Jogou o copo vazio contra a parede, o estilhaço se espalhando pelo chão. Respirava com dificuldade, como um animal ferido.
Célia, muito preocupada com ele , se aproximou devagar, mas não tentou tocá-lo. Sabia que o filho estava em guerra consigo mesmo.
— Pense, Fernando… só pense. Antes que seja tarde demais.
E saiu da sala, deixando-o sozinho.
Fernando afundou na poltrona de couro, o ursinho de Valentina ainda sobre o balcão, olhando-o como um lembrete cruel do que ele podia estar perdendo. Passou as mãos pelo rosto, dividido entre a raiva e a dor, mas, no fundo, uma parte dele já sabia: estava se agarrando a uma mentira para não encarar o medo de perder a única mulher que amou de verdade..
Algumas semanas haviam se passado desde que Bianca deixara a mansão. O apartamento simples no subúrbio, apesar de pequeno, já começava a ganhar seu toque. Flores discretas no parapeito da janela, cortinas claras para deixar a luz entrar, e brinquedos espalhados pela sala davam a sensação de um lar de verdade. Não havia luxo, mas havia calor — calor que vinha de Valentina.
A menininha, prestes a completar três anos, estava em uma fase encantadora. Corria pela sala com o ursinho nos braços, a cada dia pronunciando novas palavras.
— Mamãe, olha! — dizia, a voz infantil cheia de orgulho por conseguir articular melhor o som.
Bianca se emocionava todas as vezes que ouvia aquela palavra. “Mamãe.” Um título tão simples, mas que para ela era a maior das honras. Apertava a filha contra o peito, sentindo-se fortalecida para enfrentar qualquer batalha.
Trabalhar para Walter Mendes, no entanto, era outra história. Desde que a contratara oficialmente como relações públicas em sua empresa, ele não perdia oportunidade de se aproximar. No começo, eram apenas elogios sutis, olhares demorados, uma mão que tocava rápido demais em seu braço. Com o tempo, os convites começaram: “Um jantar, apenas para conversarmos melhor sobre o projeto.”
O assédio dele aumentou ainda mais só saber da Separação dela e Fernando.
Bianca recusava com educação, sempre firme.
— Agradeço, senhor Walter, mas prefiro manter nossa relação apenas profissional.
Mas Walter não era homem de desistir. Seu charme era calculado, insistente, envolto de promessas não ditas. E, de tanto pressionar, Bianca acabou cedendo. Não porque quisesse, mas porque estava cansada de fugir.
— Está bem, senhor Walter. Um jantar. Apenas para conversarmos. — sua voz saiu fria, quase desafiadora, como se quisesse provar a si mesma que não devia nada a ninguém.
Walter sorriu satisfeito, como um caçador que consegue encurralar a presa.
Naquela mesma noite , Bianca vestiu um vestido simples, porém elegante. Não queria impressionar, mas tampouco desejava parecer vulnerável. Quando chegou ao restaurante francês — o mesmo em que Fernando a havia levado uma vez, numa noite que ainda queimava em sua memória —, sentiu o coração bater mais rápido.
As paredes douradas, o aroma de vinho e especiarias, a música suave… tudo parecia conspirar para reabrir feridas ainda não cicatrizadas.
Walter, cavalheiro em excesso, puxou a cadeira para ela.
— Você está deslumbrante, Bianca. Ainda mais bonita do que imaginei.
Ela apenas agradeceu com um aceno discreto, tentando manter a neutralidade. Conversavam sobre negócios, projetos e trivialidades, mas Bianca sentia o olhar dele queimando sua pele.
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