Eu fiquei ali, esperando a qualquer momento ver o Rodrigo partir pra cima do Matheus, igual um touro bravo saindo do curral.
Era o mínimo que eu esperava depois de tudo, um show de testosterona ferida, uma reprise da última briga dos dois, talvez até uma ida direta pra delegacia, com direito a boletim de ocorrência e sangue, mas nada aconteceu, absolutamente, nada.
O Rodrigo parou diante da gente, ajeitou a camiseta como se tivesse vindo entregar pizza e soltou, com uma calma que me deixou sem palavras.
Rodrigo: Bom dia. E aí, Matheus. Tudo bem?
O Matheus estreitou o olhar como quem leva um tapa invisível na cara, depois me olhou com aquela expressão clássica de “isso é uma pegadinha, né?”.
Só que ele não respondeu. Não disse um “oi”, não balançou a cabeça, nada.
Ficou só ali, estático, ruminando o veneno.
Rodrigo: Yanka, eu te liguei. Como não consegui falar com você, resolvi ir até o seu apartamento. Podemos conversar?
A vontade de rir da cara de pau dele foi real, mas o que saiu da minha boca foi mais ácido do que planejado...
— Agora não. Eu tô no meio de uma conversa com o Matheus.
As palavras saíram como um vômito quente.
Sem freio, sem filtro, sem educação, só a minha raiva berrando.
Eu vi, de canto de olho, o Matheus se ajeitando todo, surpreso, mas nitidamente satisfeito por ouvir aquilo.
Rodrigo: Tudo bem. Quando você puder, me avisa. Já vou indo.
Simples assim.
Deu as costas e foi embora, sem espernear, sem jogar indireta, sem fazer escândalo, ele virou as costas e simplesmente foi.
Eu e Matheus ficamos olhando ele entrar no carro como dois figurantes confusos de uma novela mal escrita.
A ficha ainda nem tinha caído direito quando ele quebrou o silêncio...
Matheus: O que foi isso?
— Acho que é a tal da “mudança” que ele disse que teve na prisão...
Matheus: E você acreditou nisso?
Ele me encarava como quem via um desastre anunciado e sabia que o trem ia descarrilar de novo, só não sabia o dia.
Eu permaneci calada, as palavras que escutei no apartamento da Melissa ainda estavam martelando na minha cabeça, como um tambor maldito em um loop infinito.
Matheus: É óbvio que isso não passa de um teatro. Se ele tivesse mudado, você não estaria chorando de novo.
— Matheus, deixa eu tirar essa conclusão sozinha, tá bom? Não se mete nisso.
Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia, mas eu já estava no limite.
Se tinha uma coisa que eu odiava mais do que ser enganada, era ser tratada como burra.
Ele soltou um riso seco, daqueles que não têm graça nenhuma.
Matheus: Agora você quer que eu não me meta? Oky, Yanka. Faça o que quiser. Mas depois, não se espante se acabar me procurando pra enxugar suas lágrimas. Porque eu sei. Ele vai fazer de novo.
Se cuida.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A filha do meu padrasto