Christian Müller –
A manhã começou diferente. Sem pressa, sem tensão.
Acordei com os sons da casa viva — risadas, passos correndo pelo piso de madeira, o cheiro de café fresco no ar e choro de bebê.
Desci as escadas devagar, ainda me adaptando ao contraste da noite anterior.
Na cozinha, Dominic e Nathan estavam na ponta da mesa, brincando de alguma coisa que parecia mais bagunça do que qualquer jogo real.
Amanda estava sentada na cadeira, balançando Tereza nos braços com aquela paciência infinita que ela parecia ter nascido sabendo exercer.
Laura, minha Laura, tomava café, tentando ignorar o sermão de Amanda, que a mandava comer direito se quisesse continuar amamentando bem.
Não havia brigas. Não havia discussões.
Só... paz. A paz do nosso jeito.
Me encostei no batente da porta, cruzando os braços e observando a cena por um momento, sem querer interferir. – Era aquela cena que todo Homem espera encontrar quando volta para o aconchego do seu lar.
Aquela família sempre esteve ali. O tempo todo. Mesmo quando eu, teimoso, me recusava a enxergar.
Eu estava preso nos meus pensamentos, quando Amanda me viu primeiro.
Ela franziu as sobrancelhas e sorriu de leve.
— O que foi? Sua cara me dá medo — brincou ela, ajeitando Tereza no colo.
Sorri também. Sem pressa.
Me afastei da porta e caminhei até a mesa, me sentando ao lado de Laura, a puxando para um abraço apertado.
Ela riu baixinho, se acomodando no meu peito.
Respirei fundo, como se guardasse aquele momento no peito e então encarei Amanda.
— Eu estava aqui pensando... — comecei a falar, sentindo todos os olhos da mesa voltarem para mim — Eu não consigo mais imaginar a gente vivendo separados. Você é amiga da minha mulher, namorada do meu amigo e minha assistente.
Olhei para Dominic e completei, com um sorriso discreto
— E você... por mais que tenha tentado me talaricar, ainda teve consciência e é meu amigo.
Dominic bufou rindo, balançando a cabeça em negação enquanto Nathan gargalhava sem entender nada do que eu dizia.
— Não consigo imaginar a gente sem essa sintonia pela manhã — finalizei.
Laura riu, mexendo na minha mão sobre a mesa.
— Eu também não. — Ela disse, olhando em volta — É como se tivéssemos o mesmo sangue.
Amanda sorriu, olhando de Laura para Dominic, e então falou como quem solta algo que guardou por muito tempo:
— Eu não sei se alguma vez já comentei... — ela deu de ombros, ajeitando Tereza com cuidado — mas é que esse assunto é meio irrelevante, por isso não falo. Eu sou adotada.
Fiquei quieto. Sempre soube disso. Desde que éramos crianças, carregávamos verdades que nunca precisaram ser ditas em voz alta entre nós.
Laura arregalou um pouco os olhos, mas logo sorriu boba, encarando Amanda e Dominic.

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