Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 9

No quarto, comecei a pensar na situação em que havia me metido. Estava sozinha no mundo, morando na casa de um homem totalmente desconhecido, longe da cidade e cuidando de um bebê que eu não tinha ideia de quem era a mãe. Não teria mais um salário e estava sendo vista como mentirosa pelo meu patrão. Eu não poderia mais ficar ali, não havia motivos. Comecei a arrumar minhas poucas coisas na bolsa quando o Noah começou a chorar, o peguei no colo e vi que estava ardendo em febre, peguei um remédio dentro da farmacinha que eu havia feito, dei a ele e depois dei um banho, esperando que a febre baixasse.

Eu não havia tomado café da manhã e muito menos almoçado, decidi que não iria comer nada naquela casa, para que Oliver não pensasse que estaria ali apenas pela comida e pelo abrigo. Certamente, ficar na casa, mesmo sem receber um real, era mais seguro do que sair à deriva por aí sem ter certeza de como seria dali em diante, mas estava gostando daquele bebezinho e deixá-lo partiria o meu coração.

Mas às cinco da tarde a fome me apertou para valer. Noah parecia melhor, então desci sozinha com a babá na mão, fui à cozinha preparar um lanche rápido para voltar ao quarto. Comi depressa um sanduíche e, quando estava lavando os talheres que sujei, Oliver apareceu na minha frente. Sua cara não era nada boa, estava com a calça jeans cheia de terra e uma jaqueta também empoeirada. Ele sentou-se na cadeira sem tirar os olhos de mim.

— Quero água! — Falou alto e com voz de mandão.

Como naquele momento na cozinha estava apenas eu e ele, vi que a ordem era para mim, pensei em fingir que não o ouvi e o deixaria sozinho, mas não se nega água a ninguém, muito menos ao dono da casa. Peguei um copo no armário e enchi com água gelada, levei até ele e, antes de virar as costas, ele já havia bebido tudo e pedido mais.

“Que folgado desaforado” — Pensei.

Mais uma vez, fui até a geladeira, mas dessa vez peguei a jarra e levei até ele.

— Sirva- se do quanto quiser.

Saí sem dizer mais nada, afinal, eu trabalhava cuidando do filho, não dele, mesmo assim, senti seus olhos me queimarem pelas costas.

Oliver era alto, aparentava ter 30 anos, tinha uma aparência dura, como se fosse amargo. Tirando isso, ele era muito apresentável, aparentemente, para não dizer bonito, já que sua postura e jeito que falava comigo o fazia feio. Não resolvi falar da febre de Noah, pois um pai que não se importa de perguntar pelo filho não é um pai.

Mais uma vez, peguei o termômetro para medir a temperatura de Noah, ele estava febril, mas dormia sem desconforto, deixei-o com roupinhas leves para que não esquentasse mais do que já estava. Alice já havia ficado assim antes e não era caso de ir ao médico, pois o remédio já estava fazendo efeito e ele estava muito bem observado por mim. Eu iria embora, mas só quando ele estivesse realmente bem.

A noite, umas dez e pouquinho, senti fome outra vez. Havia cochilado um pouco ao lado de Noah, então acordei e ia para a cozinha, quando vi que ele estava quente e fazendo barulhinhos como se fossem gemidos. Levantei mais que depressa, vi que sua temperatura havia subido e ele estava ficando roxinho. Do jeito que eu estava, o enrolei numa manta, peguei sua bolsa e saí do quarto, procurando alguém para me levar ao hospital. Oliver estava deitado no sofá, o chamei imediatamente, mas ele não parecia me ouvir. Do seu lado, havia duas garrafas de whisky vazias e ele dormia com um copo na mão.

— Que droga, acorda, seu imbecil! Seu filho está quase tendo uma convulsão! — Chutei suas pernas, mas ele apenas virou para o outro lado e continuou dormindo.

Meus chamados foram totalmente ignorados, não havia mais ninguém na casa, os empregados haviam ido embora e Joaquim já havia ido para a Vila. Me lembrei de que não tinha o número dele para contatá-lo e chamar uma ambulância seria fora de cogitação, já que a fazenda era muito longe da capital. Saí pela porta da frente e o único jeito era ir correndo com o bebê nos braços até a vila, onde chamaria alguém para me levar ao hospital.

Noah continuava a gemer e meus olhos enchiam de lágrimas. Corria em direção à estrada que levava à vila, com ele no colo com todo o cuidado do mundo, quando em minha direção vieram faróis de carro. Gritei imediatamente para que a pessoa que estava dirigindo parasse para me socorrer. Quando me aproximei, vi se tratar de Saulo.

— O que houve com o Oliver? — Perguntou preocupado.

— Não é ele, é o Noah, ele está com muita febre e está ficando com a boquinha roxa, acho que é início de uma convulsão, por favor, me leve ao hospital!

Saulo ordenou que eu entrasse no carro imediatamente.

— Coloca o sinto e o segura bem, vou correr para chegarmos ao hospital o mais rápido possível.

O médico encarou Saulo, esperando uma resposta dele, que afirmou com a cabeça, para o médico fazer exatamente o que eu acabava de falar.

Após uma enfermeira chegar e ficar ao lado de Noah, fui para o corredor procurar um bebedouro. Estava morrendo de fome e sede, todo aquele acontecimento me fez ficar muito mal, estava bebendo água e percebi que minhas mãos tremiam muito.

— Por que você está tremendo tanto?

Saulo apareceu atrás de mim como um fantasma, e viu que eu olhava para as minhas mãos.

— Nada.

— Você estava preocupada com o Noah?

— Mas é claro, como não se preocupar, você viu a situação em que ele estava? Tão pequeno e tão frágil. — Nessa hora, não consegui me segurar e comecei a chorar feito criança. Saulo pegou outro copo de água para mim e pediu que eu me sentasse numa cadeira que estava próxima.

— Ele está melhor agora, não se preocupe. — Me encarou e continuou: — O Oliver acertou em te contratar como a babá do menino.

— É, mas vou embora amanhã.

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