Walter arqueou a sobrancelha, fingindo surpresa, mas o sarcasmo jamais deixava o rosto.
— Nesse caso, vai ter que aguardar. Sua esposa está ocupada. Trabalhando. Exercendo com dedicação o cargo de relações públicas. — Fez uma pausa teatral antes de acrescentar:
— Está cuidando de um grande evento. O lançamento de nosso novo cosmético.
Fernando sentiu o sangue esquentar, mas controlou-se.
— Então vou esperá-la na recepção.
Walter riu, baixo e provocativo, dando alguns passos em sua direção.
— Por que não me acompanha até minha sala para uma bebida? Podemos relembrar os velhos tempos. Enquanto isso, mando alguém avisar Bianca de que o marido a aguarda.
Fernando estreitou os olhos. Não queria, não confiava. Mas, no fundo, sabia que precisava de algo para acalmar o turbilhão em sua cabeça. E álcool, talvez, fosse a válvula de escape momentânea.
— Aceito a bebida. — A voz saiu grave, firme.
— Mas não se engane, Walter. Nós não somos mais amigos. Então, não há nada para relembrar.
Walter abriu um sorriso mais largo, os dentes à mostra, satisfeito por tê-lo fisgado.
— Mesmo que não sejamos mais amigos… já fomos um dia. Sempre há algumas memórias boas que vale a pena revisitar.
Fernando suspirou, pesadamente.
— Tudo bem. Se você insiste.
E então, acompanhou-o.
O corredor parecia se alongar infinitamente. Cada passo ao lado de Walter trazia à memória recordações de outrora — momentos de camaradagem, a juventude compartilhada, risadas que hoje pareciam tão distantes quanto uma vida passada. Mas também lembrava da traição, da rivalidade que se instaurara.
Ao entrar na sala luxuosa, o cheiro de couro e whisky caro impregnou os sentidos. Walter serviu duas doses generosas e entregou uma a Fernando.
— Às memórias, boas ou ruins — brindou, erguendo o copo.
Fernando aceitou o brinde, mas seu olhar permanecia frio, calculista.
Enquanto o líquido ardente descia pela garganta, não pôde deixar de pensar que aquele momento era mais do que uma coincidência. Era um jogo. E ele estava no tabuleiro de Walter.
Mas, acima de tudo, sabia que não poderia perder o foco. Bianca. Ele estava ali por ela. E ela teria que explicar muita coisa.
O copo de cristal tilintou suavemente quando Walter o pousou sobre a mesa de madeira maciça. O sorriso dele, aberto e carregado de sarcasmo, parecia querer saborear cada segundo daquela cena, como um predador diante da presa.
— Então, Fernando… — começou, rodando lentamente o whisky dentro do copo, o âmbar dourado refletindo a luz suave do escritório.
— Confesso que não esperava vê-lo aqui, na minha empresa. É… uma surpresa e tanto.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Prazer sem limites: Sob o domínio do meu chefe.