RODRIGO
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Eu não podia afirmar que tudo permanecia igual, porque, na verdade, nada mais era como antes. Eu havia mudado e ela também.
O tempo longe, as palavras não ditas, os silêncios carregados de desejo e saudades contidas, tudo isso nos transformou.
Mas havia algo entre nós que continuava indomável, quase sagrado, o sexo entre mim e a Yanka era simplesmente surreal, como se nossos corpos se reconhecessem numa frequência que ultrapassava o plano físico. Era mais do que desejo, era necessidade. E quando nos reencontramos, depois de tanto tempo separados, a saudade que nos consumia por dentro explodiu em toques urgentes, beijos famintos e gemidos intensos, foi como incendiar uma memória viva, nada era calmo, nada era brando, era verdadeiro, como se cada segundo longe tivesse acumulado um vulcão de sentimentos prestes a transbordar, e naquela noite, finalmente, transbordamos, não só no jardim, mas no banheiro, e na conversa difícil que tivemos.
A Yanka parecia cautelosa, era compreensível diante de tudo o que eu havia feito, mas eu sabia que tudo o que ela queria era se sentir segura. Eu não sabia ainda como transmitir essa segurança para ela, mas eu fui o mais sincero possível.
Não era como se eu ainda amasse a Melissa, mas eu sentia que possuía uma dívida eterna com ela.
Eu percebi que a forma como falei da Melissa, incomodou a Yanka, e achei que se eu falasse sobre o que ela havia feito por mim, a Yanka iria entender melhor o meu lado, aparentemente ela me entendeu, mas eu não tive uma confirmação clara sobre isso, e eu tinha certeza que o assunto "Melissa" iria surgir outras vezes.
Eu também tinha algumas dúvidas, o Matheus era uma dessas dúvidas e quando perguntei sobre ele, vi que ela mudou a fisionomia do rosto, ficou tensa, e eu preferi deixar ela livre para escolher o melhor momento para entrarmos naquele assunto.
Eu não queria que a Yanka sentisse medo estando comigo, eu queria que com o tempo, ela sentisse segurança em compartilhar comigo aquilo que ela sentia e pensava.
O sorriso que ela me deu, deixou claro que aquele era o caminho.
— Como está indo a faculdade?
Preferi mudar logo de assunto.
Yanka: Estou gostando, eu já tinha uma ideia de como seria, mas o curso está superando minhas expectativas.
— Fortaleza é o lugar perfeito para você exercer sua profissão.
— Não, eu vou no seu ritmo, será do jeito que você quiser.
Ela sorriu, se levantou e eu fui deixá-la até o carro, mas antes, a beijei antes dela ir.
Quando eu entrei novamente no jardim, eu olhei para toda aquela organização, e fiquei em dúvidas se havia feito ou falado algo de errado, e o nome "Melissa" surgiu sem esforço respondendo a minha dúvida.
— Droga. Talvez a minha sinceridade precise ter alguns filtros.
Falei para mim mesmo.
Organizei tudo, depois fui para o meu quarto, o cheiro da Yanka ainda estava impressionado nele, e quanto mais eu pensava nela, mais eu tinha certeza de que ela era a mulher da minha vida, mas eu sabia que havia ainda um longo caminho até conquistar a confiança dela novamente.
Quanto a Melissa, para mim, era só gratidão, mas, certeza mesmo eu teria, quando a visse novamente, sem toda a mágoa e raiva que eu estava sentindo da última vez que nos vimos. Ela havia me colocado na cadeia, solicitado uma medida protetiva, e talvez, só talvez eu tenha sido influenciado de forma negativa por isso.
Mas, mesmo sendo só gratidão, e tendo mandado aquela carta me desculpando, eu ainda queria agradecer pessoalmente a ela, e faria isso no dia seguinte.

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