Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 32

Olhei para trás e lá estava Oliver, daquele jeito dele, olhar duro e sério.

— Como você sai do hospital e não avisa a ninguém? — Falou alto e bravo.

— Eu iria avisar senhor. — enxugava minhas lágrimas disfarçadamente.

— Quando? Quando se perdesse na cidade? — disse nervoso.

— Só estava respirando um pouco de ar puro.

Oliver se sentou ao meu lado, o que me deixou um pouco sem graça.

— Aproveitou que está maior de idade e já começou a mostrar a sua independência? — Me encarou. — Você não tem intenção de voltar para a fazenda não é mesmo?

— Claro que vou, eu só ia almoçar primeiro.

— Fala sério Aurora, suas coisas estão praticamente tudo aí dentro desta bolsa.

— Você sabe porque tenho poucas peças de roupa, não trouxe nada de minha casa quando vim morar aqui.

— Tudo bem desculpas. Mas você não está querendo voltar não é?

— Claro que iria, eu só estava espairecendo um pouco, fiquei dentro daquele hospital sem ver a luz do sol, queria descansar um pouco antes de pegar a estrada.

Oliver ficou quieto, parou de me encarar e começou a olhar a paisagem a nossa frente, ficamos em silêncio por algum tempo, até eu quebrá-lo.

— O que o senhor faz aqui?

Ele voltou a me encarar, mas não disse nada.

O silêncio constrangedor voltou com forças, Oliver me olhava, e acabou que comecei a olhá-lo também.

Notei o quanto ele era bonito, seus olhos penetrantes, sobrancelhas e nariz bem desenhados e a boca, nossa! A sua boca era perfeita. Lembrei-me do seu beijo naquela noite frustrante, e logo meu rosto queimou de vergonha alheia.

“Ele te beijou pensando em outra pessoa, boba.”

Minha consciência me alertou, e logo desviei o olhar.

— Vim buscar você, o Joaquim pediu folga hoje, a mulher dele não está se sentindo muito bem, então ele está cuidando dela.

— Como soube que eu já havia saído do hospital?

— O médico me ligou avisando.

— Entendi.

— Não quer voltar, não é?

— Claro que quero! É que eu ia antes procurar um lugar para comer primeiro, depois ligaria para virem me buscar.

— Por que não come em casa? — Insistiu.

— O nutricionista disse que eu não podia pular refeições, achei que iria demorar de chegar na fazenda, mas, tudo bem, então vamos?

Me levantei e peguei minha bolsa, comecei a caminhar, mas Oliver continuou sentado.

— Iria aproveitar o dia não é? — perguntou ainda sentado.

— O quê? — Perguntei confusa.

— É seu aniversário, você iria aproveitar o dia não é mesmo?

— Eu só iria caminhar um pouco. — Falei tímida.

Fiquei com vergonha, Oliver fazia parecer que eu queria ficar longe da fazenda, mas eu sabia que quando chegasse lá, ficaria do mesmo jeito que estava no hospital, em repouso. Então eu só iria espairecer um pouco antes de voltar.

Oliver se levantou e veio até mim.

— O que quer comer? — Perguntou.

— Quê? — Sua pergunta veio de surpresa. — Bem, o que Denise tiver preparado eu como.

— Não vamos para casa agora, comeremos por aqui, está quase na hora do almoço, e o médico disse que você não pode pular refeições.

— Comerei qualquer coisa, senhor.

— Vamos!

Pegou a bolsa que estava em minha mão e saiu caminhando em seguida, eu o segui, logo chegamos ao carro e entrei, fiquei sem graça por sentar no banco da frente ao lado dele, enquanto dirigia eu ficava em silêncio e observava a cidade, ele virou em uma rua muito bonita e estacionou o carro em frente a um lindo e chique restaurante.

— Vamos?

— O quê, almoçar aqui?

— Claro, é um restaurante não viu? — Simpático como uma mula respondeu.

— Desculpa senhor, mas eu não vou não!

Oliver já havia descido do carro, e ficou me observando com a porta aberta.

— Por quê?

— Olha para mim e olha para esse lugar. — Mostrava o obvio.

Eu havia acabado de sair de um hospital, pálida igual uma folha de papel, além disso, estava mal vestida, minhas roupas eram todas do dia a dia, não havia nenhuma que correspondesse ao lugar que ele queria entrar, e eu também não gostava de lugares assim, as pessoas te julgavam com olhar de superioridade.

— E o que tem? Vai comer ou desfilar? — Debochou.

Fechou sua porta e caminhou, esperando que eu saísse também, mas do jeito que eu estava, continuei, não iria entrar ali de modo algum.

Ao ver que não o acompanhava, Oliver olhou para trás, colocou a mão na testa como se estivesse sem paciência, e voltou até o carro, vindo para a porta do lado do passageiro.

— Por que não desceu?

— Nós não podemos comer em outro lugar? Por favor, não gostaria de ver pessoas me olhando com cara de altivez.

— Estarei te acompanhando, ninguém fará isso com você comigo ao seu lado.

— Mesmo assim, prefiro almoçar em um lugar mais simples.

Estava morrendo de vergonha, Oliver estava todo arrumado, era só olhar para ele, para perceber ser alguém da alta sociedade, e sinceramente, eu, coitada! Não é me desvalorizando não, mas estou dezenove quilos mais magra do que o normal, então minha aparência não estava a mais agradável, fora que esses lugares as pessoas te julgavam muito, apenas com o olhar, e era meu aniversário, queria que o dia fosse leve.

— E aonde quer ir então? — Perguntou. Vendo que eu não me moveria daquele carro de modo algum.

— Não sei, eu não conheço a capital, mas lembro que quando cheguei aqui, comi numa barraca de comida na rodoviária, e o almoço era uma delícia!

Sorri lembrando da senhora que me indicou ir à fazenda São Caetano procurar emprego, seria ótimo vê-la e agradecer por ser tão boazinha comigo.

— Barraca de comida! Sério? — Entrou no carro, e deu partida. — Vamos fazer assim, nem aqui, nem lá, vamos em outro lugar, que sei que você gostará.

Oliver dirigiu por uns quinze minutos, e logo chegamos a outro restaurante. Diferente do outro, esse parecia mais simples, mas não perdendo a elegância, desci do carro e entramos no local, fomos atendidos super bem, por um rapaz que nos levou a uma mesa, que ficava de frente a uma imensa janela de vidro. Logo olhei o cardápio e pedi algo, Oliver já havia pedido quando se sentou, a meu ver, ele já frequentava este lugar e conhecia o cardápio, após anotar meu pedido, o garçom saiu nos deixando as sós. Ainda bem que havia a janela para observar a paisagem, mas isso não impedia de sentir o homem sentado a minha frente me queimando com seus olhos.

— Como o Noah está? — Perguntei fingindo não perceber seu olhar.

— Bem. A noite ele choramingou um pouco, mas o coloquei comigo na cama e ele voltou a dormir.

— Vocês dormiram juntos? — Perguntei desacreditada.

Oliver me deu um olhar mortal e depois olhou para a janela, percebi que não queria tocar no assunto, ele estava tentando se ajeitar com o filho, então deixei quieto, para não lhe causar constrangimento.

Também fiquei olhando para a paisagem, de longe via algumas casas e prédios e depois não via mais nenhuma construção, o que me deixou curiosa.

— Por que não há mais prédios nem nada para aquele lado?

Ele voltou o olhar para mim.

— Porque ali é o mar!

De repente, meus olhos brilharam e meu coração queimou, eu não imaginava estar tão perto da praia assim, amaria conhecer o mar, seria um sonho poder conhecer a praia, ainda mais no dia do meu aniversário.

— Quando formos embora, podemos passar perto da praia?

— Não há necessidade, não é caminho nosso!

— Ah! — Me senti triste, mas não quis insistir, seu humor em estragar as coisas já era demais para mim.

— O que foi? Tem alguma coisa que queria por lá? — Perguntou desdenhando.

— Não. Eu só queria ver o mar.

Oliver deu uma revirada de olho, desprezando o que eu disse, eu iria criticá-lo, mas o garçom trouxe nosso pedido.

Após nos servir, saiu, então comecei a comer e ignorar o homem que estava à minha frente, comendo sua refeição sem tirar seus olhos de fogo de cima de mim.

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