As semanas passaram como uma tortura para Bianca. Cada dia era mais uma porta se fechando diante dela. Ela havia enviado currículos, participado de entrevistas, ouvido elogios ao seu perfil e experiência, mas, de repente, o contato se perdia, a resposta não vinha. Uma sensação estranha de injustiça começou a crescer em seu peito. Seu currículo era impecável, sua postura profissional inquestionável. Então por que, afinal, ninguém a contratava?
A dúvida começou a pesar em seu coração, misturada à raiva silenciosa que sentia de Fernando desde a última discussão. Ela se lembrava do sorriso dele, aquele maldito sorriso de excitação e desafio, como se estivesse convicto de que ela não conseguiria desligar do estaleiro.
Numa tarde abafada de sábado, Raul apareceu. Sempre com aquele ar de quem sabia mais do que dizia, o primo de Fernando entrou no jardim dos tios e a encontrou folheando anúncios de emprego.
— Ainda procurando emprego, Bianca? — perguntou, com um meio sorriso, cruzando os braços.
Ela ergueu os olhos, cansados, mas firmes.
— Sim. Mas começo a achar que vou precisar procurar fora da cidade. Aqui não parece ter espaço para mim.
Raul se aproximou devagar, abaixando-se diante dela, os olhos castanhos fixos nos dela com seriedade.
— Não é a cidade, Bianca. É o Fernando.
Ela franziu o cenho, o estômago revirando.
— O que você está dizendo?
— Que não adianta procurar em lugar nenhum. Ele usou o sobrenome e a influência para fechar todas as suas portas. Ninguém vai te contratar.
Por um instante, Bianca quis rir, desacreditar. Raul não era alguém confiável , e podia muito bem estar inventando aquilo apenas para colocá-la contra o marido. Mas algo nele soava diferente naquela tarde. O tom firme, a falta de ironia, a convicção no olhar.
— Isso é absurdo… — murmurou, tentando afastar a ideia.
— Pense bem, Bianca. Quantas entrevistas foram perfeitas? Quantos gestores te disseram que estavam impressionados com o seu currículo? E mesmo assim, nenhum retorno. Você realmente acredita que isso é coincidência?
As palavras dele entraram em sua mente como estilhaços. Ela lembrou de cada rosto surpreso e cordial que, dias depois, nunca mais a atendia ao telefone. Lembrou dos silêncios estranhos, das justificativas vagas. E, de repente, tudo fazia sentido.
O sangue subiu-lhe ao rosto. Um calor de indignação percorreu-lhe as veias, transformando-se em pura fúria. Fernando. Sempre ele. Sempre aquele maldito controle que a sufocava.
Na manhã seguinte, Bianca decidiu que não iria mais suportar em silêncio. Vestiu-se com firmeza, um vestido simples mas que realçava sua figura, amarrou os cabelos em um coque firme e foi ao estaleiro. Cada passo ecoava sua raiva contida.
O barulho metálico das máquinas, o cheiro de óleo e ferro tomaram seus sentidos quando entrou. Homens trabalhavam sem parar, mas, ao vê-la atravessar o pátio com determinação, alguns pararam para olhar.Depois que ela pediu demissão , não era comum ver a esposa do patrão ali, com os olhos faiscando como chamas prestes a consumir tudo.
Ela entrou no escritório de vidro que ficava no andar superior, sem bater, empurrando a porta com força.
Fernando estava curvado sobre uma pilha de documentos, a camisa branca arregaçada nos antebraços, revelando músculos tensos e fortes. Ao vê-la, ergueu o rosto lentamente, os olhos azuis faiscando, e um sorriso lento surgiu em seus lábios.
— Bianca… — murmurou, a voz grave, carregada de algo entre surpresa e prazer.
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