A rachadura no chão fumegava, o cheiro de enxofre invadiu o ar e, da terra, folhas prateadas surgiam, exatamente de onde o raio havia atingido, então, uma flor completamente negra floresceu ali.Todos encaravam a cena atônitos, incapazes de compreender, aquilo nunca havia acontecido.
Camilla tentou se levantar, cambaleante.
— O que… o que foi isso?!
Kael não respondeu, seus olhos estavam fixos na marca no ombro de sua luna. Ainda estava sangrando, não havia curado de imediato como costumava acontecer.
Ulric se aproximou da fenda com expressão horrorizada.
— A deusa… rejeitou a união.
A frase fez todos ofegarem.
A cerimônia foi recusada.
A deusa da lua não abençoou a nova Luna.
O silêncio, após o raio, era quase ensurdecedor.
A decoração estava uma bagunça, a música já não soava e a rachadura no solo ainda fumegava, dividindo o círculo onde a cerimônia fora realizada. Nenhum dos presentes ousava falar, era como se a própria floresta estivesse esperando por alguém que quebrasse o encantamento sombrio que pairava sobre todos.
Foi então que a anciã se ergueu do banco de pedra onde estivera sentada todo aquele tempo. Seu cajado bateu no chão com força, e o som ecoou pela clareira como um trovão seco.
— Que todos ouçam! — sua voz cortou o ar, firme, não havia raiva em sua voz, na verdade, estava triste. — Esta união é amaldiçoada, a propria deusa a rejeitou! A escolha do alfa não foi aprovada por Celeste, e ele já havia sido avisado antes!
Os murmúrios explodiram entre os lobos. Alguns recuaram, outros se entreolharam em pânico. Até os soldados, tão rígidos em suas fileiras, pareciam abalados. Kael estava imóvel, olhos fixos na fenda entre ele e Camilla, encarando a flor negra que parecia pulsar, como se ainda tentasse compreender o que havia acabado de acontecer.
Camilla, ofegante e furiosa, se levantou do chão com o vestido rasgado e o rosto sujo de poeira. Seus olhos se voltaram para a anciã, flamejantes de ódio.
— Cale a boca, velha ridícula! — ela gritou, com a voz cortante. — Eu sou a luna agora! Você me deve respeito!
Lilian virou-se devagar, encarando-a com um desprezo que nem fez questão de esconder.
— Você nunca será minha luna, nem a luna desta alcateia — cuspiu as palavras como veneno. — Você selou a própria ruína ao permitir esse laço impuro, rejeitou seu companheiro, tomou o lugar da verdadeira escolhida… É tão culpada pela desgraça que virá quanto seu alfa!
— Impuro?! — Camilla riu, amarga. — Eu fui escolhida! O alfa me marcou! O ritual foi feito!
— Mas a deusa não o aceitou — rebateu a anciã, firme. — E isso é tudo o que importa.
As palavras de Lilian ecoaram entre todos os presentes e ninguém ousou contestar. Camilla tentou falar, mas a raiva lhe trancou a garganta, os olhos dela saltavam de rosto em rosto, buscando apoio, mas até suas amigas, que diziam que estariam sempre com ela, baixaram a cabeça. A alcateia estava em choque.
— Eu estou partindo — anunciou Lilian, voltando-se para a mata. — Não ficarei para ver a ruína desta alcateia. Sugiro que todos façam o mesmo, ser um lobo solitário é um destino menos cruel do que sofrer a fúria da deusa.
Sem olhar para trás, a velha começou a se afastar, apoiada em seu cajado, com as costas eretas e o coração firme.
Camilla gritou novamente, mas ninguém a escutava. O burburinho crescia, como um enxame prestes a se romper. A cerimônia estava arruinada e o respeito que um dia Kael teve... parecia trincar como o chão sob seus pés.
Enquanto todos estavam distraídos, uma pequena sombra se moveu entre as árvores.
Petra.
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