Bertil só conseguiu respirar fundo quando viu que os preparativo estavam em andamento. Foi então que caminhou até a área mais interna da Toca, onde as crianças ficavam protegidas. Lá dentro, Jully e Cecile cuidavam dos pequenos, alguns brincavam com pedras coloridas; outros desenhavam; alguns dormiam.
O tempo que ficaram ali sozinha fez as duas se integrarem mais a toca e, a essa altura, mesmo com o preconceito que algumas raposas tinham com lobos, elas já eram parte do grupo e todos as tratavam muto bem. Jully estava saudável e quase não se via mais marcas nela, até as cicatrizes mais antigas começavam a se curar sem o mata-lobos e com boa alimentação e cuidados constantes, Cecile também tinha ganhado peso estava mais corada e mais feliz, parecia animada entre as crianças, brincando com algumas, dando todo carinho que podia.
Jully levantou a cabeça ao sentir o cheiro dele e correu na mesma hora.
Ela o abraçou com força, o rosto enterrado no peito dele. Bertil envolveu a cintura dela, deixando o queixo descansar no topo da cabeça da companheira. Mesmo com o caos que vivia, aquele toque acalmava algo dentro dele.
Era estranho como o vínculo já não era tão ameaçador, como os dois pareciam aceitar a ligação que tinham, mesmo que não estivessem se entregando de uma vez.
Era… conforto.
— Você demorou — Jully murmurou, a voz abafada. — Eu fiquei preocupada.
— Desculpa — ele respirou fundo no cabelo dela. — As coisas sairam do controle, a luta com Atlas foi… Bem, o supremo foi levado, junto com Renee.
Jully se afastou só o suficiente para olhar nos olhos dele.
— Sobre Renee…
— Não sabemos se ela ainda está viva — ele confirmou. — Alguns ficaram revoltados, outros choraram, mas vamos lutar por ela. Todos os guerreiros.
Cecile aproximou-se devagar, segurando uma criança no colo. O olhar dela estava mais sério do que Bertil lembrava, havia raiva ali, a raiva de quem tinha sido marcada pela desgraça do rei das montanhas.
— Você quer que fiquemos? — ela perguntou. — Aqui, cuidando das crianças?
— Se quiserem — Bertil respondeu com sinceridade. — É perigoso. Atlas não vai recuar, ele está descontrolado. Vocês não precisam se arriscar.
Cecile ergueu o queixo.
— Eu quero ajudar a acabar com ele.
Jully concordou no mesmo instante.
— Eu também. — Ela apertou a mão de Bertil. — Sofremos demais na mão daquele monstro, ele não vai destruir mais nada.
Era isso, as duas estavam decididas.
Elas deixaram as crianças com uma outra moça e partiram para arrumar as poucas coisas que haviam acumulado naquele tempo curto na toca, sabiam que poderiam não voltar daquela luta, mas morreriam lutando contra o homem que transformou suas vidas num inferno.
Quando o sol começou a baixar, tingindo os canyons de dourado, as raposas estavam prontas. Todas, desde guerreiros até jovens adultos que nunca haviam lutado, mas estavam determinados a defender o povo. O grupo saiu da Toca em formação, as sombras longas, o vento assobiando pelos penhascos. A tensão era palpável, mas também havia certo orgulho, eles estavam unidos como nunca estiveram antes.
***
Na Lua Sangrenta, Lyra caminhava pelo jardim principal da alcateia, seus pensamentos estavam longe, tão longe quanto o marido que ela não conseguia mais alcançar pelo vínculo. Os olhos dela brilhavam prateados, uma luz quase febril, movida por ódio e amor ao mesmo tempo.
Ela encontrou Petra, Ignis e Helena reunidas perto das árvores mais antigas, conversando em voz baixa. A aproximação de Lyra fez as três endireitarem a postura.
— Precisamos agir antes que Atlas nos ataque — Haelena disse, direta, sem rodeios, a postura de alfa sempre presente ela sempre estava pronta para a guerra. — Invadir a alcateia das montanhas, atacar primeiro.
— Concordo — Ignis cruzou os braços, suspirando pesadamente, não gostava de guerras mas aquela era necessária, ou todo o mundo dos lobos estaria em perigo. — Se Atlas continuar com o comando do supremo pode destruir tudo, ele vai tentar pegar Lua novamente, nos antecipar nos dá a melhor chance.
Lyra respirou fundo.
— Não vamos esperar ele vir até nós — ela disse. — Vamos até ele. Não vamos repetir os erros do passado, não vamos dar a Atlas a chance de decidir quando a guerra começa. Nós decidimos. Já estou em contato com outras alcateias que vão se unir a nós, os guerreiros da ventos sombrios chegam amanhã de manhã.
As quatro mulheres se entreolharam, o comando já não pertencia aos anciãos, não pertencia aos alfas antigos, agora era delas, eram elas que seguravam a alcateia nas mãos.
— Vamos nos preparar para… — Petra começou, mas o barulho alto do portão se abrindo chamou sua atenção.
Lyra virou-se imediatamente, o coração acelerando. As luzes iluminaram a entrada quando as enormes portas se abriram de par em par.
E Bertil entrou.
A forma humana dele estava tensa, os olhos duros. Atrás dele, dezenas de raposas surgiram, todas armadas, todas preparadas e de cabeça erguida.
Lyra caminhou até ele.
— Você trouxe… todos.

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Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...