Foi até o banheiro. Ligou o chuveiro. A água quente caiu sobre seu corpo tenso como um alívio provisório. Mas não era o suficiente para lavar a pressão que sentia no peito. Lavou o rosto, fechou os olhos, tentando colocar em ordem o que diria ao delegado. Como manteria a frieza. Como se defenderia da mentira de uma mulher que nem conseguia lembrar.
"Karina Souza". Nunca ouvira aquele nome. Mas ela afirmava ter estado com ele no clube, o que podia ser verdade — assim como podia ser verdade que haviam transado. O que ele sabia ser mentira era ter feito algo sem o consentimento dela, e, principalmente, ter se descontrolado a ponto de quase matá-la.
Saiu do banho, secou-se e escolheu com precisão um terno escuro de corte italiano. Camisa branca, abotoada até o colarinho, e uma gravata cinza-chumbo. Passou um pouco de colônia amadeirada, ajeitou o cabelo com as mãos e, por fim, calçou os sapatos de couro.
Voltou ao quarto.
Laura ainda dormia.
Inclinou-se sobre ela com cuidado. Aproximou os lábios de sua boca e lhe deu um beijo leve, casto, mas carregado de intenção e proteção.
Aquela mulher era a razão para ele manter a calma. Era também a razão de sua vulnerabilidade.
Saiu do quarto sem fazer barulho.
O caminho até a delegacia foi silencioso. Heitor estava ao volante de seu potente Audi , último ano , dirigindo com foco absoluto, mesmo que a mente estivesse a mil. Atrás, em outro veículo, vinham dois de seus seguranças., os olhos fixos na janela, mas a mente longe dali. Atrás, em outro veículo, vinham dois de seus seguranças. Após as últimas notícias, a presença deles havia deixado de ser precaução e se tornado necessidade.
Alguns momentos depois ,assim que o carro preto com vidros escurecidos virou a esquina da delegacia, ele viu o caos formado.
Uma multidão de repórteres se amontoava diante do prédio. Microfones em punho, câmeras em movimento, flashes disparando mesmo à luz do dia. Ao primeiro sinal do carro de Heitor, um burburinho se espalhou como fogo em pólvora.
— É ele! É o Heitor Arantes ! — alguém gritou.
Antes mesmo de Heitor estacionar, os seguranças já estavam posicionados do lado de fora, abrindo caminho com firmeza, mas sem agressividade.
— Senhor Heitor, é verdade que o senhor praticava BDSM e foi muitas vezes violento ao extremo ,sem o consentimento das mulheres? — bradou uma repórter loira com microfone vermelho.
— O senhor veio confessar seu crime ?
— Quantas mulheres mais viram denunciar o senhor? Faz idéia de quantas o senhor já sodomizou ?— gritou outro, com um tom quase acusatório.
— Essa Karina Souza... é mais uma possível vítima que escapou de ser morta pelo senhor ?
As perguntas vinham de todos os lados, cortantes, invasivas. Mas Heitor não vacilou.
Desceu do carro com passos firmes, o queixo erguido, os olhos ocultos por óculos escuros.
A cada passo entre os flashes, as vozes aumentavam, mas ele seguia sem responder, cercado por seus seguranças que o protegiam de qualquer contato físico.
A tensão era palpável.
Heitor entrou na delegacia sem sequer olhar para trás.
Ali dentro, o jogo seria outro. Mas a guerra já havia começado.
A porta da delegacia se fechou atrás de Heitor com um estalo seco. O som abafado do caos lá fora ainda vibrava em seus ouvidos, mas ali dentro, tudo era silêncio tenso. Os olhos de todos se voltaram para ele, policiais, funcionários, curiosos, como se estivessem diante de uma celebridade caída em desgraça. E talvez estivessem.
Henrique o aguardava próximo ao balcão da recepção, de terno escuro e expressão preocupada.
— Você chegou rápido. — comentou o advogado, estendendo a mão que Heitor apertou com firmeza.
— Vim o mais rápido possível . — disse Heitor.
— Quero resolver isso logo.
— O delegado Rubens está nos esperando. Mas... já aviso, ele não é exatamente seu fã.
— Não estou aqui pra fazer amigos e já percebi que esse delegado não vai nem um pouco com a minha cara.
Henrique soltou um meio sorriso sem humor e o conduziu até a sala de interrogatório. O corredor parecia mais estreito do que da última vez. Ou talvez fosse a tensão que o esmagava por dentro.
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