Marcus seguiu seu olhar e arregalou os olhos, surpreso. Do outro lado da rua, uma mulher elegante caminhava tranquilamente, vestindo um vestido branco com pequenas flores azuis que se ajustava delicadamente à sua cintura, e um chapéu combinando que dava um toque clássico ao seu visual. Em seus braços, carregava um pequeno buquê de flores, abraçando-o contra o peito como se fosse um tesouro. Seus passos eram calmos, firmes e graciosos, como se dançasse a cada movimento.
Marcus trocou um olhar rápido com Daniel e sussurrou, sem conseguir conter o espanto:
— É ela, não é?
Daniel balançou a cabeça lentamente, os lábios entreabertos. — Parece muito… Mas deve ser alguém muito parecida.
Marcus voltou os olhos para John, que continuava alheio a tudo, perdido no próprio silêncio pesado. Pensou em dizer algo, mas se conteve. John não dava abertura para falar sobre Elizabeth, preferiu não falar que estava vendo uma mulher muito parecida com ela. Afinal se era ela, por que estaria ali sozinha e sem o conhecimento de John?
Os dois se olharam intrigados e a dúvida se comentava ou não com John ficou pairada no ar. Eles não sabiam que Elizabeth havia desaparecido.
John, porém, não se virou. Continuava olhando fixamente para o vale, completamente imerso em seus pensamentos, os dedos tamborilando sobre a xícara de café. Se ao menos tivesse lançado um olhar breve para trás, teria visto a figura feminina que acabara de dobrar a esquina, iluminada pelo sol suave do fim de tarde.
Elizabeth
Pouco antes…
Elizabeth saiu da cafeteria com um leve sorriso nos lábios. O céu estava limpo, tingido por tons alaranjados, e o ar fresco. Cruzou a rua com passos tranquilos, o vestido esvoaçante suavemente ao redor das pernas e o chapéu protegia seu rosto. Andou alguns metros até a floricultura.
Ouviu o som distante de motos, mas não deu importância. Era comum motociclistas passarem por aquela rua, com o ronco grave de motores ecoando.
Ao entrar na pequena floricultura, foi recebida com familiaridade.
— Boa tarde, senhorita Elizabeth — disse o senhor Carter, um florista de meia-idade com bigode espesso e olhar gentil. Suas mãos estavam manchadas de terra e suas unhas, limpas, mas curtas. — Como tem passado?
— Muito bem, senhor Carter. Obrigada por perguntar.
— E o que vai querer hoje?
Elizabeth percorreu as prateleiras repletas de vasos coloridos. Seus olhos brilharam ao encontrar uma tulipa solitária num vaso de cerâmica branca. Ao lado, um buquê de flores campestres lhe chamou atenção, com pequenas margaridas brancas misturadas a ramos verdes.
— Minha varanda está ficando linda — comentou, ajeitando o chapéu com delicadeza. — Qualquer dia trago uma foto para o senhor ver.
— Vou cobrar essa promessa, viu? — disse Carter, sorrindo, enquanto embrulhava as flores em papel kraft amarrado com barbante rústico.
Caminhou pela calçada calmamente, sem saber que não era apenas observada por Daniel e Marcus, dobrou a esquina e seguiu seu caminho. Do outro lado da rua, outro homem a viu de longe, parcialmente oculto atrás de um carro estacionado. Seus olhos a seguiam com intensidade, um leve sorriso se formou em seus lábios.
*****
O sol já havia desaparecido completamente no horizonte quando os três deixaram a cafeteria. O céu estava tingido de azul-escuro, salpicado pelas primeiras estrelas da noite. O ar fresco fazia com que o couro das jaquetas mantivesse o corpo aquecido enquanto se aproximavam das motos estacionadas ao longo do meio-fio.
John colocou o capacete em silêncio, ajustando-o com movimentos automáticos. Marcus e Daniel trocavam olhares constantes.
— Prontos? — perguntou Marcus, tentando soar casual enquanto montava em sua moto.
— Sempre — respondeu Daniel, mas seu olhar voltou involuntariamente para o outro lado da rua, onde não via mais sinal da mulher de chapéu e andar gracioso.
John ligou a moto sem dizer nada.. Em seguida, as três motos partiram, deixando para trás a pequena e pitoresca cidade e John sem saber que Elizabeth estava ali tão perto.
A estrada à frente era longa e sinuosa. O vento frio da noite batia contra o corpo deles enquanto avançavam pelas curvas. John mantinha a velocidade constante, os olhos fixos na estrada
Daniel o observava pelo retrovisor da moto, preocupado. Podia sentir que algo pesava sobre os ombros de John, mais do que o cansaço do trabalho ou o frio cortante da noite. Havia um silêncio diferente nele naquela viagem.
Quando chegaram à cidade, as luzes dos prédios altos surgiram no horizonte. Enquanto diminuía a velocidade ao entrar na avenida principal, o sinal vermelho os fez parar. Daniel erguendo a viseira levemente para ser ouvido:
— Vai direto pra casa?
John assentiu com a cabeça.
— E vocês? — perguntou, a voz abafada pelo barulho dos motores.
— Também, foi um dia longo — respondeu Daniel. — Mas, John… — ele hesitou por um segundo. — Qualquer coisa… qualquer coisa mesmo, você sabe que pode contar com a gente, não sabe?
— Eu sei.
Naquele momento, o semáforo ficou verde, e eles seguiram cada um para seu destino.
John
A notícia de que o senhor Walker havia chegado à sede do grupo espalhou-se como fogo em palha seca.
Os grupinhos que conversavam nos corredores, tomavam café ou riam e contavam piadas despreocupadamente, se desfizeram num piscar de olhos.
Quando John entrou no andar administrativo, todos já estavam concentrados em suas estações de trabalho.
John sabia exatamente como aquilo acontecia. Bastava atravessar a porta principal do saguão para que a recepcionista do térreo fizesse sua discreta, e única, ligação. A partir dali, em poucos segundos, a informação percorria todos os andares, como uma corrente elétrica.
Em outros tempos, ele talvez tivesse achado graça. Mas agora, o que lhe restava era um semblante sombrio.
Passou por Anne que lhe lançou o tradicional “bom dia” com um sorriso ensaiado. John respondeu apenas com um aceno seco, sem parar ou diminuir o passo.
John se recostou na cadeira, olhos fixos em Carlson, sem piscar.
— Você está querendo me dizer que um médico é mais esperto que uma equipe de agentes altamente treinados?
— Com todo respeito, senhor... não temos certeza de que o doutor Saints esteja envolvido.
John bateu com força a mão na mesa, fazendo Bruce se sobressaltar.
— Ele está. — disse, a voz grave ecoando na sala. — Ele sabe que está sendo vigiado. E está nos enganando.
Carlson e Bruce trocaram olhares rápidos, quase imperceptíveis. Então Carlson respirou fundo.
— Então, talvez devêssemos jogar o jogo dele. — sugeriu.
John ergueu o olhar, intrigado.
— Explique.
— Se ele está nos enganando, vamos fazer o mesmo. — completou Carlson, com um leve sorriso que não chegou aos olhos. — Criamos uma distração, algo que tire a atenção dele do nosso monitoramento. Ou talvez ele pense que desistimos, ele pode relaxar. E aí, senhor, ele pode cometer um erro.
John permaneceu em silêncio por alguns segundos. Então, um sorriso frio surgiu em seus lábios.
— Então vamos mudar a abordagem. Tenho certeza de que ele nos levará até ela. Muito bom, Carlson.
— Sim, senhor.
Assim que Carlson saiu, Anne entrou com olhar preocupado.
— Senhor Walker, a senhorita White está lá embaixo e ameaçou fazer um escândalo caso não a autorize a entrar.
John não queria lidar com Pamela, mas mudou de ideia, talvez agora ele realmente queira a companhia dela. com um sorriso calculado virou-se para Anne.
— Pode autorizar a entrada da senhorita White.
Anne saiu aliviada, fechando a porta rapidamente. Não queria confusão.
— Pode ir Bruce.
— Com licença, senhor.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...