Bianca sentiu o sangue ferver. A palavra “esposa” foi como uma corrente elétrica atravessando seu corpo.
— Ex-esposa. — corrigiu, fria, cada sílaba carregada de veneno.
Fernando ergueu a mão esquerda, e o brilho da aliança capturou a luz do restaurante.
— Ainda não, Bianca. — disse baixo, mas a firmeza em sua voz ecoou como um trovão.
— Eu ainda sou seu marido. E enquanto essa aliança estiver no meu dedo e sua aliança no seu , você é minha mulher.
O coração dela disparou, uma mistura de raiva e desejo, de orgulho e dor.
— Você perdeu o direito de me chamar assim no instante em que duvidou de mim , da pior maneira possível. — rebateu, os olhos marejados, mas sem perder a firmeza.
— Eu só queria a verdade. — retrucou Fernando, a voz grave, o peito arfando.
— E você me negou.
— Porque não precisava provar nada! — a voz dela subiu, quebrada, mas intensa.
— Você tinha que confiar em mim, Fernando. Mas preferiu acreditar em mentiras.
As pessoas ao redor já começavam a notar, cochichando, mas nenhum dos dois se importava. O mundo havia desaparecido; só restavam eles, o duelo de mágoas e de amor ferido.
Bianca respirou fundo, a garganta apertada. Olhou para Walter, que assistia à cena desconfortável, e tomou sua decisão.
— Walter, me desculpe. — disse, levantando-se. — Mas eu preciso ir.
Pegou a bolsa com mãos trêmulas e seguiu em direção à saída.
— Bianca! — a voz de Fernando ecoou atrás dela, quase uma ordem.
Ela não olhou para trás. Caminhou rápido, o coração descompassado, e fez sinal para um táxi que se aproximava. Quando a porta se abriu, sentiu a presença dele atrás de si, o calor do corpo, o perfume que ainda mexia com todos os seus sentidos.
— Bianca, espera. — Fernando sussurrou, próximo demais, a voz carregada de raiva e desejo.
— Me deixe em paz. — respondeu sem olhar, entrando no carro.
A porta bateu, o táxi arrancou. Mas quando ela ousou espiar pelo vidro, viu o carro de Fernando arrancando logo atrás, os faróis iluminando a noite como olhos predadores.
No banco de trás, Bianca apertava a bolsa contra o peito, o corpo trêmulo. Não sabia se tremia de raiva, de medo ou do desejo insano que aquele homem ainda despertava.
Fernando, ao volante, estava em chamas. Os nós dos dedos brancos no volante, o coração martelando como um tambor de guerra. Ele a seguiria até o fim do mundo, se fosse preciso.
O destino estava traçado. Quando o táxi parou diante do prédio simples, os faróis do carro de Fernando iluminaram a rua estreita. Bianca desceu, sentindo o olhar dele cravar-se em suas costas, e soube que não importava quantas portas tentasse fechar… Fernando sempre encontraria um jeito de entrar.
A tensão entre eles não havia morrido. Pelo contrário. Estava mais viva, mais ardente, pronta para explodir a qualquer momento.
Fernando apertava o volante com força enquanto dirigia pela avenida iluminada. O tráfego à sua volta parecia distante, abafado pelo turbilhão de pensamentos que o consumia.
Ela respirou fundo, o coração acelerado, e apertou os olhos tentando ignorar. Mas ele insistiu.
— Não adianta fingir que não está aí. Ou abre agora, ou eu vou continuar até o prédio inteiro acordar!
Bianca bufou, exasperada. Sabia que ele não desistiria. Contra a própria vontade, girou a chave e abriu a porta.
Fernando estava diante dela, o rosto sério, os olhos faiscando de ciúmes e raiva contida. O perfume dele invadiu o pequeno apartamento, trazendo lembranças perigosas.
— O que você estava fazendo jantando com Walter Mendes? — perguntou sem rodeios, a voz grave, carregada de emoção.
Bianca ergueu o queixo, tentando manter a frieza, ainda que por dentro estivesse desmoronando.
— Você já respondeu à sua própria pergunta, Fernando. Eu estava jantando..
Ele estreitou os olhos e, em dois passos largos, avançou até ela. A mão dele agarrou firme o braço dela, obrigando-a a encará-lo de perto, tão perto que o ar ficou rarefeito.
— Não se faça de cínica comigo. — rosnou, os olhos cravados nos dela.
— Você sabe muito bem o que eu quero dizer.
O peito de Bianca subia e descia rápido, o corpo inteiro em alerta.
— E se eu quiser jantar com Walter e com quem eu eu bem entender, qual é o problema? Nós não temos mais nada. — rebateu, a voz trêmula, mas afiada.

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