Laura arregalou os olhos, ainda sob o corpo dele, e Heitor soltou um palavrão baixo, irritado. Respirando com dificuldade, ele se afastou a contragosto, permitindo que ela se ajeitasse rapidamente. Ela passou a mão pelos cabelos, descomposta, tentando recuperar a compostura, o coração ainda aos pulos.
TOC TOC TOC!
— Já vai! — ela disse, se recompondo o melhor que pôde. Caminhou até a porta e girou a maçaneta.
Era Bianca, com os olhos arregalados, uma expressão de urgência no rosto, mas claramente desconfortável ao perceber que havia interrompido algo.
— Desculpa, Laura... Eu tentei esperar, mas... preciso falar com você. É importante.
Heitor permaneceu à mesa, passando a mão pelo rosto, visivelmente frustrado. O clima entre os dois se desfez num piscar de olhos, como uma tempestade cortada pelo som de um trovão.
Laura respirou fundo, se recompondo por completo.
— Com licença, senhor Arantes — disse em tom frio, profissional, sem olhar para ele. Saiu pela porta ao lado de Bianca, fechando-a com um leve clique.
Assim que chegaram à recepção, Laura ainda se sentia zonza da tensão mal resolvida entre ela e Heitor. Mas parou subitamente ao ver a figura que a aguardava mais à frente, sentado em um dos sofás da recepção, o rosto coberto por uma sombra de cansaço e derrota.
Augusto.
Ele estava irreconhecível. Olheiras profundas, barba por fazer, roupas amassadas e um olhar perdido. Assim que a viu, se levantou num sobressalto.
— Laura...
Ela sentiu o estômago revirar. Um milhão de sensações contraditórias explodiram dentro dela. Raiva, mágoa, surpresa... pena?
— O que você está fazendo aqui? — perguntou com frieza, os braços cruzados diante do corpo.
Augusto se aproximou alguns passos, o rosto cheio de arrependimento.
— Eu... eu não tinha pra onde ir. A mulher com quem fugi... ela me deixou. Aquela vadia fugiu com tudo o que eu tinha. Dinheiro, talão de cheques ... até o carro. Estou na rua, sem nada. Vim te pedir ajuda... abrigo... qualquer coisa...eu só tenho você Laura ...por favor me ajude.
Laura engoliu seco. As palavras ecoaram dentro dela como um golpe surdo. Por muito tempo, ela havia se imaginado dizendo tudo que guardava ao vê-lo de novo. Mas agora que ele estava ali, despedaçado... ela só conseguia sentir um vazio desconfortável.
Bianca olhou para ela, confusa, esperando sua reação.
As palavras ecoaram dentro dela, abrindo fendas em feridas que ela pensava já cicatrizadas. Por um longo instante, ela apenas o encarou, sentindo o peso de tudo o que ele havia causado.
— Você desapareceu, me deixou com dívidas, roubou tudo que eu tinha. — Sua voz saiu baixa, firme como aço.
— E agora aparece aqui, pedindo ajuda como se nada tivesse acontecido? Como se eu ainda devesse te estender a mão?
Augusto baixou os olhos, visivelmente envergonhado.
— Eu sei que não mereço. Mas... eu tô desesperado. Não tô pedindo nada além de um lugar pra dormir. Só uns dias. Até eu conseguir me reerguer.
Laura respirou fundo. Tinha todos os motivos do mundo para mandá-lo embora. Mas, por alguma razão, parte dela hesitou. Talvez fosse humanidade. Talvez a sombra dos sentimentos antigos. Ou apenas o medo de se tornar tão cruel quanto ele havia sido.
— Isso não significa que está perdoado — declarou, cortante.
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