Cada passo que dava em direção ao quarto de Bianca parecia uma eternidade. Depois de tantos dias... semanas... meses de incertezas, o milagre enfim tinha acontecido.
— Está pronta? — perguntou Fernando, com os olhos ainda úmidos pela emoção.
Laura assentiu, embora por dentro estivesse despedaçada em mil sentimentos. Alívio. Medo. Culpa.
Heitor segurava sua mão com firmeza, mas seu silêncio dizia mais do que qualquer palavra. Ele sabia que aquele momento não era sobre ele. Não ainda.
Ao entrarem no quarto, Laura estacou. Bianca estava deitada, os cabelos um pouco mais curtos e o rosto mais pálido do que o normal, mas os olhos... ah, os olhos estavam abertos, vivos, brilhando com o reconhecimento imediato.
— Laura...? — murmurou, a voz fraca, mas firme.
As lágrimas brotaram sem aviso. Laura correu até ela, ajoelhando-se ao lado da cama e pegando sua mão com delicadeza.
— Bia... meu Deus, Bia... você voltou! — disse, a voz embargada pela emoção.
— Você voltou pra gente!
Ela sorriu, com lágrimas nos olhos.
— É muito bom reve -la minha amiga linda. — Bianca sussurrou, com um sorriso tímido.
— Cadê a minha filha ,a Valentina? Como ela está ?
— Está linda, , cheia de saúde... e com certeza sentindo sua falta. Mas vai te ver muito em breve. Primeiro, vamos cuidar de você, tá?
Fernando se aproximou, visivelmente comovido. Tocou a mão da esposa com reverência, como se ela fosse feita de vidro.
— Amor... você não sabe o quanto esperei por esse momento.
Bianca olhou entre eles, como se tentasse juntar as peças que o coma havia separado.
— Vocês cuidaram dela, não é? Da nossa filha...
— Sim, claro — Laura assentiu.
— Como se ela fosse minha e Como você cuidaria de um filho meu, se fosse o contrário.
O olhar de Bianca encheu-se de lágrimas.
— Obrigada...a todos vocês .
A médica entrou para examinar a paciente, e Laura se levantou, relutante, ainda segurando a mão da amiga.
— A gente vai dar um tempinho pra você descansar, mas logo, logo estaremos aqui de novo, tá?
Bianca assentiu, emocionada.
Heitor, que havia ficado em silêncio o tempo todo, aproximou-se e tocou o ombro de Laura, num gesto sutil, contido. Ela entendeu que ele queria conversar, mas antes disso, Fernando a chamou de lado no corredor.
— Podemos falar rapidinho, Laura? Só nós dois?
Ela olhou para Heitor, que disse que precisava ir ao toalete. Laura assentiu, então seguiu Fernando até um canto mais reservado do corredor, ainda sob a sombra de tudo o que haviam vivido — e do que jamais deveria ter acontecido.
Heitor entrou no banheiro, lavou as mãos e o rosto, mas não conseguiu se concentrar em nada além do turbilhão de emoções. Ao sair, seus passos se detiveram ao ouvir vozes — a de Fernando... e a de Laura. Estavam parados próximos à escada de emergência, e ele ainda não os havia notado.
Do outro lado, Heitor paralisou. Sentiu como se tivesse levado uma facada. Cada palavra parecia desenhada para confirmar o pior: Laura o traiu com Fernando. Uma noite. Uma fraqueza. E agora estavam combinando esconder isso de Bianca.
Laura parecia desconfortável.
— Fernando... eu entendo. Mas você tem certeza de que quer esconder isso dela?
— Não pra sempre. — ele respondeu, apertando a mão dela com sinceridade.
— Depois que ela se recuperar, eu mesmo vou contar. Eu juro. Mas agora… seria cruel demais. Ela acabou de acordar. Ainda nem sabe tudo o que perdeu.
Heitor recuou dois passos, os olhos cheios de raiva, o maxilar travado. Não precisava de mais provas. Não precisava ouvir mais nada.
Laura e Fernando. Eles o traíram. E agora, como dois covardes, queriam esconder tudo atrás da fragilidade de Bianca.
Laura e Fernando. Eles o traíram. E agora, como dois covardes, queriam esconder a sujeira que fizeram.
Ele se afastou em silêncio. Seu rosto era uma máscara de ódio contido. Sua decisão, já tomada.
Aquela mulher nunca mais colocaria os pés na casa dele a não ser para buscar suas coisas .
Heitor saiu do hospital como um fantasma, ignorando os corredores, as vozes ao redor, os olhares dos enfermeiros. Não olhou para trás, não esperou Laura, não se despediu. Mal viu o caminho até o estacionamento.
O mundo dele desabava — e ele só conseguia pensar numa coisa: fugir.
Fugir da imagem de Laura com Fernando. Fugir das palavras de Fernando ecoando em sua cabeça.
“Nós cometemos um erro... foi só uma noite... uma fraqueza...”

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