— Ela é tão pequenininha… — murmurou Laura, acariciando com ternura a ponta dos dedinhos minúsculos de Valentina, dentro da incubadora.
— Mas é forte. Tem o coração da mãe.
Fernando assentiu, engolindo em seco, os olhos marejados.
— Eu não sei o que vai ser da minha vida se… se a Bianca não acordar, Laura. Eu não sei.
— Ei… — ela virou-se para ele, segurando seu rosto entre as mãos com delicadeza.
— Ela vai acordar. Eu sinto. Ela é teimosa. Teimosa demais pra deixar essa menininha crescer sem ela.
— E se não? — a voz dele quebrou.
Laura puxou-o para um abraço apertado, acolhedor. Ambos choraram em silêncio. Ali, não havia romance. Não havia tensão. Apenas dois amigos feridos, unidos pela dor de amar profundamente a mesma pessoa.
Ela passou a mão pelas costas dele num gesto instintivo, reconfortante. E foi nesse exato momento que Heitor entrou na sala.
A princípio, seus olhos captaram apenas a cena: Laura abraçada a Fernando, a mão deslizando com carinho por suas costas, os corpos colados. A dor e a fadiga nos rostos dos dois, os olhos vermelhos. Mas sua mente, já em alerta pela ausência da esposa e pelo caos do hospital, preencheu os espaços com o mais primitivo dos sentimentos: o ciúme.
Um nó apertou sua garganta. O sangue ferveu em silêncio.
Ela é minha.
Minha mulher. Meu amor. Minha esposa.
Mas a tragédia... o ambiente... a gravidade da situação... Tudo fez Heitor respirar fundo e conter o impulso de agir com brutalidade. Ele não era mais aquele homem que explodia. Tinha aprendido a se controlar.
Mesmo assim, sua mandíbula trincou. Os punhos se fecharam.
Laura o viu no mesmo instante e se afastou de Fernando, como se despertasse de um transe. Correu até ele, jogando-se em seus braços com um soluço preso.
— Heitor! Meu Deus… foi horrível… Bianca… ela…
— as palavras vieram aos tropeços, entrelaçadas com lágrimas.
— Eles sofreram um acidente. A bebê nasceu, mas… ela… ela está em coma.
Ele a envolveu com força, enterrando o rosto nos cabelos dela, sentindo o desespero que ela transmitia em cada palavra.
— Shhh… eu tô aqui, meu amor. Calma… Eu tô aqui agora.
Laura olhou para ele com os olhos marejados, segurando seu rosto entre as mãos.
— Eu fiquei tão assustada… achei que fosse perdê-la. Achei que fosse tarde demais…
— Eu sei, amor… — ele respondeu, passando o polegar com ternura sob os olhos dela.
— Eu tô aqui. E a Bianca vai sair dessa. Por ela… pela Valentina.
Heitor ergueu os olhos para Fernando, que observava a cena em silêncio. Por um momento, o ciúme ainda latejava dentro dele como um veneno lento. Mas ele o empurrou para o fundo da alma. Aquela dor não era dele. Não era hora.
Aproximou-se, estendendo a mão ao amigo.
— Eu sinto muito, Fernando. Sinceramente. Isso tudo… é um pesadelo.
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