Lyra o observou com atenção, não havia deboche ou incredulidade em sua expressão, apenas uma estranha empatia. Era como se uma parte dela compreendesse o que era perder tanto tempo, mesmo que de formas diferentes.
— Deve ser estranho — disse baixinho. — Ver tudo mudado, tudo diferente.
— É mais do que estranho. É como se o mundo tivesse seguido em frente sem mim… e eu tivesse sido esquecido. Pelo que você ouviu falar sobre mim, eu de fato fui.
Lyra não soube o que responder, então apenas continuaram andando, o silêncio se instalando entre eles novamente, mas desta vez, não era incômodo. Era como um acordo tácito: eles não precisavam dizer nada.
O tempo passou devagar, como costuma acontecer na floresta, os sons da natureza os cercavam, pássaros chamando uns aos outros, o vento atravessando as folhas, o estalar de pequenos galhos sob os pés. River ia na frente, abrindo caminho com facilidade, como se soubesse exatamente para onde estavam indo. Lyra o seguia, os olhos cravados nas costas dele. Cada movimento era certeiro, calculado, a força dele era visível até na maneira como respirava. Mas o que realmente a incomodava… era o cheiro.
O vento soprou contra eles, e, num instante, ela foi invadida por aquela mistura intensa e viciante. Um aroma ferroso de sangue fresco, entrelaçado com o perfume adocicado de romãs e frutas vermelhas maduras. Era inebriante, familiar, perigoso.
Todos os pelos do seu corpo se arrepiaram.
Sua loba interior se agitou, inquieto, como se tivesse despertado de um torpor profundo. O coração bateu mais rápido, as mãos formigaram.
Ela sabia o que aquilo significava.
Mas se recusava a admitir.
Se recusava a dizer, sequer a pensar, que o lobo à sua frente… aquele mesmo que era uma lenda viva, um suposto monstro renascido… podia ser sua segunda chance de companheiro.
— Não — sussurrou para si mesma, baixinho, mordendo o lábio inferior. — Não pode ser.
Mas a loba dentro dela rugia impaciente, reconhecendo o que ela ainda negava.
Sempre achou que aquilo não existia, que era mais uma lenda criada para dar esperança aos fracos e controle aos fortes. Mas agora, parada no meio da trilha, encarando as costas largas de River à sua frente, não sabia mais o que pensar.
Ela não queria aquilo.
Não de novo.
A dor em sua pele lhe lembrava o motivo, a marca escondida sob o manto pulsava e ardia, ainda extremamente dolorosa, ardendo, sangrando sob a pele. E por mais que ela tentasse ignorar, ainda sentia o cheiro de seu próprio sangue. Ela era fraca demais para se curar sozinha, fraca demais até para se vingar. Só o que restava era aquela dor surda, constante… como uma maldição.
Lyra levou a mão até o quadril, apertando a região com os dedos trêmulos. Sentiu o calor, a umidade, a pele inflamada, talvez estivesse infeccionada, talvez fosse melhor assim.
Em sua mente, uma súplica silenciosa surgiu como uma prece desesperada.
“Por favor, Deusa… não me faça passar por isso de novo. Eu prefiro ficar sozinha. Prefiro não ter um companheiro do que viver mais uma rejeição...”
Seus olhos se encheram de lágrimas.
Lyra tentou conter, tentou engolir aquilo como sempre fazia, mas naquele momento, no meio da floresta, com o cheiro de sangue e romãs invadindo seus sentidos, com o passado queimando em sua carne… ela não conseguiu.
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