Fernando entrou na mansão ao cair da tarde. O sol ainda iluminava os vitrais do hall principal, espalhando tons dourados pelo mármore frio. Mas, para ele, a casa parecia mergulhada em sombras. O silêncio o atingiu primeiro — um silêncio estranho, pesado, sufocante. Naquele horário estava acostumado a ouvir a voz de Bianca dando instruções à babá, os passinhos apressados de Valentina correndo pelos corredores, o som das risadas infantis ecoando pelos cantos.
Naquele instante, porém, só havia vazio.
Deixou a pasta cair sobre a mesa lateral e caminhou com passos firmes, mas o coração acelerado. Não queria admitir para si mesmo, mas temia que Dona Célia tivesse razão. Temia que Bianca tivesse realmente partido.
— Bianca? — chamou, ele, na esperança que ela ainda estivesse ali ,que tivesse mudado de ideia. a voz ressoando pela escadaria imensa. Nenhuma resposta.
Subiu os degraus de dois em dois, o peito pesado. Ao chegar ao corredor dos quartos, abriu a porta do quarto da filha. O impacto foi imediato: a cama estava arrumada, sem sinais de que alguém tivesse dormido ali. As prateleiras, antes cheias de brinquedos e bonecas, estavam quase vazias.
Só um objeto permanecia no chão, perto do tapete cor-de-rosa: um ursinho de pelúcia, gasto, o preferido de Valentina. Fernando se abaixou devagar, pegando o brinquedo nas mãos grandes. Apertou-o contra o peito com força, fechando os olhos. O cheiro da filha ainda estava ali, doce, inocente. Um nó subiu à sua garganta, mas ele engoliu em seco, recusando-se a deixar que as lágrimas viessem.
A raiva tomou o lugar da dor.
A dúvida agora o corroendo .E se Valentina fosse mesmo sua filha ? se ele estivesse se deixando levar pelo ciúme do passado de Bianca e renegando a própria filha por isso?
Desceu as escadas determinado, o ursinho ainda nas mãos. Encontrou a mãe no salão, aguardando-o. Célia tinha o olhar marejado, mas firme. Assim que o viu, foi direto ao ponto:
— Fernando… precisamos conversar.
Ele respirou fundo, caminhou até o bar na sala. Colocou o brinquedo sobre o balcão de madeira, como se fosse uma acusação silenciosa. Pegou uma garrafa de uísque, serviu-se de uma dose generosa e virou de uma vez, sentindo o líquido arder na garganta. Só então respondeu:
— Se for sobre a partida de Bianca ,a senhora precisa saber que foi melhor mesmo ela partir ,porque ela não passa de uma ordinária.
Célia arregalou os olhos, chocada.
— O que você está dizendo?
Fernando riu sem humor, enchendo o copo novamente.
— Estou dizendo a verdade. Ela me traia desde que começamos a namorar .Um tal Rodrigo, esse miserável … — cuspiu o nome como
veneno
—, é o verdadeiro pai da Valentina.
A sala mergulhou em um silêncio pesado. O coração de Célia disparou.
— Isso é um absurdo! — a voz dela tremeu, mas estava carregada de indignação.
— Quem lhe disse uma barbaridade dessas?
Fernando apoiou as mãos na bancada, os músculos do braço tensionados, os olhos faiscando ódio.
— O próprio Rodrigo. Ele veio até mim, cara a cara. Disse que a filha é dele.
Célia levou a mão à boca, incrédula.
— Assim que voltar a vê-,lá ,olhe para aquela criança! Os traços dela são todos seus, começando pelos olhos. Idênticos aos seus! Só um cego não enxergaria isso, meu filho.
Ele desviou o olhar, murmurando entre dentes:
— Coincidência.
— Coincidência? — ela quase gritou.
— Você está cometendo um erro terrível. E só espero, do fundo do coração, que quando cair em si não seja tarde demais. Bianca pode não estar mais disponível. Ela pode encontrar alguém que confie nela… que a valorize de verdade.
As palavras ecoaram pelo peito de Fernando como um punhal. Ele sentiu uma onda de calor subir, misturada com fúria. Um ciúme feroz o dominou, sufocante. A ideia de Bianca, sua Bianca, nos braços de outro homem fez o sangue ferver.
— Se ela arrumar alguém tão rápido — disse entre dentes, a voz rouca de raiva .
—, só vai provar o que eu disse desde o começo: que ela é uma ordinária e nunca me amou de verdade.
Célia suspirou fundo, os olhos preocupados, mas firmes.
— Não, meu filho. Isso vai provar apenas que ela é uma mulher linda. E que você não é o único homem do mundo.
Fernando cerrou os punhos, o maxilar trincado. As palavras da mãe ecoaram em sua mente, como um veneno lento. Ele queria rejeitá-las, queria se agarrar à raiva. Mas a imagem de Bianca sorrindo para outro homem, sendo acolhida, valorizada… o devastava.

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