No meio da cama, apenas um bilhete escrito às pressas:
“Tive que sair às pressas. O Fernando me ligou. Valentina está na emergência com febre alta.”
O coração de Heitor disparou.
Por um segundo, preocupação. Mas logo depois… ciúmes. Raiva. A mesma história de novo. Sempre correndo pra ele. Sempre ao lado dele.
Ele saiu de casa como um furacão.
O hospital estava silencioso, abafado, iluminado por luzes frias. Heitor entrou com passos firmes e olhos arregalados, como um animal ferido.
— Emergência pediátrica? — perguntou à recepcionista.
Ela apontou o corredor.
Heitor seguiu, o coração batendo como um tambor. E então viu.
Lá estavam eles.
Laura sentada no banco. Fernando e Laura abraçados. Os olhos dela cheios de lágrimas. Os olhos dele cansados. Mas próximos. Íntimos. Quase íntimos demais.
O sangue de Heitor ferveu.
— Que porra é essa?! — ele rugiu.
Laura e Fernando se viraram juntos.
— Heitor?! — Laura levantou de súbito.
Ele se aproximou com os punhos cerrados.
— Outra vez? De novo essa cena? Você nos braços dele? Chorando nos braços dele?
— Heitor, pelo amor de Deus…
— Cala a boca, Laura! — ele gritou, a voz ecoando no corredor.
— Já não basta dormir naquela casa, cuidar da filha dele, agora virou rotina por qualquer motivo ficarem se abraçando?
— Você está sendo ridículo!
— Ridículo? Ridículo é você se fazendo de santa enquanto se j**a nos braços do papai, que adora se fazer de coitadinho, como se estivessem esperando sua amiga morrer para selar essa união vergonhosa.
Fernando deu um passo à frente.
— Chega, Heitor! Você tá passando dos limites!
— Eu vou te mostrar o que é passar do limite, seu babaca!
Ele avançou. Os dois quase colidiram. Laura gritou, enfermeiros surgiram.
Heitor empurrou Fernando com o ombro.
— Quer minha mulher? Pode leva -la! Ela já é mais sua do que minha mesmo! O que eu não vou mais fazer é continuar assistindo essa palhaçada de vocês ficarem com desculpas para se abraçarem.
Dois seguranças correram e se colocaram entre os dois.
— Senhor, por favor!
Laura chorava, envergonhada, tremendo.
Fernando tentava conter a fúria.
Heitor, contido pelos seguranças, olhou direto nos olhos dela.
— Você vai ter que escolher, Laura. Ou eu e seus filhos… ou esse idiota.
Ela olhou para ele emocionada , desconcertada com os relógios. As palavras de Fernando a tocaram com sinceridade. E o olhar dele, também.
Talvez Heitor tivesse razão sobre ela passar muito tempo ao lado de Fernando e Valentina. Mas não sobre os ciúmes de Fernando. Ela não via nele uma ameaça. Só alguém que havia se tornado família — e com quem, sim, havia criado um laço. Mas jamais além disso.
— A sua mãe já chegou — ela disse, repentinamente, tentando mudar de assunto.
— Eu… acho que já posso ir. Valentina está bem, está com a avó. Você também precisa descansar.
Fernando assentiu, respeitando o recuo. Mas seus olhos seguiram os dela até o elevador.
Laura saiu do hospital decidida a ir atrás de Heitor, a fazer as pazes. Não queria ficar a vida inteira brigando com ele. Aquilo estava ficando insuportável.
Quando Laura entrou em casa, a luz do quarto principal estava apagada. Nada de Heitor, antes d falar com ele ,ela foi ver os meninos que estavam dormindo e deu um beijo em cada um.
Depois ela percorreu o corredor e encontrou a porta entreaberta de um dos quartos de hóspedes. Empurrou-a com delicadeza.
Lá estava ele.
Deitado sobre os travesseiros, só com um moletom escuro, sem camisa. O peito musculoso subia e descia num ritmo lento. Ele assistia televisão, mas não parecia prestar atenção em nada. Estava ali… e não estava.
— Foi ridículo o que você fez no hospital, porque não havia motivo algum para aquela cena — ela disse, num tom direto.
Nenhuma resposta.
Laura respirou fundo e entrou.
Ele sequer olhou para ela.
O silêncio cortava como faca.
Ela parou ao lado da cama, os olhos vagando pelo corpo dele. A penugem escura em seu peito másculo, o abdômen definido, o jeito como a calça leve desenhava o volume sob o tecido. Mesmo em silêncio, mesmo frio… Heitor era irresistível. Tinha aquele magnetismo bruto que sempre a desarmava.

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