Elizabeth
O senhor Frank West guiava Elizabeth pelo imóvel com a calma de quem conhece bem cada canto do lugar. Havia retornado recentemente à cidade e, ao saber de seu interesse, entrou em contato com ela para agendar uma visita.
Elizabeth analisava o espaço com atenção. Era um imóvel de dimensões agradáveis, nem grande demais, nem pequeno demais, ideal para algo íntimo e acolhedor, exatamente como ela sonhava. Os olhos percorriam cada detalhe do salão principal, imaginando as mesas dispostas sob luz suave, o aroma vindo da cozinha e especiarias pairando no ar.
— E então, o que achou, senhorita? — perguntou o senhor West, um homem alto, de expressão serena, com cerca de sessenta anos e voz pausada, quase paternal.
— Gostei muito. Tem potencial — respondeu ela, caminhando com passos calmos pelo local.
Ele a acompanhava de perto, enquanto ela explorava cada espaço com olhar crítico e ao mesmo tempo encantado. Ao entrarem na cozinha, o contraste era evidente, diferente do salão, o ambiente estava visivelmente degradado.
— Essa parte vai precisar de uma boa reforma. Os últimos inquilinos não foram exatamente cuidadosos — comentou Frank, olhando em volta com resignação.
— Quanto tempo o senhor acha que levaria para concluir as obras? — ela indagou.
— Acredito que algumas semanas. Posso começar o quanto antes, se desejar.
— Por mim, tudo bem. Vou conversar com meu sócio. E quanto ao contrato de locação, podemos assinar após a reforma?
— Claro. Não vejo problema. E se quiser sugerir qualquer modificação no projeto durante a obra, sinta-se à vontade — respondeu ele com um sorriso cordial.
— Ótimo. Fico aliviada em saber disso — disse Elizabeth, sentindo o entusiasmo crescendo em seu peito.
Depois de alinharem os últimos detalhes, ela saiu do imóvel com um sorriso confiante nos lábios. Seu restaurante, finalmente, começava a ganhar forma, não mais um sonho distante, mas um projeto em construção.
Enquanto caminhava pela calçada, um homem que caminhava do lado oposto da rua diminuiu o passo ao vê-la. Alto, de aparência distinta e olhar atento, parecia ter parado por um instante no tempo. Elizabeth não o percebeu de imediato, mas ao ver que ele mudou a direção, seus olhos cruzaram com os dele.
Ele a observava discretamente, com a mesma expressão intrigada, era o mesmo homem com quem cruzou dias atrás. O mesmo olhar respeitoso, porém fixo. Elizabeth lançou um rápido olhar e seguiu seu caminho.
John
No escritório John estava acabando de ler o último relatório da equipe sobre a investigação do desaparecimento de Elizabeth. Jogou a pasta sobre a mesa e deu um longo suspiro. Passou as mãos pelo rosto visivelmente angustiado e desanimado.
Nada. Era como se ela tivesse evaporado.
O telefone tocou e ele olha para ver quem era. Ultimamente não atendia ninguém. Quase ignorou a chamada pensando que fosse sua mãe ou Pamela, mas decidiu olhar.
Era Daniel. Ele também não tinha atendido as ligações dele e de Marcus, nem respondido suas mensagens. Por isso atendeu, não podia se isolar de todos e havia tempo que não conversava com seus poucos amigos.
— E aí, cara? Como você tá? — a voz de Daniel soou leve, quase despreocupada.
— Muito ocupado — respondeu John, a voz rouca, carregada de cansaço. O amigo percebeu de imediato.
— Você anda sumido. Tem tempo que não pegamos a estrada. Tá livre neste fim de semana?
John hesitou por alguns segundos. Olhou para o monitor, depois para a janela do escritório. Ele precisava respirar.
— Ok. Estou precisando sair um pouco. - Disse por fim.
— Ótimo. Vou avisar o Marcus. Nos vemos sábado de manhã.
John desligou e permaneceu com o celular nas mãos por um instante.
Elizabeth
Ao chegar em casa, Elizabeth pousou a bolsa sobre o pequeno sofá da sala e ligou para Adam para compartilhar a novidade sobre o restaurante.
— Isso é uma ótima notícia — disse ele, após ouvi-la contar com entusiasmo sobre a visita ao imóvel.
— Sim! O lugar é excelente. Precisa de algumas reformas, mas a estrutura é boa, e fica bem no centro gastronômico da cidade. Um ponto estratégico.
— Fico muito feliz por você, Lizzie. Mas escute — a voz dele assumiu um tom mais sério. — Não assine nada em seu nome, está bem?
— Entendi. O proprietário foi bastante flexível. Disse que o contrato de locação pode ser assinado só depois que a reforma estiver concluída. E que, se eu quiser, posso sugerir modificações durante as obras.
— Ótimo. E está precisando de alguma coisa? Posso adiantar o dinheiro, se for o caso.
— Por enquanto, não. Mas se precisar, eu te aviso — respondeu com gratidão.
— Estarei aqui, torcendo por você. — A voz de Adam soava terna, protetora, como o carinho sincero de um irmão.
— Obrigada… e manda um beijo pra Sara.
— Pode deixar. Fica com Deus, Lizzie.
— Vocês também.
John apenas respirou fundo, apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos. Observava o vale à frente e o céu tingido de tons dourados pelo pôr do sol.
Daniel, então, se inclinou para frente, fitando-o com seriedade.
— John… posso te fazer uma pergunta?
John voltou a olhá-lo, o maxilar tenso. — Fala.
— Por que você realmente casou com a Elizabeth?
O silêncio que se seguiu foi tão profundo que até Marcus, que mexia no celular, ergueu os olhos e os encarou. A pergunta pairou no ar.
John manteve o olhar fixo em Daniel, sem piscar, como se buscasse a resposta dentro de si mesmo. Ajeitou a postura, se recostou na cadeira e respondeu com frieza controlada:
— Foi necessário.
— Necessário? — Daniel insistiu, a voz baixa, mas firme. — Ela não parece alguém que você escolheria apenas por necessidade.
John bufou, impaciente, desviando o olhar do amigo.
— Nem tudo na vida é sobre escolha, Daniel. Algumas coisas… simplesmente acontecem.
Daniel franziu o cenho, ainda sem se convencer, mas antes que pudesse dizer algo, a garçonete retornou com as xícaras fumegantes de café e as fatias de torta de limão cuidadosamente montadas em pratos de porcelana.
— Aqui está, senhores. Aproveitem.
Os três agradeceram, mas o clima havia mudado. Enquanto Marcus começava a comer em silêncio, Daniel mexia o café distraído, analisando o amigo à sua frente.
John pegou sua xícara, mas antes de levá-la aos lábios, murmurou, quase para si mesmo:
— Nem tudo é tão simples quanto parece.
De repente Daniel franziu o cenho, os olhos fixos na rua. Sua expressão chamou atenção de Marcus.
— O que foi? — perguntou, virando-se levemente.
— Não sei… — murmurou Daniel. — Por um momento, achei que tivesse visto alguém. Mas é impossível. Deve ser só parecida.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Amargo Contrato de Casamento
Olá, quero deixar aqui meus sinceros parabéns por essa linda história, eu amei. Que Deus abençoe vc e toda a sua família...
História linda e emocionante como a fé e o amor são capazes de transformar vidas....
Maravilho...