Bianca empurrou os ombros largos de Fernando com uma força quase desesperada. O corpo ainda estremecia pelo clímax, mas a mente gritava para retomar o controle. Ele saiu de cima dela devagar, como se ainda relutasse em se afastar. Assim que sentiu o peso dele sair, ela puxou o lençol com pressa, cobrindo-se até o pescoço, como se aquela barreira de tecido pudesse protegê-la do homem que mais a feria e a enlouquecia ao mesmo tempo.
— Pronto, Fernando. — disse, a voz embargada pela mistura de raiva e humilhação.
— Já conseguiu o que veio buscar. Agora pode ir embora e me deixar em paz.
O olhar dele ardeu como brasas, fixo nela, no cabelo desgrenhado, na pele ainda marcada pelas carícias e na respiração entrecortada que denunciava tudo menos paz. Fernando passou a mão pelos cabelos molhados de suor e deixou escapar um riso baixo, incrédulo.
— Parar de fingir, Bianca. — a voz grave ecoou pelo quarto. .
— Você adorou cada minuto do que dividimos aqui. Pode até mentir para si mesma, mas para mim não. Eu conheço cada tremor do seu corpo, cada gemido que você tentou sufocar.
Bianca desviou o rosto, mordendo o lábio para não responder. O silêncio foi sua única arma.
— Sai daqui, Fernando. — repetiu apenas, seca, olhando para a parede em vez de para ele.
Ele caminhou até a beira da cama, curvou-se ligeiramente, como se quisesse ler cada detalhe no rosto dela.
— Pelo menos… — murmurou, a voz agora mais baixa, quase um pedido
— …posso tomar um banho antes de ir?
Bianca bufou, apertando mais o lençol contra o corpo.
— Faça o que quiser. Só não demore.
Fernando se endireitou, mas antes de sair deixou cair a frase que congelou o sangue dela:
— E já que você também não se lembrou de se prevenir ....Se não estiver tomando anticoncepcional, é melhor se preparar. Eu esqueci de usar preservativo… e pode ser que acabei de fazer um filho em você.
O impacto daquelas palavras fez Bianca apertar o lençol contra o peito com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Ela ergueu os olhos, incrédulos, e encontrou o olhar dele, firme, sem remorso.
Mas antes que pudesse reagir, Fernando acrescentou com sarcasmo venenoso:
— Claro, você deve estar tomando. Afinal, com a lista de homens que frequentam sua cama… seria impossível não.
Bianca sentiu o estômago se revirar. O veneno dele cortava mais fundo que qualquer faca.
— Se me acha tão ordinária assim… — ela disparou, a voz firme, mesmo que o coração estivesse em frangalhos.
— …então me deixe em paz de uma vez, Fernando! Vá procurar a mulher perfeita que tanto procura . Quem sabe a Paola, por exemplo?
O nome caiu no quarto como um estilhaço de vidro.
Fernando arregalou os olhos, a surpresa quebrando por um instante a máscara de arrogância.
— Caralho… — murmurou, passando a mão no rosto. — A Paola… ela deve estar querendo me matar agora.-Disde ele se lembrando que deixou Paola sozinha no restaurante.
Bianca ergueu o queixo, com uma ironia amarga nos lábios.
— Será que antes de eu ir… eu posso ver a Valentina? Não vou acordá-la. Só quero olhar para ela.
Aquela súplica a desmontou por dentro. Ela fechou os olhos por um instante, respirou fundo e respondeu, com a voz firme:
— Tudo bem. Vou tomar banho na outra suíte.
Sem esperar resposta, levantou-se da cama ainda coberta pelo lençol e saiu do quarto, deixando Fernando sozinho, em meio ao cheiro de sexo, suor e desejo que ainda pairava no ar.
Ele permaneceu parado, o peito subindo e descendo, perdido entre a raiva, a paixão e um amor que nunca soube esquecer. O silêncio da casa o sufocava, e no fundo, Fernando sabia: não importava o quanto brigassem, Bianca sempre seria a única mulher capaz de destruí-lo e salvá-lo na mesma medida.
Fernando entrou no banheiro e ligou o chuveiro no quente. A água escorria forte, lavando o suor, o cheiro de sexo e a confusão que o consumia por dentro. Passava as mãos pelos cabelos, fechava os olhos, como se quisesse expulsar de si o turbilhão que Bianca sempre lhe causava.
Foi um banho rápido, mas suficiente para devolver-lhe a lucidez necessária. Quando saiu, vestiu-se com calma: calça, camisa meio amarrotada, os botões fechados às pressas, mas ainda assim mantendo a imponência natural de sua postura.
Antes de ir embora, os pés o levaram até o quarto que certamente era o de Valentina. A porta entreaberta deixou escapar a luz suave do abajur. Ele respirou fundo antes de entrar, o coração pesado e apertado.
Valentina dormia tranquilamente, abraçada ao ursinho de pelúcia . Aquele rosto pequeno, angelical, mexeu fundo com Fernando. Aproximou-se devagar, com passos silenciosos, até sentar-se na beira da cama.
Por um instante, ficou apenas olhando. Depois, com a mão trêmula, acariciou de leve o rostinho dela. A pele macia, o calorzinho infantil, o suspiro tranquilo da menina o atravessaram como uma lâmina.
“Meu Deus… será que eu sou mesmo um idiota?” — pensou, engolindo em seco.
— “Como posso duvidar que essa linda menina é minha filha? Cada traço me lembra tanto a mim mesmo … e mesmo assim eu insisto em viver nessa dúvida maldita.”

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