— Eu me chamo Lizzie — disse a garota do sofá, voltando os olhos para a tela do celular, enquanto esticava as pernas e bocejava. — Não posso dizer que é um prazer mas acho que você já percebeu isso.
Camilla não respondeu. Apenas se manteve em pé perto da porta, envolta no manto que Samira lhe dera, com a pele ardendo e os olhos fixos nas duas mulheres à sua frente. Sentia o ar denso da cabana se entranhar em seus pulmões, misturado ao cheiro persistente de incenso e algo adocicado vindo da cozinha.
— Era ela quem você estava esperando, não era? — perguntou Samira com calma, parando ao lado do sofá e apoiando as mãos nos ombros da outra, os massageando com carinho.
Lizzie soltou um “hm” distraído, deslizando o dedo pela tela antes de finalmente erguer os olhos para Camilla novamente.
— Eu vi você nas cartas — murmurou, apontando com o queixo para a mesinha de centro. — Estava escrito que viria.
Camilla seguiu o gesto e percebeu, pela primeira vez, as cartas de tarô dispostas sobre a madeira. Estavam viradas para cima, em uma configuração que ela não sabia interpretar, mas que exalava uma energia incômoda. Três cartas se destacavam: A Lua, A Torre e A Roda da Fortuna.
— Se vocês sabiam que eu viria… podiam ter feito algo antes — disse ela, num tom irritado. — Já podia ter deixado o que eu preciso pronto, não acha?
Lizzie deu uma risadinha seca, apoiando o celular sobre o braço do sofá.
— Fazer algo? Que conceito bonitinho. — Ela inclinou a cabeça de lado e arqueou uma sobrancelha. — Não sei se você percebeu, mas não sou uma de suas empregadas que faz o que você quer na hora que você quer, lobinha. Aqui, tudo tem um preço.
— Mas eu sou a Luna da alcatéia…
Lizzie a interrompeu, balançando a mão direita com desdém:
— Não to nem ai para o que você quer, aqui, na minha casa, você é só um cachorro sarnento procurando ajuda. E eu nção sou a ong patinhas pra ajudar cachorro de rua.
— Amor, calma, já falei que não se fala essas coisas em voz alta — Samira reclamou, mas de forma doce, deixando um beijo nos cabelos castanhos de Lizzie, que pareceu não se importar nem um pouco com a reclamação da esposa.
— O que vocês querem em troca? — perguntou Camilla, o corpo tenso. — Não tenho nada de valor.
— No momento você não tem nada a oferecer mesmo… — respondeu Lizzie, cruzando os braços. — Mas vai ficar nos devendo um favor Lunazinha.
Camilla franziu o cenho.
— Um favor?
— Sim — disse Samira, com um sorriso discreto. — Quando precisarmos, você vai cumprir sua parte.
A loba hesitou, aquilo soava errado. Um favor em aberto… para duas bruxas que viviam no meio da mata e que ela não fazia ideia do que iam pedir? Era perigoso. Mas ela não tinha escolha, ou melhor… tinha, mas morrer não parecia uma opção válida.
— Tudo bem — murmurou. — Eu aceito.
Lizzie sorriu, como se já soubesse da resposta.
— Ótimo. Agora sente-se… ali. Bem ali — apontou para a extremidade do sofá, a mais afastada possível. — Não quero pegar a sua doença.
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