Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 176

Bertil correu como se o vento fosse sua única companhia, sua forma de raposa cortava os canyons com precisão, cada salto desenhando um rastro de poeira alaranjada que se desfazia no ar quente. Ele mal sentia o chão tocar sob as patas, a tensão em seu peito era tão grande que tudo se resumia ao movimento, ao instinto de chegar logo, ao desespero apertado atrás das costelas. A paisagem estreita e rochosa passava rápido, sombras longas projetadas pelas paredes altas dos penhascos, e o sol castigava sem misericórdia as fendas estreitas que formavam a entrada de seu território.

Quando finalmente avistou a grande fenda que dava acesso à Toca da Raposa, desacelerou apenas o suficiente para não derrubar as vigias que sempre guardavam o local. As duas raposas olhavam com estranheza ao vê-lo chegar com a respiração pesada e tanta pressa. Ele nem esperou perguntas, voltou à forma humana no mesmo instante, vendo as outras raposas se juntarem quando perceberam que ele tinha voltado.

— Bertil? — uma das sentinelas deu um passo à frente, a voz firme, mas carregada de preocupação. — Cadê a sua irmã? E a Renee?

A pergunta o atingiu como um soco seco.

Atrás dos guardas, dezenas de rostos começaram a surgir. Raposas jovens, adultos, anciões, mães com seus filhotes no colo. Todos buscavam pelo mesmo nome. Pelos mesmos passos. Pela mesma voz.

Ele respirou fundo, uma única vez, antes de deixar que a verdade atravessasse a garganta.

— Renee… — a palavra arranhou — … foi levada por Atlas.

O impacto foi imediato, como se uma onda silenciosa tivesse varrido a Toca.

Alguns choraram, outros ficaram completamente imóveis, a boca aberta, sem conseguir processar.

Uma senhora de cabelos brancos deixou cair o balde que carregava, a água se espalhando pelo chão de pedra. Dois jovens soldados rosnaram no fundo, os olhos brilhando com fúria, enquanto uma raposa adolescente se encolhia, cobrindo a boca com as mãos. Renee era a maior figura de autoridade da toca eles não tinham alfas eram de um sistema bem diferente mas todos a respeitavam como a chefe dali por sua sabedoria e seu poder de oráculo que os salvou da extinção na grande guerra.

Bertil ergueu a voz antes que o caos se instalasse.

— Escutem! — ele avançou, erguendo as mãos, o cabelo meio desgrenhado caindo no rosto. — Escutem, pessoal!

A multidão se calou aos poucos, mais pelo choque do que pela obediência.

— Renee se sacrificou por nós. — a voz dele não tremia mais, era firme, cortante, sabia que precisava ser firme e direto naquele momento. — Ela foi levada no lugar de Lua. Ela escolheu isso, e ela sabia que Atlas poderia matá-la. Sabia, e mesmo assim foi.

Um murmúrio pesado atravessou o grupo.

— Então a pergunta agora não é como salvá-la — ele continuou — porque talvez não haja mais nada a salvar….

Bertil ergueu o queixo.

— A pergunta é: o que vamos fazer com isso?

Uma raposa mais velha, larga, musculosa, deu um passo à frente.

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