Brandon
Estava preocupado com minha irmã e com Evelyn. Claro que estava.
Mas ver a Alessa baleada me tirou totalmente do eixo.
Segui com ela na ambulância, junto com Enzo. Chegamos ao hospital e bastaram algumas palavras dele para que Alessa tivesse o melhor atendimento. Enquanto aguardávamos notícias, ele e eu não trocamos uma palavra. Nem mesmo olhares.
Não demorou muito para o médico vir ao nosso encontro e relatar o estado dela.
O tiro foi no ombro e atingiu um vaso sanguíneo superficial, o que causou uma hemorragia significativa. Por isso todo aquele sangue, que me deixou desesperado ao ponto de eu nem conseguir identificar onde ela havia sido atingida.
O médico explicou que o disparo não atingiu nenhum osso importante nem nervos vitais. Que eles contiveram a hemorragia, fizeram a limpeza e o desbridamento da ferida e colocaram um curativo. Em alguns minutos, alguém viria nos levar até o quarto.
E foi exatamente o que aconteceu. Assim que entramos, lá estava ela. Olhos fechados, o rosto levemente pálido, mas ainda assim... era uma das mulheres mais lindas que já conheci.
Me aproximei dela, mas antes que meus lábios encontrassem os dela, Enzo me puxou.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou, irritado.
— Dando um beijo na minha mulher. — respondi no mesmo tom.
— Sua mulher?
— Sim. — rebati. — Minha mulher.
Nesse momento, ouvimos Alessa gemer. Enzo correu para o seu lado, e eu segui para o lado oposto.
Se esse maldito italiano acha que vai me afastar dela, está muito enganado.
— Mia bambina... — ele disse, dando um beijo em sua testa.
— Ciao, fratello... — ela respondeu, com a voz levemente arrastada, provavelmente efeito da medicação.
Então ela se virou para mim. Seus olhos cinza encontraram os meus. Ela esticou a mão para que eu pegasse, e assim que a toquei, um alívio me tomou.
Minha garota estava bem.
Levei sua mão até meus lábios e dei um beijo suave.
— Ciao, tesoro... — ela disse, e eu sorri com a forma carinhosa que me chamou.
Abaixei meu rosto até o dela, encostando nossos lábios. Quando nos separamos, a encarei e sussurrei:
— Oi, baby.
Ela levou uma das mãos ao meu rosto. Encostei minha testa na dela e soltei um suspiro de puro alívio.
Eu tinha acabado de perder minha mãe. Se perdesse Alessa também... a vida não teria mais sentido para mim.
Porque ela foi a única mulher que me viu como eu realmente sou: sem máscaras, sem mentiras, cheio de marcas e sem nenhuma tentativa de ser perfeito.
E mesmo assim... ela decidiu ficar.
— Já te disse para se afastar da minha irmã, Anderson. — Enzo disse, me arrancando daquele momento.
Me afastei dela e o encarei.
— Acho que essa decisão não cabe a você, Mancini.
— Não me provoque, nem me desafie, Anderson. Você até agora só me pegou nos meus dias bons. — Ele prendeu os olhos nos meus. — E garanto que não vai querer me ver nos meus dias ruins.
Ficamos ali, naquele impasse. Ele esperando que eu cedesse, enquanto eu só queria deixar claro que nem o diabo me tiraria de perto dela.
Ouvimos batidas na porta, e logo Giuseppe entrou.
— Don. — disse ele a Enzo, que fez sinal para ele continuar.
— Chen me ligou e passou as informações que Sterling conseguiu com o Black.
Tanto eu quanto Enzo ficamos atentos ao que ele dizia.
— Parece que Robert Anderson tem um clube em Dubai... clandestino. — Giuseppe parou por um instante. — Ele é corretor de mulheres.
— Cosa sta dicendo? — perguntou Enzo, mas eu não precisava que Giuseppe respondesse. Eu já sabia a resposta.
— Tráfico humano. — falei antes que ele continuasse.
— Na verdade... — começou Giuseppe — Ele só vende mulheres. Sterling descobriu que era isso que ele queria com suas bambinas.
Soltei a mão de Alessa bruscamente.
— Ele vendeu minha irmã? — perguntei em um tom mortal.
— Ela... e a senhorita Parker.
— Como ele ousa? — Enzo perguntou, a voz tomada de fúria.
— Parece que ousadia é seu nome do meio, Don. Vemos o que ele fez com a bambina Alessa.
Por um instante, eu me esqueci de onde estava. Senti minhas mãos tremerem. E as vozes, que eu vinha afastando a noite inteira, começaram a gritar dentro de mim.
— Qual o problema, Anderson? — perguntou Enzo, mas foi Alessa quem respondeu.
— Nos deixe a sós, fratello. — ela disse ao irmão.
— De jeito nenhum. — ele retrucou com autoridade. Mas eu estava focado em não surtar, e decidi ignorar a discussão deles.
Fechei os olhos, já sentindo que nada ia adiantar. E se eu surtasse perto de Enzo, aí que ele faria de tudo para me afastar dela.
Senti mãos pequenas, mas firmes, em meu rosto.
— Respira fundo, amor... — ela disse, com a voz suave. — Olha pra mim. — pediu, e foi exatamente o que fiz. Abri meus olhos e encontrei os dela. — Eu tô aqui.
Alessa encostou os lábios nos meus.
Envolvi meu braço em sua cintura e a puxei para mim. Enterrei meu rosto em seus cabelos, enquanto ela me abraçava.
— Eu sinto muito... — ela sussurrou, ainda abraçada a mim. — Por tudo... por sua mãe, pela Jordan. — Ela se afastou um pouco. — E até por ele...
Sem aviso, eu a puxei para um beijo.
O beijo não foi suave.
Nem poderia ser.
Era o tipo de beijo que só nós dois sabíamos dar.
Cheio de tudo que não cabia mais dentro da gente.
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