Segunda Chance(Completo) romance Capítulo 40

O terraço continuava o mesmo que Jessy se recordava apesar de não frequenta-lo por alguns, poucos, dias, mas percebera que algo havia mudado. Não havia sido o terraço e sim ela. Ela estava diferente. Sorriu consigo mesma diante de seus pensamentos, entretanto ao olhar para o céu vislumbrou o som brilhar tão forte quanto antes. O olhou por algum tempo ate sentir seus olhos incomodados, fechando-os em seguida.

–Tentando ficar cega? – A voz de Valentin soou autoritária e ao mesmo tempo compreensiva de uma forma que Jessy nunca escutara antes. Ela apenas se virou, enxergando-o de forma embaçada – Não deveria estar em sua mesa?

–Eu.. cheguei mais cedo – respondeu ao passar a mão pelos olhos sentindo em seguida um par de mãos quentes segurar as suas – o que..

–Quanto mais fizer isso, mais agonia irá ter – acariciou o seu cabelo de forma gentil e a abraçou, surpreendendo-a.

–Me solte, alguém pode ver.

–Não me importo – falou ao se esquecer de sua vida. Valentin percebera que quando estava ao lado daquela mulher nada costumava importar para ele. Riu consigo mesmo diante da descoberta ficando surpreso por estar com tais pensamentos apenas por Jessy.

–Valentin.. – murmurou ao fechar os olhos sentindo o aroma dele. Inebriada pelo doce frescor que ele exalava.

–Sim.

–Ate quando poderemos ficar assim?

–Ate quando? – murmurou pensativo recordando-se de Luiza – Eu não sei – tornou sincero – entretanto ficaremos juntos – prometeu mais uma vez á união deles fazendo com que um sorriso triste brotasse nos lábios de Jessy sem que ele percebesse.

“Victor também prometeu isso, e veja como nós três acabamos. Todos sem futuro ou vida.” Jessy pensou ao ter um mau pressentimento.

***

O barulho do vaso sendo jogado contra a parede já estava se tornando costumeiro entre os empregados da família Magno. Grace demonstrava todo o seu descontrole ao ver as ultimas fotos enviadas pelo detive e pela primeira vez percebera o quanto Valentin poderia ser mais problemático que Victor jamais fora.

–Eu tenho que separa-los – disse a si mesma com firmeza ao olhar para a fotografia onde Valentin beijava Jessy em frente ao hospital sem se importar com nada, apenas com ele. – Garoto egoísta, ingrato e burro. Como ele consegue cair na armadilha que esta mulherzinha fez? Ela não conseguiu Victor e esta tentando tê-lo, mas eu não deixarei. – o olhar que Grace emanava nunca fora tão determinado antes, nem mesmo quando ela havia decidido sobre o futuro de Victor, anos atrás. – Dois podem jogar esse jogo baixo – murmurou com um sorriso nos lábios ao ir em direção ao telefone. –Luiza, querida? Sim, sou eu. Apareça no hotel semana que vem ás 5 da tarde. Sim, é uma surpresa – tornou misteriosa ao esboçar um sorriso frio em sua face.

***

Por mais que Jon não quisesse demonstrar o que estava sentindo era inegável a sua tristeza. Todos estranhavam o comportamento de Jon, o qual se mostrava cada vez mais distante e solitário. Ao final de todas as cirurgias, ele se trancava em sua sala saindo apenas para operar. As enfermeiras já estavam desanimadas enquanto os médicos mais próximos demonstravam desconfiança diante do comportamento dele. Já fazia dois dias que ele não falava com Jessy. Sorriu triste consigo mesmo ao olhar para a janela e perceber que ela nunca entrara em contato com ele.

–Sou um homem bobo – murmurou ao fechar os olhos recordando-se de sua esposa – eu devo deixá-la ir ou deveria tentar, apenas uma vez? Se estivesse em meu lugar, o que faria? – indagou recebendo como resposta o silencio. Observou o modo como as folhas das arvores balançavam com o vento e o modo como as flores em sua sala estavam sem brilho. Levou alguns minutos quieto ate algo lhe passar pela mente – Se ate as flores precisam ser movidas pelo vento porque eu não posso tentar movê-la em minha direção? Eu poderia tentar uma vez. Apenas esta vez e se não der certo, me afastarei e ficarei como seu amigo, se assim desejar.

O olhar determinado de Jon escondia sentimentos de insegurança e medo. Medo por ficar sozinho se ela não o aceitasse.

***

Valentin entrou no hotel Magno pela entrada principal como não fazia a tempos. A medida que andava sentia os olhares sobre si, entretanto não se importou apenas manteve o seu semblante inalterado a medida que andava em direção ao elevador, entretanto assim que adentrou em no andar da administração avistou Jessy de cabeça baixa lendo alguns documentos. Sem perceber, parou e a observou durante longos minutos. Percebeu o modo como suas faces estavam levemente avermelhadas, o modo como seus olhos corriam pela folha de papel e o modo como um, leve, sorriso brotava em sua face. Pegou-se sorrindo e ao voltar a sua atenção para o lado, o sorriso se desfez de sua face. Viu o olhar de Vanda para ele, pigarreou esconder a vergonha que sentia. Ele havia sido pego em flagrante.

–Bom dia – as cumprimentou tentando não encarar Jessy, a qual respondeu o seu comprimento de forma polida, mas o seu olhar demonstrava a felicidade que sentia.

–Você.. – Vanda começou, mas logo se viu meneando a cabeça ao sorrir para Jessy – “O importante é que eles estão felizes. É a primeira vez desde que trabalho com Valentin que o vejo tão feliz. Tolice de Ale afirmar que eles vão acabar machucados. Pela primeira vez vejo duas pessoas felizes.” Pensou ao retornar ao seu trabalho.

Durante todo o tempo em que trabalharam nem Valentin e muito menos Jessy conseguiram se concentrar. Cada um deles imaginava o que o outro estava pensando naquele instante.

–Virei um adolescente? – Valentin murmurou ao passar a mão pelos seus cabelos nervosamente. Suspirou longamente ao tentar voltar a sua atenção para os gráficos a sua frente. Por mais que tentasse se concentrar aos poucos a imagem de Jessy ia se formando em sua mente, horas depois quando conseguira se concentrar escutou baterem em sua porta. Esperando ser Vanda deu permissão para entrar, entretanto ao ver a mulher que não saia de seu pensamento, um sorriso surgiu em seus lábios – O que deseja, Senhorita Smiths? – tornou com o semblante divertido ao ver a forma como ela o encarava – se continuar me olhando desta forma irei aceitar como um desafio.

–Desafio?

–Sim para me levantar e ir ate você. Caminharei lentamente ao mesmo tempo em que irei olhar em seus olhos para que não fuja de mim e nem de si mesma. Após isso, a abraçaria, a confortaria e em seguida irei beija-la. –a medida que falava lentamente o que faria a viu engolir em seco e encará-lo sem mover um músculo. Apenas seus olhos piscavam de forma continua – Mas não farei isso, entregue-me os documentos – falou com a voz fria ao olhar para os papeis que ela carregava em suas mãos.

Jessy o encarou sem conseguir identificar o que o fizera mudar tão rápido, mas logo forçou o seu corpo a andar em sua direção. Caminhou ate a sua mesa depositando-os em cima dela, quando estava prestes a se virar e ir embora, escutou a voz dele.

–Jessy..

–Estou indo Sr Magno – o interrompeu apressando-se para sair da sala, mas antes que pudesse abrir a porta, ele a chamou novamente – Deseja algo?

–Não seja assim – Valentin tornou após suspirar – se eu continuar a te olhar, a escutar a sua voz ou simplesmente deixa-la em minha mente.. Não irei conseguir me controlar. O que eu mais queria nesse instante era me levantar e sair daqui a levando comigo, entretanto não posso. Entende isso?

–Sim – assentiu com a voz baixa – é melhor eu ir..

–Jessy.. – murmurou antes de vê-la deixar a sua sala. Fechou os olhos e respirou profundamente para espantar a sua raiva, a qual demorara a passar. – A partir de agora será assim então reaja. – disse a si mesmo com o olhar perdido.

Assim que a porta fechou atrás de si, Jessy se deu conta do que estava fazendo consigo mesma.

–Esta tudo bem? – Vanda indagou ao ver Jessy parada em frente a sala de Valentin – ele lhe tratou mal?

–Não – negou tentando sorrir – esta tudo bem, apenas.. percebi algo.

–O que? – perguntou curiosa.

–Que certas coisas nunca mudam – disse pensativa ao caminhar ate a sua mesa, onde permaneceu ate o horário de sair. Apesar de todos os esforços de Vanda para que Jessy fosse almoçar ou comesse alguma coisa, ela negou. Jessy estava concentrada demais em seus pensamentos para perceber o quanto o seu corpo estava cansado. Aos poucos ninguém restava na parte administrativa alem de Jessy e Valentin, ambos imersos em seus trabalhos. Ao olhar para o relógio em seu pulso, horas depois, Jessy espreguiçou-se, arrumou tudo e foi em direção ao elevador, mas antes virou-se e suspirou ao olhar para a porta da sala de Valentin.

“Parece que eu estava esperando por ele.” Pensou ao entrar no elevador e apertar o botão do térreo.

***

Valentin levou a mão ate o seu ombro ao sentir uma dorzinha incomodá-lo. Com uma careta olhou para o relógio, sorrindo de forma desanimada ao perceber o quão tarde era. Pegou o seu aparelho celular e sorriu diante da proteção de tela. Uma imagem dele e de Victor juntos.

–Talvez esteja na hora.. de prestar meus sentimentos a você. – disse consigo mesmo ao esboçar um triste sorriso. Levantou-se, guardou alguns documentos e foi em direção a porta com o semblante cansado. Passou pela mesa das secretarias sem reparar no copo de café em cima da mesa de Jessy e da luz do computador acessa.

***

Jessy estancou assim que parou no saguão. Ela olhou para o homem a sua frente sem conseguir entender o motivo de sua presença, entretanto logo percebera que para ele, eles estavam iniciando uma relação amorosa. Suspirou ao caminhar em sua direção, entretanto assim que parou em sua frente, sentiu-se mal. O ar que ela tanto tentava inspirar para seus pulmões, não conseguia. Aos poucos a sua visão tornara-se turva e sem perceber, agarrou-se a algo próximo antes de sentir o seu corpo ir em direção ao chão. Jon segurava o corpo de Jessy sem conseguir entender o que havia acontecido com ela. A chamou inúmeras vezes, atraindo a atenção para si, entretanto logo percebeu o seu estado. A carregou em seu colo e foi em direção à saída sem prestar atenção no que acontecia a sua volta e no semblante aterrorizado de um homem que acabara de sair do elevador. Para Jon o que importava era a mulher em seus braços, apenas ela e ninguém mais.

Durante o percurso feito pelo táxi, o semblante de Jon era o mais sério possível. De cinco em cinco minutos contava os batimentos cardíacos dela, enquanto ligava para a emergência do hospital onde trabalhava. Ele havia feito uma promessa a Jessy e iria cumpri-la. O trajeto que fora feito acabou sendo o mais curto possível. Assim que o taxi estacionou, Jon fez sinal para que as enfermeiras se aproximassem com a maca e ajudassem ele a coloca-la.

–Levem-na para a emergência – disse tentando não demonstrar o quanto estava aflito. Jon não a examinou, mas acompanhou de perto tudo o que fazia e após algumas horas respirou aliviado ao vê-la no quarto tomando soro. –Ela vai ficar bem mesmo? – Jon indagou ao medico que a atendeu, o seu amigo Henry.

–Vai, não se preocupe. Os glóbulos vermelhos e a sua concentração de hemoglobina no sangue estão em torno de 8%. Não é algo a se preocupar tanto, mas é bom ficar de olho, afinal esses sintomas que ela tem são de uma anemia severa. Ela precisa se alimentar mais, apenas isso. Dê conselhos para ela.

–Conselhos? Não sou a melhor pessoa para isso.

–Não seja dramático – tornou sorridente – todos sabem que você tem interesse nela. É uma boa hora para se aproximar, sendo gentil, cuidadoso e protetor. As mulheres gostam disso.

–E desde quando tem experiência nisso?

–Há eu tive..antes de me casar – sorriu – ela vai continuar dormindo porque não vai pra casa? Fez plantão de ontem para hoje. Esta cansado, não esta?

–Pouco. – olhou para o relógio em seu pulso – ela deve acordar daqui a seis horas.

–Talvez sete ou oito. Me parece estar bem cansada. Vá descansar, assim que ela acordar eu te ligar.

–Ficarei um pouco com ela depois vou para a minha sala.

–Muito bem então – tocou em seu ombro antes de sair do quarto deixando-o sozinho com ela. Jon se aproximou dela, tocou em seu rosto suavemente, esboçando um sorriso triste.

–Deve estar sendo difícil para você – murmurou – eu prometo tornar tudo melhor. Vou cuidar de você. Como pode menosprezar a si mesma dessa forma? Farei tudo para protegê-la de si mesma. – Como se estivesse escutando, Jessy apenas contraiu as suas pálpebras – Vou aceitar como um sim.

***

Valentin estacionou o seu carro da melhor forma que conseguiu, enquanto sentia o seu coração bater descontroladamente em seu peito. Ele não desejava perde-la, percebera a medida que corria pelo hospital parando, primeiramente, no balcão de informação e em seguida em busca do seu quarto. Parou ofegante em frente ao quarto 708, e ao abrir a porta não moveu um músculo ao presenciar a cena a sua frente. Jessy encontrava-se deitada na cama, de olhos fechados, enquanto Jon estava sentado apoiando a cabeça na cama, segurando uma das mãos dela. Por mais que ele quisesse afasta-lo dela, não saberia o que dizer. Em silencio e com raiva de si mesmo, fechou a porta sentindo-se impotente. Ao se virar-se se deparou com um sorriso gentil de uma enfermeira.

–Quem é o medico responsável por Jessy Smiths? – indagou sério escondendo o que sentia, como aprendera a fazer desde pequeno.

–O Dr. Henry.

–Chame-o. Preciso falar com ele.

–Sim – assentiu incerta ao ir em direção a recepção. Valentin olhou para a porta mais uma vez prometendo a si mesmo que aquela situação não tornaria a acontecer.

Henry ficou surpreso ao avistar Valentin Alexander Magno em sua frente, buscando informação sobre uma mulher que não era de seu circulo social.

–Estou surpreso por vê-lo – Henry comentou ao se aproximar. Henry era filho de uma das famílias com quem a sua convivia a tempos – Então deseja saber sobre Jessy Smiths?

–O que ela tem? Não acho que seja normal desmaiar sempre do nada.

–Sempre?

–Esse seria o terceiro desmaio em menos de quatro meses.

–Entendo – murmurou- o problema dela é anemia. Devo fazer mais alguns exames assim que ela acordar, mas não precisa se preocupar. É uma amiga sua?

–Não – negou sério – me ligue se precisar de algo e – retirou o seu cartão de credito, entregando a Henry – coloque todos os gastos neste cartão. Não a deixe saber que fui eu que paguei. – Antes que Henry pudesse dizer algo, Valentin deu as costas e saiu rapidamente.

–Estranho – murmurou ao guardar o cartão e retornar ao seu plantão.

***

- Espero que esteja preparado filho para descobrir que não deve brincar comigo – Grace murmurou vitoriosa após desligar o telefone. Os seus planos enfim haviam se concretizado e logo todos saberiam, inclusive a mulher que ela mais odiava em sua vida.

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