Entrar Via

Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 139

Ela fez uma careta e ergueu uma sobrancelha. Aquele olhar de quem sabia que eu estava certo, e odiava admitir.

— Argh... você tem noção de como você é insuportável às vezes?

— E irresistível. — respondi, jogando charme, mas a verdade é que eu só não queria ir sem ela.

Ela revirou os olhos e soltou um suspiro.

— Me dá quinze minutos. Vou me arrumar.

Assenti, e ela foi pro quarto, fechando a porta com um “pá” típico dela.

Eu fiquei com Gabriel ali na sala, ainda com ele nos braços. Ele me olhou de lado, curioso.

— Vocês dois vão namorar de novo?

Eu dei uma risada e afrouxei o abraço, só pra olhar bem aquele rostinho atento.

— Sua mãe é esperta, Muito esperta. E eu... — suspirei, pensando em como explicar. — Eu fiz ela se machucar. Tipo quando a gente cai e rala o joelho, sabe? Só que no coração. E agora ela tá brava comigo.

Ele franziu a testa, pensativo, como se estivesse processando aquilo. Então, com a maior naturalidade do mundo, disse:

— Ela gosta de chocolate. Com coco.

Eu travei por um segundo, surpreso.

Chocolate com coco.

Claro. Como eu não lembrei disso antes? Toda vez que eu trazia algo doce pra casa, ela só pegava se fosse com coco. Uma vez ela disse que era o sabor da infância, da vó dela.

Eu encarei Gabriel, sorrindo, apertando ele com mais carinho ainda.

— Obrigado pela dica, campeão.

Ele abriu um sorriso tímido, daqueles de criança que acha que tá ajudando a salvar o mundo e talvez, naquele momento, estivesse mesmo.

Mesmo que ela ainda achasse que eu era um babaca e ela não estava tão errada assim. Mas até um babaca pode tentar fazer a coisa certa.

E eu ia fazer. Começando com chocolate e coco.

***

Eu estava encostado no capô do carro quando ela apareceu. Cabelos presos num coque meio bagunçado, vestido claro, sandália baixa. Simples e linda. O tipo de beleza que não precisa de esforço pra arrancar o ar dos pulmões.

Gabriel veio correndo atrás, com a mochila nas costas maior que ele. Uma cena que deveria ser banal, mas me arrancou o ar. A minha cria ali, correndo na minha direção como se tudo estivesse certo no mundo.

— Tá pronto, campeão? — perguntei, me agachando pra falar com ele no nível dos olhos.

— Tô! A vovó Teresa vai ter pão de queijo? — os olhos dele brilhavam.

Sorri.

— Se eu conheço ela, vai ter pão de queijo, bolo, biscoito... e provavelmente vai tentar te dar uns trocados escondido.

Ele riu, encantado com a ideia.

Larissa chegou mais perto, já segurando a chave do carro.

— A cadeirinha tá instalada no meu carro. É melhor ir com ele.

— Eu dirijo então. — falei no impulso, como se isso fosse algo negociável.

Ela me lançou aquele olhar que dizia “não começa, Alessandro”, mas só suspirou e me entregou a chave depois de uns segundos de relutância.

Entrei no lado do motorista. Gabriel pulou animado para o banco de trás e eu ajustei o banco da frente, tentando dar mais espaço para as perninhas inquietas dele.

— Coloca a música, moço! — ele disse, empolgado.

"Moço". Eu teria preferido "pai", claro. Mas ele só tinha três anos. Tinha acabado de descobrir quem eu era. E mesmo assim… me chamar de "moço" com aquele sorrisão já me fazia sentir parte de algo que eu achei que nunca teria.

— Qual música você quer ouvir?

— Aquela do “b**e palma, faz o coração b**er!” — disse com toda certeza do mundo, como se fosse o hino nacional infantil.

Revirei os olhos, sorrindo.

— Isso é novo pra mim, hein — murmurei, mexendo nas playlists até encontrar o bendito remix.

Quando a música começou, o carro virou uma festa infantil sobre rodas.

— Mais alto! — Gabriel gritou.

Aumentei um pouco. O suficiente pra ver Larissa tentar segurar o riso.

— Isso é sério mesmo? — perguntei, de canto, mal acreditando que aquele som de bateria eletrônica e palmas era real.

Ela balançou a cabeça, já rendida ao caos.

— Ele tá viciado nessa música. Já ouvi trinta vezes só essa semana.

— Trinta e uma, agora — comentei, soltando uma risada baixa.

Gabriel começou a dançar na cadeirinha ou ao menos tentou, mexendo os ombros e batendo palma de forma completamente aleatória.

— Olha, mãe! O moço não sabe dançar! — ele disse, gargalhando.

— Ainda bem que ele tá dirigindo. Senão a gente batia.

— Respeita o dançarino aqui, hein — falei, fazendo um passinho ridículo com a mão só pra provocar. — Já dancei muito forró nos bailes da minha avó.

— Meu Deus, acho que não. — ela sussurrou.

— Tá dançando igual o Rafa! — Gabriel soltou, rindo alto.

— Ei, opa! Aí já é ofensa — falei, olhando pelo retrovisor. — Vou ter que treinar mais.

O carro seguiu assim por alguns minutos. Eu ao volante, tentando parecer indiferente, quando por dentro tudo em mim gritava que aquele era o lugar onde eu devia estar: dirigindo com os dois ali comigo, com risos no ar e aquele sentimento de... casa.

Logo a música terminou, e Gabriel ficou olhando pela janela.

— Será que a vovó Tereza vai gostar de mim? — ele perguntou, meio tímido.

Me virei de leve pra olhar pra ele.

— Acho que ela vai te apertar tanto que você vai virar bolinha.

— Igual bolinha de sabão?

— Igualzinha — respondi, rindo. — É a primeira vez que você vai ver ela e o vô Lúcio. Eles vão te adorar, Gabriel.

Larissa se virou também, com um sorrisinho discreto.

— Eles sempre gostaram de crianças.

Eles entraram e eu fui o último a cruzar a porta.

E enquanto eu via minha avó agarrando Gabriel, meu avô puxando Larissa pra sentar à mesa, e os dois rindo e falando como se ela nunca tivesse ido embora… eu fiquei parado.

Parado, encarando aquela cena como um estranho olhando uma vitrine.

Aquele sorriso no rosto da minha avó, aquele carinho sincero, aquele espaço… que sempre foi da Larissa. Talvez mais do que meu. Talvez mais do que eu mesmo soube valorizar.

Eu sabia que minha família gostava dela. Mas ali, vendo tudo, eu entendi a profundidade. Eles a amavam. E ela pertencia ali, com uma naturalidade que me esmagava por dentro.

Me aproximei, tentando me misturar à cena. Fingindo que aquilo tudo não estava me dilacerando. Porque o pior de tudo... é que eu não fazia mais parte desse riso.

Eu era só o idiota tentando reaprender a sorrir do lado de fora.

Mas hoje... pelo menos hoje... eu estava aqui. E eu ia fazer valer cada segundo.

A mesa já tinha risos, xícaras vazias e farelos de pão de queijo espalhados. Gabriel conversava animado com meu avô, contando com orgulho como sabia montar um quebra-cabeça de 200 peças.

Larissa sorria, mas eu sabia ler aquele sorriso. Era o mesmo de quando ela disfarçava cansaço, quando a mente dela estava longe, escondida em outro canto.

— Vem cá, Alessandro — minha avó disse, acenando com a mão. — Fica do lado da Larissa. Vamos fazer uma foto da família. Quero guardar esse momento pra sempre.

Meu coração deu um pulo tão ridículo que senti vontade de rir de mim mesmo. “Família”. Essa palavra ainda me fazia sonhar acordado.

Me levantei, fingindo naturalidade. Gabriel já estava no centro da sala, de braços abertos, se posicionando como o rei do retrato. Larissa demorou um segundo. Só um segundo... mas foi o suficiente pra eu perceber a hesitação.

O jeito como ela ajeitou a barra do vestido sem necessidade, como desviou o olhar pra parede como se algo ali fosse mais interessante.

Ela levantou devagar, caminhou até onde a avó estava indicando e ficou ao lado de Gabriel. Eu fui logo depois.

— Mais perto, Alessandro — Teresa pediu, sorrindo enquanto ajustava a câmera. — Quero ver vocês três juntinhos!

Me aproximei, mão encostei. Não fui idiota. Só fiquei suficientemente próximo pra sentir o perfume dela.

De canto de olho, vi o ombro dela ficar mais tenso. Como se cada centímetro que eu chegasse perto, ela sentisse como uma pressão invisível. Um limite. Um lembrete.

Ela não me afastou e nem olhou pra mim. Só... ficou ali. Firme. Com um meio sorriso educado nos lábios. Aquele tipo de sorriso que dizia: "tira logo essa foto e me deixa voltar a respirar."

— Pronto! Um, dois, três... — Teresa contou.

No instante em que o clique soou, Gabriel gritou:

— Mãe, eu tava com o olho fechado!

— Tira outra, vó! — ele pediu, rindo.

— Ah, claro, meu amor! — Teresa se empolgou. — Mais uma!

Eu aproveitei. Me inclinei um pouco mais, fingindo ajustar o cabelo de Gabriel, mas foi só pra ver o rosto dela mais de perto. Larissa mordeu o lábio inferior disfarçadamente. Era um gesto que eu conhecia. Ela fazia isso quando estava segurando a emoção, ou raiva ou tudo junto.

Eu senti meu peito apertar. Uma vontade quase infantil de tocá-la, de dizer que tudo podia ser diferente agora.

Mas aquele corpo rígido do meu lado dizia outra coisa. Dizia que ela estava ali por Gabriel. Por Teresa. Por educação.

Não por mim.

— Pronto! Agora sim! — Teresa comemorou depois do segundo clique. — A foto ficou linda. A família mais linda que eu já vi.

Larissa recuou no mesmo segundo. Como se alguém tivesse desligado o botão que a mantinha ali congelada. Foi até a mesa, pegou o copo de suco e bebeu em silêncio.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra