Aurora Rossi
Ainda podia sentir os braços dele ao meu redor.
Depois que voltei para casa, tomei um banho demorado, tentando acalmar o turbilhão dentro de mim. Mas era inútil. Cada gota de água que escorria pelo meu corpo parecia levar com ela um pedaço do que fui antes daquele beijo — daquele momento.
Porque depois dele, eu não era mais a mesma.
Deitada na minha cama, com os cabelos ainda úmidos, fiquei encarando o teto, ouvindo a movimentação dos meus pais pela casa. A risada de papai ecoava vinda da sala, provavelmente vendo algum programa de culinária que adorava criticar, enquanto mamãe falava ao telefone com alguma tia distante — tentando disfarçar a saudade que nunca admitia sentir da família grande e barulhenta que deixou na Sicília.
Por fora, tudo parecia igual. Mas dentro de mim… estava tudo diferente.
Fechei os olhos e deixei que a lembrança dele me invadisse de novo. O toque gentil. O beijo reverente. O modo como ele me olhou, como se eu fosse feita de algo raro e delicado. Como se ele me visse de verdade.
Eu estava assustada, sim. Mas também havia uma parte de mim — profunda e nova — que começava a florescer. Uma parte que acreditava que, talvez, dessa vez… pudesse ser diferente.
Me levantei quando ouvi a batida na porta. Uma, duas, três vezes. Rítmica. Quase respeitosa.
— Eu atendo! — gritou mamãe do outro cômodo.
Fiquei parada no corredor, por impulso, escutando os passos dela até a porta. Senti um frio no estômago, sem saber por quê. Talvez soubesse, no fundo. Talvez já esperasse.
Ouvi a porta se abrir.
Um silêncio breve, cortado pela voz da minha mãe:
— Lorenzo?
A curiosidade me arrastou até a sala, os pés descalços tocando o piso frio. Quando cheguei, vi a cena e meu coração parou por um segundo.
Lorenzo estava parado ali, diante da porta aberta, mais arrumado do que eu jamais o tinha visto — camisa clara com as mangas dobradas, jeans escuro, cabelo penteado com um cuidado despretensioso que só ele conseguia ter. Nas mãos, dois buquês.
Um de rosas-vermelhas, vibrantes, vivas — as favoritas da minha mãe.
O outro… era de orquídeas. As brancas e lilases que eu costumava desenhar nos meus cadernos desde pequena. Meu pai dizia que orquídeas eram flores que só floresciam com paciência e cuidado. Que exigiam mais do que solo e sol. Exigiam intenção.
Fiquei paralisada por um instante.
Minha mãe, completamente surpresa, levou a mão ao peito.
— Você… — ela balbuciou — Trouxe flores?
Lorenzo abriu um sorriso tímido, e ergueu os buquês.
— Um para senhora, tia Isabella. Pelas vezes que entrei nessa casa sem a devida reverência. E o outro… — ele olhou para mim — É para Aurora. Não só porque eu quero merecer estar aqui. Mas porque tudo que eu sinto por ela não cabe mais só em palavras.
Mamãe pegou as rosas, ainda pasma, mas com um brilho evidente nos olhos. As bochechas levemente coradas pela emoção.
— Bem… essa é nova — murmurou, e olhou discretamente para mim. — Querida, acho que tem alguém aí querendo conversar com o seu pai.
Papai surgiu atrás de mim naquele instante, secando as mãos com um pano de prato. Quando viu Lorenzo, arqueou uma sobrancelha.
— Lorenzo Bianchi. — disse, cruzando os braços. — Você está lembrado da nossa última conversa? Então presumo que tem certeza do que veio fazer aqui.
Lorenzo engoliu seco, mas manteve a postura. Caminhou até ele e estendeu a mão.
— Tio Matheu. Vim pedir permissão para namorar sua filha. E tenho certeza do que quero.
O pano de prato caiu no chão.
Eu tive que morder os lábios para não rir. A expressão do meu pai era uma mistura de incredulidade, orgulho mal escondido e um traço sutil de ameaça paternal.
— Você sabe que é muito corajoso vindo aqui fazer isso. — disse ele, encarando Lorenzo como se fosse avaliar sua alma inteira por trás dos olhos.
— Sei. Mas prefiro correr o risco do que perder a chance de fazer as coisas do jeito certo. Tenha certeza que todos os avisos que o senhor falou no escritório do meu pai, continuam vivas em minha mente.
Minha mãe limpou discretamente uma lágrima do canto do olho. Meu pai permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de pegar a mão de Lorenzo e apertar firme.
— Se você machucar minha filha, nem essas flores vão te salvar. — disse, mas com um leve sorriso nos lábios. — Mas… se realmente quer fazer parte disso, então seja bem-vindo.
O alívio que vi nos olhos de Lorenzo quase me fez chorar também. Ele soltou um suspiro, meio riso, e olhou para mim com um brilho que me aqueceu por dentro.
Eu caminhei até ele, peguei o buquê de orquídeas de suas mãos, e toquei sua bochecha com a ponta dos dedos.
— Você falou realmente com eles!
— Eu disse que faria — ele respondeu, sorrindo. — E vou continuar fazendo. Tudo que for preciso.
Meu coração bateu mais forte.
Ali, diante dos meus pais, das flores, dos olhares cúmplices e surpresos… percebi que talvez o amor verdadeiro não seja só sobre paixão ou desejo. Mas sobre coragem. Sobre estar disposto a construir, dia após dia.
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