Horas depois, a mansão estava mergulhada em um silêncio fúnebre. A movimentação era discreta, quase respeitosa. Homens de terno preto transitavam com sobriedade entre os cômodos, preparando o corpo de Álvaro Arantes para o velório na própria residência, como era seu desejo.
Heitor supervisionava tudo com um semblante endurecido, o maxilar travado e os olhos sombrios. Estava impecavelmente vestido de preto, mas por dentro, em ruínas.
Não chorava. Não permitia. Mas a dor queimava em cada gesto frio e mecânico. Assinou papéis, falou com o advogado da família, rejeitou a presença de jornalistas.
— Nada de imprensa. Nada de câmeras. Isso é assunto de família.
Patrícia tentou se aproximar uma vez, mas ele a ignorou como se fosse invisível.
O caixão chegou e foi posicionado no grande salão da mansão, sob o imponente lustre de cristal. Flores brancas preenchiam o ambiente, mas não conseguiam esconder o peso do que fora perdido — ou do que nunca chegou a ser recuperado.
Heitor olhou para o pai por um instante. O rosto pálido, sereno, quase em paz. Mas para ele, não havia paz. Apenas um vazio cheio de palavras que nunca foram ditas.
"Apesar de tudo pai ,eu te amava e lamento que agora nunca terei mais a chance de lhe dizer isso."
Deu um passo para trás, as mãos nos bolsos, sem dizer mais nada.
Era o fim de uma era.
De um ciclo.
De um homem.
Mas também o fim de tudo que ele achava conhecer sobre si mesmo.
Naquela noite, o homem que Heitor foi… também morreu.
E, dali em diante, ele nunca mais seria o mesmo.
Enquanto Heitor mergulhava cada vez mais fundo no luto,n pela perda do pai e na mágoa dilacerante que sentia pela ausência de Laura, completamente perdido entre a raiva e a saudade, Laura enfrentava sua própria batalha silenciosa — sem saber que suas vidas, embora separadas, ainda estavam ligadas por um laço invisível.
O ônibus que a levaria ao Rio de Janeiro ,o destino escolhido por ela ,mal havia saído da rodoviária quando o mundo começou a girar ao redor de Laura. Suor frio escorria por sua testa, a visão embaçada, as mãos trêmulas. Tentou se segurar no encosto da poltrona à frente, mas seu corpo não resistiu.
Apagou.
Quando abriu os olhos, estava em uma cama branca, com luzes artificiais acima da cabeça e o som distante de monitores apitando. O cheiro de álcool hospitalar era forte, familiar. Sentia uma leve dor no braço, onde o soro estava conectado. Por um momento, tudo parecia confuso. Onde estava? O que tinha acontecido?
Logo, uma médica de jaleco azul-claro entrou no quarto com uma prancheta nas mãos e um sorriso calmo no rosto.
— Que bom que acordou, Laura. Você desmaiou no ônibus e foi trazida para o hospital municipal aqui da Zona Norte. Nada grave, mas tivemos que investigar a causa do desmaio.
Laura tentou se sentar, ainda tonta.
— Eu... pensei que fosse só cansaço. Estresse... talvez não tenha comido direito...
A médica se aproximou, sentando na beirada da cama com um ar mais sério.
— Na verdade, descobrimos a causa. E eu preciso que você se prepare para uma notícia. — Fez uma breve pausa.
— Parabéns, senhora Dias. O enjoo e o desmaio aconteceram porque a senhora está grávida. O exame apontou oito semanas de gestação.
Laura congelou.
— O quê?
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