Walter caminhou até a porta, abrindo-a devagar, como quem não tem pressa de encerrar o espetáculo. Antes de sair, olhou por sobre o ombro e lançou um último golpe.
— Mas lembre-se, Bianca… cada vez que Fernando olhar para você, ele vai lembrar da cena que presenciou esta noite. E isso, minha querida, é uma cicatriz que nem o tempo vai apagar.
A porta bateu atrás dele, e o silêncio retornou, pesado, sufocante.
Bianca ficou ali, imóvel, com as mãos tremendo, o rosto ainda ardendo pelo choro e pela raiva. O coração parecia despedaçado, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela se erguia.
Ela havia perdido muito naquela noite — o pouco da confiança de Fernando que já estava muito abalada , a tranquilidade de seu lar, a segurança no emprego. Mas havia ganhado também uma certeza: jamais se curvaria a um homem como Walter.
Com os punhos cerrados e a respiração entrecortada, murmurou para si mesma:
— Eu vou lutar. Pelo Fernando .Pela minha filha. E nunca mais deixarei que um verme como ele me use.
A chama que ardia em seus olhos já não era apenas de dor. Era de guerra.
O som da porta batendo atrás de si ecoou como um estalo seco no corredor silencioso. Walter parou por um instante, respirando fundo, os olhos semicerrados. Sentiu a ardência na face onde o tapa de Bianca havia deixado sua marca. Passou a ponta dos dedos devagar sobre a pele, e, em vez de raiva, o que brotou nele foi um sorriso cínico.
— Bela reação, Bianca… — murmurou, quase divertido. — Finalmente mostrou alguma coragem.
Desceu os degraus do prédio com passos lentos, como se saboreasse cada segundo. Não havia pressa em ir embora; ele estava inebriado pelo gosto da vitória. Aquilo não era uma derrota, como ela talvez acreditasse. Pelo contrário: o simples fato de Fernando ter entrado naquela sala e visto o que viu já era suficiente para plantar o veneno da dúvida em seu coração.
E dúvida, Walter sabia, era mais corrosiva que qualquer facada.
Lá fora, a madrugada se estendia fria e silenciosa. A rua estava quase deserta, apenas o farol intermitente de um carro estacionado piscava ao longe. Walter acendeu um cigarro, tragou fundo e soltou a fumaça lentamente, sentindo o calor invadir os pulmões.
A imagem de Fernando furioso, saindo do apartamento de Bianca como uma fera ferida, voltava à sua mente repetidas vezes. Walter podia quase ouvir o estalo dos dentes dele se cerrando, o tom de voz carregado de fúria e dor. Ah, como aquilo era bom. Como era doce ver aquele homem, que sempre parecera invencível, se contorcer de sofrimento.
Mas, após alguns minutos, Walter balançou a cabeça, jogando a cinza no chão.
— Ainda é pouco. — sussurrou, os olhos fixos em nada. — Muito pouco.
O plano que acabara de executar tinha sido apenas uma pequena fissura no muro que cercava Fernando. O verdadeiro colapso ainda estava por vir. Walter queria mais. Queria vê-lo no chão, despedaçado, implorando por um pouco de paz.
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