Christian Müller –
Segui o médico em silêncio por aqueles corredores gelados que pareciam não ter fim.
O médico parou diante de uma sala e respirou fundo antes de se virar. Aquela expressão que ele tentou suavizar... eu conhecia. A gente aprende a reconhecer o peso das palavras antes que elas sejam ditas.
— Senhor Müller... — ele começou, hesitante. — Me desculpe. Norma sofreu uma morte cerebral. Não temos mais o que fazer.
Por um segundo, o tempo parou. Eu não senti alívio. Nem raiva. Nem paz. Senti nada. Era como se meu corpo não soubesse mais como reagir. Como se até a dor tivesse cansado de mim.
— Precisamos da sua autorização para a doação de órgãos. É um procedimento necessário... e, em casos assim, cada minuto conta.
Virei o rosto para ele. Meus olhos estavam secos, mas havia uma tempestade dentro de mim, presa. Uma fúria contida, misturada com um cansaço que não tinha nome.
— Por mim, o senhor não pegaria os órgãos dela. — Falei com a voz rouca, quase em um sussurro, mas firme como uma sentença. — Ela fez tanta maldade nessa vida... que é capaz de contaminar quem os receber.
O médico piscou, surpreso. Mas não respondeu.
Dei um leve tapinha no ombro dele, um gesto mais de fim do que de consolo.
— Não quero carregar essa decisão. Faça o que achar melhor... profissionalmente. O que for certo, mas, se fosse por mim, ela seria enterrada inteira. Queimada de preferência.
Me afastei da sala sem olhar para trás. Se Norma tivesse sobrevivido... eu teria garantido que ela fosse esquecida em algum hospital, isolada de tudo, como ela deixou tantos outros: quebrados, abandonados, despedaçados.
E nem isso ela conseguiu enfrentar. Fugiu do próprio destino. E agora cabia a mim seguir em frente.
Estava prestes a sair daquele corredor quando vi uma figura familiar à porta.
O delegado Will me esperava, braços cruzados, expressão séria. Seus olhos não carregavam julgamento, apenas a dureza de quem carrega verdades difíceis.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Casamento Secreto com o meu Chefe