A palavra “neta” parecia pesar mais do que qualquer outra. Bianca a pronunciou com intenção, como se fosse uma forma de reafirmar que Valentina pertencia àquele sangue, àquela família, mesmo que Fernando tivesse escolhido renegar.
Os olhos de Célia marejaram.
— Bianca… meu anjo, isso não pode ser definitivo… vocês se amam, eu sei que se amam…
Bianca fechou os olhos, como se aquelas palavras fossem facas.
— O amor não sobrevive sem confiança, dona Célia. — murmurou, e dessa vez sua voz quebrou.
— E ele… ele matou a nossa confiança hoje.
O silêncio que seguiu foi denso, carregado de lágrimas contidas. Bianca respirou fundo, ergueu o queixo e enxugou os olhos com a mão trêmula. Já não queria demonstrar fraqueza. Já não queria parecer a mulher implorando por algo que não existia mais.
Célia, com o coração apertado, apenas a observava. Queria dizer mil coisas, queria defender o filho e ao mesmo tempo pedir perdão em nome dele, seja lá o que ele tenha feito , mas se ele magoou Bianca de alguma forma era ele que tinha que pedi perdão.
Bianca, então, voltou-se para a babá, que já começava a organizar as roupinhas de Valentina. Sua voz saiu baixa, quase como uma ordem.
— Laura, eu gostaria muito que viesse comigo. — a voz de Bianca ainda estava embargada, mas havia firmeza em suas palavras.
— Eu vou precisar de alguém de confiança para cuidar da Valentina enquanto trabalho… e quero que continue sendo você. Não precisa se preocupar, vou pagar o mesmo salário. Quanto a isso, pode ficar tranquila.
Os olhos da babá se suavizaram com ternura, e um sorriso sincero iluminou seu rosto.
— Senhora Bianca, é claro que eu vou com a senhora. — respondeu sem hesitar, a voz carregada de afeto.
— Eu adoro cuidar da pequena Valentina. Ela é um anjinho, uma menina doce e cheia de luz. Será um prazer continuar ao lado dela… e ao seu também.
__Muito obrigada ,Laura .Agradeceu Bianca.
E, ao falar, percebeu que estava tentando ser forte não por ela, mas pela filha. Valentina não tinha culpa da desconfiança, da crueldade, das palavras venenosas. Ela merecia um lar, ainda que fosse pequeno, ainda que fosse simples, mas cheio daquilo que Fernando havia destruído: amor e confiança.
Bianca se manteve ereta, mesmo com o coração em frangalhos. Sabia que quando estivesse sozinha desabaria novamente. Mas, naquele instante, precisava mostrar que tinha forças para seguir, porque Fernando havia arrancado dela tudo o que podia — menos a dignidade
Dona Célia permanecia de pé no corredor, observando a movimentação aflita de Bianca. O coração da senhora estava apertado; não era fácil ver a nora, que considerava como uma filha, partir daquele jeito, com o olhar triste e o semblante devastado.
Quando Bianca fechou a última mala, enxugando discretamente as lágrimas para não desmoronar diante de todos, Célia se aproximou. Seus olhos marejados brilhavam com uma mistura de compaixão e dor.
— Minha querida… — começou com a voz embargada, estendendo as mãos trêmulas e segurando as de Bianca.
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