Até que, no mesmo dia em que Laura foi embora , Henrique apareceu com uma maravilhosa notícia para Heitor.
— Heitor — chamou, com a voz mais esperançosa do que de costume.
— A promotoria recebeu um novo vídeo. A perícia vai analisar ainda hoje.
Heitor se endireitou, o coração acelerado.
— Que vídeo?
Henrique hesitou por um momento.
— Mostra você... dormindo. Na cama da sua mansão. No horário exato da morte da vítima. Comprovando que você não poderia estar na cena do crime.
Heitor ficou estático.
— Como... quem mandou esse vídeo?
Henrique apertou os lábios, claramente desconfortável.
— Foi enviado para mim por um benfeitor anônimo, mas isso não importa agora. O importante é que, em breve, você estará livre, meu amigo.
Heitor franziu o cenho.
— E a Laura? Por que ela não veio me ver?
Henrique baixou o olhar, sem saber o que dizer.
— Talvez... por causa da exposição da mídia. Muitos repórteres a seguiram nos últimos dias... pode ter sido isso.
Aquilo só serviu para piorar. O coração de Heitor afundou ainda mais. A decepção queimava como ácido.
Ela o abandonou. Justo ela.
Momentos depois, a voz do agente penitenciário ecoou firme na sala abafada da delegacia:
— Senhor Heitor Arantes… o senhor está liberado.
Por um instante, Heitor pensou ter ouvido errado. As sobrancelhas se franziram, os olhos piscando lentamente, como quem tentava despertar de um pesadelo.
— O... quê?
Henrique surgiu atrás do policial, um leve alívio estampado no rosto.
— É isso mesmo — confirmou, segurando uma pasta de documentos em uma mão e o casaco de Heitor na outra.
— O vídeo foi analisado pela perícia. Confirmaram que o horário do assassinato não b**e com a sua presença na mansão. A gravação é legítima. Não havia como você estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Heitor continuou em silêncio. Esperar pela justiça era uma coisa, recebê-la era outra. Depois de tanta humilhação, noites mal dormidas e dor, ser libertado parecia quase... surreal.
Ele era livre.
Mas por dentro, continuava algemado. Pela ausência de Laura. Pela sensação de abandono. Pela saudade que já doía.
Com passos pesados, caminhou para fora da cela. O som da porta metálica se abrindo ecoou em seus ouvidos como um grito abafado. Seus ombros estavam tensos, o rosto abatido, os olhos fundos. A liberdade parecia uma piada amarga.
O sol já se punha quando ele saiu da delegacia. O céu tingido de laranja e púrpura parecia zombar da sua dor — como se o mundo seguisse em frente, mesmo depois de ele ter perdido tudo.
Assim que atravessou a porta de ferro, flashes explodiram como granadas de luz. Câmeras se ergueram. Microfones foram empurrados contra ele. Uma enxurrada de perguntas o envolveu:
— Senhor Arantes! O senhor foi inocentado?
— A vítima estava grávida do senhor?
— Como se sente depois de ser preso injustamente?
— O senhor pretende processar o Estado?
Heitor levantou o braço para proteger o rosto. Seu maxilar travado. O olhar duro, frio. As palavras não saíam.
Henrique se adiantou, abrindo caminho com o corpo.
— Não. Eu também não entendi. Só sei que... ela foi.
Ele passou as mãos pelos cabelos, andando em círculos no corredor. O coração esmagado. Os olhos em brasa.
— Isso só confirma uma coisa.
— O quê?
— Que eu fui um idiota em achar que ela sentia algo por mim além de desejo.
— Não fala isso, Heitor. A Laura te ama!
— Bela forma de amar. Ir embora quando eu mais precisei dela.
— Ela deve ter tido um motivo muito forte pra tomar essa decisão. Eu...
— Por favor, Bianca. Não tente justificar a covardia da sua amiga. Passar bem.
E então, ele virou as costas. O coração apertado, o orgulho ferido. Deixou Bianca parada na porta, em lágrimas.
Ao chegar em sua mansão, Heitor entrou como um furacão. A porta bateu com força atrás de si, ecoando no silêncio opressivo da casa. Não acendeu nenhuma luz. Não tirou o casaco. Apenas caminhou a passos firmes pela sala, como se procurasse algo… ou alguém.
Mas ela nunca esteve ali.
Laura nunca morou naquela casa.
E, no entanto, parecia que cada canto gritava o nome dela.
A xícara que ela usou uma vez. O sofá onde sentou e o olhou com aqueles olhos que o desarmavam. O cobertor que ela puxou sobre as pernas enquanto ele a observava em silêncio, sentindo uma paz que não sabia que existia.
Tudo parecia impregnado de sua ausência.
— Merda... — rosnou entre os dentes.
E então veio a fúria.

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