O céu estava limpo naquela manhã, mas ninguém parecia notar. A alcateia inteira estava inquieta, em silêncio, como se uma nuvem invisível pairasse sobre os telhados e os corações. As árvores estavam caladas, o vento evitava dançar entre os galhos, e até os animais da floresta se mantinham afastados. Era como se a natureza soubesse que o que aconteceria naquele dia mudaria tudo.
Os lobos andavam de um lado para o outro, preparando o local da cerimônia com flores secas e tecidos bordados. A clareira central, onde as cerimônias sagradas costumavam acontecer, estava decorada com galhos trançados, tochas acesas e pedras brancas, haviam também luzes delicadas rodeando toda a clareira e caixas de som tocando uma música ambiente. Mas, apesar da beleza do ambiente, o ar estava pesado, denso, carregado de algo que ninguém sabia explicar, ou talvez soubessem, mas fingissem não sentir.
As ômegas não tinham permissão para assistir à cerimônia de perto, estavam relegadas ao fundo, onde podiam apenas observar de longe e servir os convidados. Petra não estava entre elas.
Camilla estava em seu quarto, cercada por duas lobas mais velhas que ajustavam seu vestido branco. Era justo, longo, com mangas rendadas e detalhes prateados que brilhavam sob a luz das tochas, além de um belo decote. Seus cabelos estavam presos em uma trança impecável, adornada com flores vermelhas. Ela se olhou no espelho e sorriu com orgulho.
— Está perfeita, senhorita Camilla — disse uma das lobas.
— É Luna para você — Camilla disse, erguendo o queixo de forma orgulhosa. — Ele vai se ajoelhar quando me ver — respondeu Camilla, os olhos brilhando de ambição. — Hoje eu assumo meu lugar nessa alcateia finalmente.
No centro da clareira, os convidados já estavam reunidos. Os soldados estavam alinhados, todos com expressões solenes. O burburinho era baixo, mas constante. Murmúrios desconfiados corriam entre os presentes, todos sabiam o que aquela cerimônia representava: uma afronta, uma quebra de tudo o que era sagrado para a alcateia. O alfa havia rejeitado sua companheira e agora estava casando-se com a companheira de outro lobo.
A ausência da anciã foi a confirmação final de que algo estava errado.
Ela estava ali, sim, sentada na borda da clareira, mas se recusara a abençoar a união, estava apenas esperando aquele circo acabar para partir. O ritual, pela primeira vez em gerações, não seria conduzido pela guardiã das tradições. Coube a Ulric, o segundo lobo mais velho, assumir a função. Era um bom guerreiro, leal, mas não um espiritualista, sua presença como mestre do ritual era um sinal claro de desrespeito às raízes da alcateia.
Talvez de desrespeito à própria deusa da lua.
Quando Camilla surgiu, o silêncio caiu sobre todos.
Ela caminhava com passos firmes, decididos, como se já pertencesse àquele título. Seus olhos percorriam os rostos à sua frente, procurando aprovação, inveja, talvez até admiração mas encontrou apenas olhares de medo e alguns até de raiva. Os mais velhos claramente não estavam de acordo com aquele casamento e os mais jovens tinham medo de demonstrar qualquer coisa.
Kael já a aguardava no centro do círculo, vestindo roupas cerimoniais pretas com detalhes em prata. Sua expressão era impenetrável, fria, sem qualquer traço de emoção. Muito diferente do que se esperava para um alfa que finalmente encontrou sua companheira. Ele estava imóvel, como uma estátua feita a imagem da crueldade, seu unico interesse era terminar de romper aquele maldito vinculo com Lyra e em breve ter seus proprios herdeiros.
— Chegou a hora — anunciou Ulric, erguendo as mãos.
A cerimônia começou.
Ulric recitou as palavras antigas, invocando os espíritos da terra e da lua, pedindo proteção para a nova união. Sua voz tremia levemente, talvez pela responsabilidade, talvez pelo desconforto evidente.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo