Heitor parou o carro suavemente em frente ao prédio de Laura. O som do motor cessou, deixando um silêncio cheio de significados.
Nenhum dos dois disse nada.
Ela o olhou de soslaio, o perfil dele tão firme e contido, mas com os olhos carregados de algo que ela não ousava nomear — desejo, dúvida, talvez até cuidado. Ele virou o rosto, e por um instante, os olhos se encontraram, intensos, carregados do que não foi dito naquela manhã.
Laura estendeu a mão para a maçaneta, mas antes que pudesse abrir a porta, ele se inclinou. Os lábios tocaram os dela em um beijo firme, silencioso e cheio de promessas não faladas. Não foi urgente nem demorado. Foi exato. E talvez por isso, doeu mais.
Ela saiu do carro, ajeitando a alça da bolsa no ombro e entrou no prédio sem olhar para trás. Heitor ficou ali por alguns segundos, os dedos ainda fechados ao volante, como se segurasse o próprio controle. Depois, partiu.
Ao abrir a porta do apartamento, Laura foi imediatamente atingida pelo cheiro de cerveja no ar. Ela franziu o nariz e deixou as chaves sobre o balcão da cozinha, fechando a porta com mais força do que o necessário.
— Então é assim que vou continuar te encontrando todos os dias? — disse, sem sequer olhar para ele.
— Bebendo e assistindo TV nesse sofá?
Augusto, afundado nas almofadas com uma garrafa pela metade na mão e o olhar vidrado em um jogo qualquer na TV, nem se incomodou em responder de imediato.
— Bom dia pra você também — disse com desdém.
— Relaxa, Laurinha. Tá muito tensa. A vida é curta.
Ela se virou, furiosa.
— Tensa? Tensa é pouco pra quem chega em casa e dá de cara com um cara folgado como você. Mesmo me traindo e me roubando eu estendi a mão para você, Augusto... mas não confunda as coisas porque eu não disse nada que ia ficar sustentando você pelo resto da vida enquanto você passa o dia todo bebendo assistindo TV largado nesse sofá.
Ele bufou, largando a garrafa na mesinha de centro com um baque surdo.
— Olha, antes que venha com sermão... eu passei a noite inteira procurando emprego na internet. Mas, adivinha? Não encontrei nada à minha altura. Ou você esqueceu que eu sou formado em Administração?
— Augusto, pelo amor de Deus — retrucou, os braços cruzados, o olhar afiado.
— Você não está em posição de escolher nada. Se não fosse por mim, você estaria dormindo debaixo de uma ponte. Todo trabalho honesto é digno. Então trate de se situar e arrumar um.
Ele deu uma risada amarga, inclinando-se para pegar outra garrafa do cooler ao lado.
— É fácil falar isso quando se consegue um cargo de secretária de um dos CEOs mais ricos do Brasil dormindo com ele.
Laura congelou. O sangue pareceu ferver nas veias.
— O que você disse?
— Ah, não se faz de santa agora — retrucou ele, com um sorriso cínico.
— Tá claro que você nunca foi uma secretária a nível de Heitor Arantes e só conseguiu esse trabalho porque estava disposta a fazer muitos servicinhos extra para ele, se é que me entende.
— Eu consegui aquele emprego graças à minha competência e, se quer saber, quando fui contratada, não existia nada entre mim e o Heitor. Nada!
Ele ergueu as mãos, como quem recua.
— Calma, Laurinha... Não foi uma crítica. Na real, você foi muito esperta. Se eu soubesse que você era assim… tão ambiciosa, tão disposta a usar o que tem pra conseguir o que quer… eu nunca teria te trocado por outra. Eu admiro mulheres que são capazes de tudo para subir na vida.
Laura sentiu o estômago revirar.
— Eu não acredito que estou ouvindo isso.
Ela respirou fundo, tentando manter o controle. Estava cansada, magoada e farta.
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