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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 10

O ar dentro do escritório de Kael estava pesado. Nem mesmo o cheiro amadeirado das paredes de carvalho ou o aroma de terra úmida que entrava pelas frestas era capaz de amenizar a tensão que se instalava.

A anciã estava de pé diante da mesa de madeira bruta. Sua postura era ereta apesar da idade, e os cabelos longos e prateados caíam soltos sobre o manto escuro que usava. Os olhos dela, de um verde profundo e firme, encaravam o alfa com a mesma autoridade de uma lua cheia no céu. Não tinha medo dele, via na sua frente apenas um menino mimado que não sabia o que estava fazendo, que era cruel por prazer e que condenaria todos a desgraça, cedo ou tarde.

Kael, sentado atrás da mesa, com os cotovelos apoiados e os dedos entrelaçados diante da boca, sustentava o olhar dela com impaciência. A mandíbula travada denunciava que a conversa já o irritava mais do que ele gostaria de admitir, odiava a forma como aquela velha conseguia ser inconveniente como ela o olhava de cima como se fosse mais que ele.

— Você cometeu um erro grave, alfa Kael — disse a anciã, com a voz firme como rocha. — Não apenas como líder, mas como lobo. Como companheiro.

— Eu fiz o que era de direito meu — respondeu ele, a voz baixa, mas carregada de ameaça. — Ela era minha companheira. Minha. Estava sob meu domínio e minha lei, não ultrapassei nenhum limite. É meu direito como alfa, como manda o que foi escrito no código pelos anciãos.

— A deusa Celeste não reconhece suas leis podres — retrucou a mulher, aproximando-se mais um passo da mesa. — E a grandeza que ela colocou sobre os ombros da sua companheira... você a rasgou como se fosse um farrapo qualquer.

Kael se levantou bruscamente, empurrando a cadeira para trás com um estalo seco. Os olhos âmbar queimavam de raiva.

— Eu sou o alfa desta alcateia! Eu sou a lei! — grunhiu, o peito inflando sob a camisa escura. — E você precisa me respeitar!

— E a deusa é a justiça, ela é a lei! — rebateu a anciã, sem recuar. — Você pode reinar sobre esses telhados, mas nunca será maior que o julgamento dela. Nunca!

Kael bateu os punhos sobre a mesa, fazendo alguns papéis saltarem.

— Ela era uma loba rebelde! Fraca, manipulou o laço para se aproveitar de minha posição! Com certeza estava aliada a bruxas!

— Você não tem provas disso! Está usando essa teoria infundada apenas para ter uma desculpa para a rejeição! Mas a verdade é que apenas não gostou da loba que a deusa separou para você! — gritou a anciã. — Ela era forte, capaz, era o que você e essa alcateia precisavam, a deusa não erra.

Houve um silêncio denso. As chamas da lareira à esquerda da sala estalaram de leve, como se testemunhassem a cena com pesar.

Kael virou o rosto, respirando fundo para conter o instinto feroz que se arrastava sob sua pele.

— Você está ultrapassando seus limites, velha, acho que seu tempo neste posto já acabou. — A voz dele era fria agora, cortante. — Talvez seja hora de dar lugar a outra.

A anciã o encarou por mais alguns segundos, os olhos verdes brilharam, não de medo, mas de uma tristeza profunda.

— Sei de muito mais do que você, criança.

O alfa avançou mais um passo, mas a anciã já havia cruzado a porta, levando consigo séculos de sabedoria e equilíbrio que mantinham aquela alcateia firme desde antes dele nascer. Agora, o que restava era a fúria de um lobo ferido, oco por dentro, incapaz de admitir que perdeu não apenas o respeito dos seus, mas o elo com algo maior.

Sozinho na sala, Kael girou, derrubando com um golpe seco os objetos sobre a mesa. Os papéis voaram, a madeira gemeu sob o impacto. O grito que escapou de sua garganta ecoou pelos corredores da casa principal, assustando até mesmo os sentinelas do lado de fora.

Ele respirava com dificuldade, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado.

A imagem de Lyra lhe vinha à mente com força, fazendo um gosto amargo se espalhar por sua boca.

O medo em seu olhar.

A forma como implorou para que ele tivesse piedade.

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