Christian Müller-
Saí do quarto sem dizer uma palavra, minha mão ainda segurando a dela.
Não olhei para trás, não soltei, não hesitei. O corredor frio e estéril do hospital parecia estreitar ao nosso redor, mas minha mente estava longe dali.
Meu filho.
Nathan me chamou de pai; aquela sensação era única.
Ainda estava processando aquilo. Ainda sentia o impacto daquelas palavras reverberando dentro de mim, desarmando cada camada de raiva e frieza que eu ergui nos últimos dias.
Quando chegamos ao fim do corredor, parei. Soltei Laura com cuidado, sem encará-la de imediato. Meu olhar ficou preso na parede à frente, minha mandíbula tensa, meus punhos cerrados ao lado do corpo.
— Ele é incrível. – Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava.
Laura não respondeu de imediato.
— Sim. — Ela murmurou. — Ele é.
Virei lentamente o rosto para ela. Pela primeira vez, não havia ódio no meu olhar. Nem fúria. Nem ressentimento.
Só exaustão. E algo que eu não conseguia explicar.
— Ele… — Respirei fundo, fechando os olhos por um segundo. — Ele não ficou surpreso ao me ver.
Laura hesitou antes de responder.
— Eu nunca quis que ele te odiasse.
Algo dentro de mim vacilou.
— Você… — Minha voz falhou e eu precisei umedecer os lábios antes de continuar. — Você falava de mim para ele? Mesmo depois de tudo?
Ela assentiu, me deixando ver seus olhos marejados. Ela chorou?
— Ele sempre perguntava. Eu não podia mentir. – Disse ela, com um timbre de voz baixo.
Um nó apertou minha garganta.
Pisquei, desviando o olhar por um instante.
Eu deveria odiá-la. Deveria sentir raiva, rancor.
Mas naquele momento, tudo que senti foi um vazio inexplicável.
Porque, apesar de tudo, meu filho sempre soube que eu existia.
— Ele disse que você falava que eu era um vidente.
Laura riu baixinho, desviando o olhar por um momento.
— Eu disse que você era inteligente. Ele que aumentou a história.
Algo parecido com um sorriso puxou o canto da minha boca, mas desapareceu tão rápido quanto veio.
O silêncio entre nós se estendeu.
Então, eu encarei Laura novamente.
— Isso muda tudo.
Ela prendeu a respiração.
— O quê?
— Eu não vou deixar vocês irem embora.
O choque cruzou seu rosto, mas eu não esperei para ver sua reação completa.
O médico assentiu.
— Não se preocupe, ele está em boas mãos. – Disse ele, se retirando em seguida.
Laura soltou um suspiro trêmulo ao meu lado, e mesmo sem olhá-la, senti seu corpo relaxar levemente.
O silêncio pairou entre nós.
Eu não sabia o que dizer. Ainda havia tanto dentro de mim — mágoa, raiva, dúvida — mas, ao mesmo tempo, nada disso parecia importar tanto quanto o fato de que Nathan tinha uma chance.
Laura se virou para mim, hesitante.
— Obrigada. – Disse ela com a voz baixa, mostrando alívio.
Minha mandíbula se contraiu.
Eu deveria dizer que ela não precisava me agradecer? Que esse era meu dever como pai?
Mas não disse nada. Apenas a encarei por um longo momento antes de soltar um suspiro.
— Ele vai ficar bem. — Minhas palavras saíram mais baixas do que eu esperava.
Laura assentiu lentamente, e pela primeira vez em anos, nós dois parecíamos estar do mesmo lado.
Fomos juntos até a UTI e enquanto cada um estava encostado em um lado da porta, meu olhar vacilou.
Ivy. Laura. Eram a mesma pessoa, mas tenho que confessar que, todos esses anos, tudo o que ela passou cooperou para ela ter se tornado uma mulher mais afiada e mais interessante.
Laura combinava mais com ela. – Pensei enquanto a olhava e de repente, os olhos azuis da mulher, vieram até os meus, fazendo com que um sentimento antigo despertasse.
Algo avassalador que me desarmou por completo.
Será que não estava na hora de eu abaixar minhas armas e tentar me aproximar um pouco?

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