O silêncio que caiu entre os dois foi cortante.
— Você tem ideia do que está dizendo? — ela perguntou, com a voz embargada.
— Eu não os abandonei! Eu venho pra casa, cuido deles, beijo cada um antes de dormir… eu só estou tentando…
— Está tentando salvar o Fernando. — ele disparou, com amargura nos olhos.
— Enquanto aqui, nessa casa, tem três pessoas que estão sendo deixadas de lado. Você quer ajudar? Ótimo,eu acho louvável a sua atitude ,mas acho reprovável você deixar a sua família de mão por conta disso.
Ela respirou fundo, sentindo o coração doer.
— Eu estou fazendo o que achou certo , Heitor. A Bianca é minha melhor amiga! A Valentina…
— A Valentina tem a dona Célia. E o Fernando é um homem adulto e o pai dela. Ele precisa lidar com a dor dele. Você tem que entender isso. A menos… — Ele estreitou os olhos
— … a menos que você esteja adorando cuidar dele também , a permanecer ao lado dele mais do que ao lado do seu próprio marido,é isso ?
Aquela frase caiu como um tapa. Laura arregalou os olhos, ofendida.
— Você está insinuando o quê?
— Eu não aguento mais, Laura. — A voz dele veio firme, cortante, como uma bomba prestes a explodir.
— Todo dia você enfia naquela casa pra cuidar da filha dele. Do problema dele.
Ela franziu a testa, surpresa com o tom.
— Heitor, não começa…
— Começar? — Ele deu um passo à frente, o olhar incendiado.
— Quem começou foi você, quando passou a dar mais atenção pra vida do Fernando do que pra nossa. Você tá vivendo a dor dele como se fosse sua, Laura!
Ela abriu a boca pra responder, mas ele não deixou.
— Enquanto isso, os meus filhos, os teus filhos, tão aqui, sendo criados por mim e por uma babá! E eu? Eu tô me virando como posso, porque minha mulher parece ter esquecido que tem uma família aqui!
— Não é assim…
— É exatamente assim! — ele gritou, os olhos faiscando.
— Você passa o dia todo com ele, Laura! Cuidando da filha dele, enxugando as lágrimas dele, resolvendo a vida dele! E eu aqui… esquecendo até que tenho uma mulher!
Ela empalideceu.
— É isso mesmo que você está dizendo?
— É. — Ele se aproximou mais, encarando-a de perto.
— Eu tô cansado de chegar em casa e encontrar você exausta. Sem energia pra mim. Sem um olhar. Sem um toque. Sem uma palavra.
Ele cuspiu as palavras com rancor.
— Quando foi a última vez que você me desejou, Laura? Hein? Porque eu nem lembro mais o gosto da tua pele. Nem lembro mais o som do teu gemido. E sabe o que é pior? — se inclinou, colando a boca ao ouvido dela
— Fernando tem mais da sua atenção do que eu.
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