que não cometeu. Sozinho. Desamparado. Humilhado.
Não podia permitir isso.
Mesmo que isso a destruísse.
Mesmo que significasse abrir mão do que mais desejava.
Laura fechou os olhos. A dor era insuportável. Sentia-se dilacerada, mas sua decisão estava tomada. Porque amar, às vezes, era também sacrificar.
— Eu sumo da vida dele... mas você entrega o vídeo à polícia ainda hoje.
— Feito — respondeu Patrícia com satisfação, tirando o celular da bolsa.
Mas antes de entregar, fez questão de dar o golpe final.
— Você está fazendo a coisa certa, Laura. E sabe por quê? Porque, você nunca será a mulher certa para o Heitor ,porque a mulher certa para ele sou eu e você querida nunca será páreo para mim.
Laura a olhou com firmeza, apesar das lágrimas.
— Talvez não. Mas diferente de você… eu estou salvando ele, não condenando.
E com isso, virou-se de costas. Cada passo até o quarto parecia um adeus que rasgava a alma.
Ela tinha decidido.
Ia desaparecer da vida de Heitor.
Por amor.
O céu de São Paulo estava coberto por nuvens pesadas quando Laura amanheceu. Não dormira — ou, se dormiu, foi por segundos que pareceram eternidades esmagadoras. Sua mala já estava pronta ao pé da cama, um reflexo silencioso da decisão mais dolorosa da sua vida.
Cada peça de roupa dobrada ali dentro era um pedaço de si que ela arrancava. Um adeus sussurrado entre lágrimas, entre memórias.
Na escrivaninha, uma folha de papel tremia sob o vento que entrava pela fresta da janela. Nela, uma única destinatária: Bianca.
Laura não teve coragem de se despedir pessoalmente. Sabia que a amiga não permitiria. Sabia que, se visse o olhar da Bianca, sua força desmoronaria. E ela precisava ser forte. Pelo bem de Heitor. Pela liberdade dele. Pelo amor que sentia, mesmo que esse amor custasse sua própria felicidade.
Sem deixar rastros.
Enquanto isso, na mansão de alvaro Arantes, os corredores estavam mergulhados em silêncio. O pai de Heitor, permanecia trancado no quarto principal há dias. Os funcionários estranhavam o sumiço do patriarca, mas Patrícia sempre dizia que ele estava "descansando", "cansado demais para falar", "sem condições".
A verdade era bem mais sombria.
Patrícia mantinha Álvaro dopado. Desde que ela decidiu que ia reconquistar, ela aumentara a dose dos sedativos que colocava discretamente no chá da noite. Ele dormia horas, acordava atordoado, mal conseguia se levantar da cama. Não reagia. Não raciocinava. Mal sabia onde estava.
E isso era exatamente o que Patrícia queria.
Ela não suportava mais nem ser tocada por ele. A simples aproximação física a fazia encolher de nojo. Mas, por interesse, continuava ali. E o plano estava funcionando perfeitamente: com Álvaro ausente e incapacitado, ela teria mais tempo para se dedicar a reconquistar Heitor .
Naquele dia, enquanto tomava seu café numa varanda que dava para os jardins, Patrícia leu a mensagem que recebeu de um número anônimo.
"Ela foi embora."
O sorriso de satisfação foi imediato. Quase sensual.
— Boa garota, Laura... — murmurou, erguendo a xícara.
— Agora sim, Heitor... você é só meu e assim que seu pai não estiver mais entre nós poderemos ficar juntos para sempre e eu serei duplamente rica.
Na cela, Heitor continuava em silêncio, encostado na parede fria. Já não protestava. Já não se enfurecia. Apenas esperava.
O tempo passava devagar. O relógio da prisão parecia rir da sua impotência. Nenhuma visita. Nenhuma notícia de Laura e ele só conseguia pensar porque ela não foi vê -lo ,mas no fundo sabia o porquê Laura não o amava como pensou e principalmente ela acreditou que ele realmente era um monstro e assassinou uma mulher grávida.

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