Ela ergueu o queixo, finalmente encarando a amiga com o olhar cheio de força.
— Não sou fraca por sentir.
Sou forte por admitir.
Por não me contentar com metades.
Bianca esticou a mão sobre a mesa e segurou a dela.
— Não. Isso te faz humana. E corajosa pra admitir o que sente. Ele que é covarde demais pra fazer o mesmo.
Laura respirou fundo, os olhos marejando.
— O pior… — Laura começou, com a voz embargada, olhando para a taça de água como se ela pudesse lhe dar forças
— é que, apesar de tudo , eu o quero.
Bianca a observava em silêncio, os olhos atentos, compreensivos.
— Sinto que… vou sentir muita falta dele.
Do som da voz dele no meu ouvido…
Do toque firme, do cheiro, da maneira como ele…
Laura fechou os olhos por um instante, lutando contra as lágrimas que ameaçavam escapar.
— …como ele me possui por completo. Como se eu fosse especial para ele.
Ela respirou fundo, tentando se recompor. Abriu os olhos com um brilho amargo.
— Mas eu sei que não sou e também não sou só isso,que ele quer que eu seja , Bia. — A voz agora saiu mais firme, mesmo que trêmula por dentro.
— Eu não sou só uma mulher que delira de prazer com suas carícias e o obedece cegamente.
Bianca assentiu com um leve movimento de cabeça, encorajando-a a continuar.
— Sim, eu gosto de ser dominada no sexo.
Gosto do jogo. Da dor. Da rendição.
Gosto de me perder nele… de ser levada ao limite.
Laura tocou levemente os lábios, como se lembrasse do gosto dele.
— Mas fora da cama… — ela ergueu o queixo, a expressão ganhando força
— eu exijo respeito.
Bianca sorriu, orgulhosa.
— É por isso que você é uma das mulheres mais fortes que eu conheço. Porque sabe se entregar… mas também sabe recuar quando não é valorizada.
Laura assentiu lentamente.
— Eu não posso continuar lá. Não consigo mais olhar pra ele, fingir que tá tudo bem. O silêncio dele me corta mais do que qualquer castigo que ele já me deu como punição .
— Vai se demitir?
— Assim que voltarmos do almoço.
Bianca suspirou, mas não tentou impedir.
— Ele vai sentir sua falta, você sabe disso, né? Porque no fundo eu acho que esse cara te ama Laura ,só não é homem o bastante para admitir ,talvez porque depois da decepção com a biscate da sua ex noiva tenha medo de se apaixonar e ser traído novamente.
— Ele pode sentir. Mas vai aprender o que significa perder alguém que não era só corpo. Que era presença, entrega, parceria. E que merecia muito mais do que ser tratada como uma substituta descartável.
Laura atravessou o hall da Holding com passos firmes, a carta de demissão apertada entre os dedos. O som dos saltos ecoava como pequenos trovões. Cada batida no chão parecia dizer: acabou.
Quando chegou ao andar executivo, não esperou a ordem dele para que ela entrasse.
Empurrou a porta da sala de Heitor sem cerimônia.
Ele estava em pé, ao lado da mesa, com o paletó jogado na poltrona e as mangas arregaçadas. Ao vê-la, ergueu uma sobrancelha, como se a visita fosse apenas mais uma entre tantas.
Ela respirou fundo, engolindo a dor que vinha com cada palavra.
— Não, muito obrigada. — disse, recuando.
— Faça esse convite à sua futura secretária.
Ela caminhou até a mesa dele, jogou a carta com força sobre a madeira polida e, sem olhar para trás, pegou sua bolsa .
Laura se virou na porta, já prestes a sair, mas não resistiu.
Girou lentamente sobre os saltos e o encarou uma última vez.
— E sinceramente, Heitor... — ela disse, com um meio sorriso amargo nos lábios
— eu espero que sua próxima secretária seja mais inteligente do que eu.
Ele franziu o cenho, confuso.
Laura deu dois passos à frente e completou, com a voz cortante como navalha:
— Ao invés de perder tempo tentando arrancar algum sentimento do senhor todo-poderoso...
Que ela arranque uma boa grana. Te processando por assédio.
Ela sorriu, fria.
— Tenha uma boa tarde, senhor Arantes.
Virou-se e saiu, deixando para trás não só a Holding…
Mas um homem que, pela primeira vez em muito tempo, foi deixado.
E isso… doía muito mais do que ele jamais admitiria.
A porta bateu.
E então veio o Silêncio.

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